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Chego, tempo depois, a casa onde mantinhamos a rapariga. Estacionei o carro e entrei pelas traseiras.

-O que é que ela tem? - Pergunto ao Martins assim que entro.

- Ela diz que está zonza e que tem frio. Momentos depois, já dizia que estava com calor! - ele disse - Ainda não abri a porta.

-Devias ter ido lá! - Repreendo. - Não me digas que deixavas uma miúda fugir... - Reviro os olhos.

Vou até lá e abro a porta indo até ela. Sento-me na cama e ela vira-se.

-Acho que tenho febre... - Ela geme fraca, levo a minha mão à sua testa.

-Estas a arder... - Digo preocupado. - Vou buscar algo para tomares para baixar a febre.

- Traz-me água - ela pede, antes de eu sair - Eu tenho sede.

-Trago já... Aguenta um pouco. - Peço e saio fechando a porta. - Irresponsável! - Acuso Martins dando um pequeno empurrão. - Ela está a arder em febre, ja devia ter tomado algo!

- Wow, calma, puto! Eu não sabia, okay?! Ela já fugiu uma vez, podia ser só a fingir! - ele responde irritado.

Vou buscar um comprimido e um copo com água para ela. Abro a porta e ela encontrava-se na mesma posição fetal. Aproximo-me e ajudo-a a sentar.

-Toma isto, vai baixar a febre. - Digo dando-lhe o comprimido e a água.

- Obrigada... - ela murmura, antes de tomar o comprimido. Depois, entrega-me o copo, apesar de não me encarar. Os olhos dela são muito bonitos, não consigo evitar pensar nisso.

-Queres uma manta mais quente para te tapares? - Pergunto.

- Sim, eu tenho frio... - ela assentiu, esfregando os braços.

Volto a sair do quarto deixando a porta aberta e corro até à sala. Quando regresso ela encontra-se no mesmo sítio, não tentou fugir.

-Aqui tens. - Tapo-a.

- Obrigada... Eu já ti-tinha pedido, mas não me tinham ouvido - murmurou, envorgonhada, com receio de falar.

-Não precisas de ter medo de mim... - Eu digo. - Eu não te vou fazer mal...

Foi aí que ela subiu o olhar para mim. Encarei os seus olhos bonitos, receosos, que tremiam com medo.

- O teu... nome... - ela pediu, quase num sussurro.

-André, o meu nome é André! - Digo-lhe baixinho.

- Sou a Eduarda, mas acho que já sabes - ela sorriu. Um sorriso sincero e tênue. Sorri de volta, ajeitando a manta à volta dos seus ombros.

-Sim, ja sabia! - Admito rindo. - Queres comer algo?

- Não, eu não tenho muito apetite. Só te peço que me tragas uma garrafa de água - ela assentiu, levemente - Mas, não precisas de ir já

Espera! Ela queria-me ali!?

-Podes ficar aqui comigo um pouco? - Ela pediu.

- Eu... Po-posso. - assenti, gaguejando - Podes deitar-te, eu não vou embora antes de adormeceres.- Murmurei. No entanto, quando menos esperava, ela deitou a cabeça no meu ombro - É que eu... Quando tenho febre alta, tenho alucinações, às vezes. E não quero estar sozinha.

-Eu fico contigo, não te preocupes! - Digo envergonhado com o seu gesto. - Podes dormir descansada!

- Obrigada, André... - a maneira com que ela falou o meu nome afetou-me estranhamente. Ela deitou-se enrolada na manta e eu tapei-a com os outros cobertores.

Complicated | André Silva Onde histórias criam vida. Descubra agora