13. Cheers, brother

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Narrado por Joe.

Caminhei carregando o fardo de cerveja pela pequena trilha que tinha entre o corredor de túmulos. Não olhava as lápides, pois já sabia muito bem o caminho até meu destino. Quando cheguei, retirei as folhas secas, as joguei em algum canto e me sentei na grama, ao lado da lapide do meu melhor amigo. Abri a primeira garrafa, tomei um gole, e olhei a lápide.

- Saúde. –falei antes de virar um pouco de cerveja na grama do seu tumulo-

Dei mais um gole e então suspirei, olhando em volta. Era sábado de manhã, e eu era o único ali. O único vivo, quero dizer. Havia começado a beber bem mais cedo, para tentar acabar com os malditos pensamentos que estavam na minha cabeça.

- Quando... –comecei a falar- Quando tínhamos dezesseis anos, eu era afim de uma garota chamada Susan. Eu sempre falava dela para você, Colin, e você sempre me encorajava a falar com ela, chama-la para sair. Teve essa vez que nós brigamos e ficamos uma semana sem nos falar, lembra, Colin? Teve essa festa e eu não fui porque estava muito chateado com você. Era de madrugada quando eu acordei com você batendo na minha janela. Eu abri a janela e você me olhou chorando e disse "Eu beijei sua garota, me desculpe, irmão". –eu falei e ri, bebendo mais um pouco de cerveja- Eu lembro que eu coloquei você para dentro do quarto, dei café para você e você dormiu. Quando amanheceu eu já havia te perdoado. –eu falei e olhei sua lapide- Eu beijei sua garota na noite passada, Colin. E isso foi pior do que você fez, porque Demetria é sua noiva. Eu beijei sua noiva na noite passada. –eu falei e fechei meu sorriso- Me desculpe, irmão. Não por ter beijado Demetria. Me desculpe por não conseguir me arrepender de ter feito isso. –eu falei e virei mais um pouco de cerveja na grama do seu tumulo- Eu sei que não devia ter beijado sua noiva, e sei que devia ter me arrependido, mas eu não consigo. –falei e tomei mais um gole- E vou dizer o mesmo que eu disse a ela. Eu nunca desejei sua noiva quando você estava aqui, Colin. Nunca olhei Demetria desse jeito antes. Mas agora eu não consigo evitar. E eu sei que quando você me disse para cuidar dela você não estava querendo dizer para eu beijar ela e para eu desejar ela. Você queria que eu cuidasse dela. Eu entendi essa parte, mas... Mas eu não imaginava que eu ia olhar para ela. Digo, realmente olhar, entende? Eu nunca havia olhado Demetria antes. E ela é sua noiva. Isso é tão errado.

- Você vai continuar jogando cerveja na grama, rapaz? –ouvi e pulei, virando para trás-

- Puta merda! –gritei e o senhor na minha frente soltou uma risada, segurando uma pá de jardinagem- Puta merda! Você quer me matar do coração? –eu gritei novamente e coloquei a mão no peito-

- Não. Sinceramente não quero. –ele deu de ombros- O que faz aqui? Pelo menos conheceu a pessoa ai de baixo? –ele perguntou e eu respirei fundo, soltando a garrafa-

- Sim. É meu melhor amigo. Era. Era meu melhor amigo. –murmurei e olhei para a lápide- Escuta, cara, você não pode fazer essas coisas. Aparecer assim do nada na porra de um cemitério. Em qualquer outro lugar, beleza. Mas não em um cemitério. Isso é maldade. –eu falei e ele riu, balançando a cabeça-

- Se ele era seu melhor amigo, porque ele ainda é o noivo da garota que você beijou? –ele perguntou e eu ergui minhas sobrancelhas-

- Estava ouvindo a minha conversa? –perguntei-

- Não. Porque não era uma conversa. Era só você falando sozinho. Estava ouvindo você falar sozinho –ele deu de ombros-

- Isso é falta de respeito, sabia? –eu falei e ele sorriu-

- E você jogando cerveja na grama que eu cuido é o que? –ele perguntou e eu revirei os olhos- Você não respondeu minha pergunta. –ele disse- Se ele não é mais o seu melhor amigo, porque ele ainda é o noivo da garota que você beijou? –ele perguntou e eu me encolhi-

- É complicado. –eu falei e ele suspirou-

- Sempre é, rapaz. –ele sorriu- Você beijou a menina a força? Ela não quis? –ele perguntou e eu me encolhi-

- Quis. Quer dizer, ela não quis de fato, mas ela correspondeu. –eu falei e peguei em outra cerveja- Como eu disse, é complicado. –eu falei-

- A vida é complicada. Mas a morte é mais simples do que você imagina. –ele disse e pegou a garrafa da minha mão, bebendo um gole- Vai ser falta de respeito sim, mas eu vou explicar uma coisa para você. Seu melhor amigo, rapaz, não está mais aqui. Aqui em baixo é só um corpo, entende? Ele não sente mais, não pensa mais. O que restou dele são lembranças. Se ele é uma lembrança, ele não pode ser traído, não é? Vai ser complicado, mas você não pode vir aqui e pedir desculpa, sendo que ele não está ouvindo. Não tem para quem pedir desculpa. Exceto se você acha que precisa pedir desculpa para a garota. Mas não para o seu amigo. –ele disse e eu fiquei o olhando-

- Porque está me explicando isso? –perguntei, ainda digerindo tudo o que ele falou-

- Porque eu vejo muitas pessoas que não entendem a morte. Você é uma dessas pessoas. –ele falou e tocou meu ombro- E porque não quero que você estrague a grama com cerveja. –ele disse e eu sorri de leve-

- O senhor trabalha aqui? –perguntei e ele sorriu-

- Sim, rapaz. Sou o jardineiro. Não sou um fantasma conselheiro e bondoso. –ele riu e eu sorri mais ainda- Visitantes de cemitério tem uma imaginação... –ele resmungou balançando a cabeça- Tenha um bom dia, rapaz. Não beba tanto. São 10hs da manhã ainda. –ele disse e se afastou, caminhando pela mesma trilha que eu havia caminhado-

- Tenha um bom dia também. –falei e olhei a lápide-

Como o senhor havia levado minha cerveja, peguei outra garrafa e a abri. Virei um último gole na grama e sorri bebendo um pouco.

- Saúde, irmão. –falei sorrindo-

 –falei sorrindo-

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Postei antes do que deveria por motivos de: Não me aguentei mesmo! kkkkk Espero que estejam gostando <3

Stay with me [JEMI]Onde histórias criam vida. Descubra agora