Cheguei a casa finalmente e deixei-me cair na cama a encarar o teto branco. Não sei que fazer... Nem eu própria consigo lidar com isto devido ao choque, como iria ele reagir?
Pego na minha mala donde tiro a fotografia da ecografia.
Fico deitada na cama a olhar para a foto sem saber o que fazer.
- Eduarda, posso entrar? - ouço uma voz e a porta abre-se sem que eu possa esconder a foto. Era o Miguel!
- Mi...Miguel? - olho o rapaz, colocando a fotografia atrás das costas.
-Olá! - Ele diz beijando a minha bochecha. - Como estás? A tua mãe disse que tens andado doente... Fiquei preocupado.
- Eu... estou um pouco melhor.... - gaguejei, atrapalhada, observando o rapaz, mantendo a fotografia escondida atrás de mim por segurança.
-Pensei que talvez quisesses vir lanchar... Queres? - Ele convida envergonhado.
- Eu... bem, hm... - sinto um sabor amargo na boca, perdendo a conta das vezes que quase me dera vontade de vomitar naquele dia graças ao ser pequeno que crescia dentro de mim. Tentei arranjar uma desculpa para me esquivar ao convite - Desculpa, Miguel, eu estou cansada e acordei com dores de cabeça. Talvez noutro dia. - Desculpa, Miguel... a sério... - falei, notando que ele se preparava para insistir - Não vai dar mesmo.
Discretamente, meti a fotografia debaixo da almofada e levantei-me da cama, olhando as horas no despertador.
- Aliás, eu vou ver o André à prisão esta tarde - adicionei.
- Como é que ainda és capaz do ir visitar? Ele raptou-te, Eduarda!
- Eu amo o André! E estou farta de ouvir toda a gente falar mal dele à minha volta! - respondi, irritada.
-Calma Eduarda... Desculpa... - Ele diz. - Foi mais forte que eu... Sabes que ainda gosto muito de ti...
Baixo o olhar e brinco com os dedos. Sinto o rapaz aproximar-se de mim e abraçar-me.
- Deves estar a sofrer bastante... - ele murmurou, afagando as minhas costas.
- Tenho saudades... Ele não merece estar naquele lugar - desabafei, sentindo algum conforto naquele abraço.
O silencio apoderou-se do quarto, um silêncio constrangedor. Era estranho ele estar ali depois do que aconteceu.
-E tu, como tens andado? - Pergunto.
- Normal... Atarefado com o curso e principalmente preocupado contigo - ele afaga os meus cabelos.
Olho as horas no despertador. Tinha de me despachar para ir à prisão.
- Disseste que vais à prisão... Queres que te leve?
-Hm... Não sei Miguel... - Respondo. - Eu apanho um táxi, se calhar é melhor...
- Por favor, aceita... Eu fico no carro à tua espera - o rapaz insiste, atencioso.
- Não, Miguel... a sério... - neguei, afastando-me dele.
-Tens a certeza? - Ele começa a dar-se como derrotado.
-Sim, prefiro ir sozinha... Dá para pensar durante a viagem! - Respondo. - Mas obrigada na mesma!
- De nada! - sorri levemente - Sabes que podes contar comigo para tudo. Apesar da nossa relação ter terminado, eu... dou imenso valor à nossa amizade, Eduarda - declarou, antes de beijar a minha bochecha e sair do quarto.
Fiquei sozinha. Calcei-me, peguei num casaco, na mala e saí a pé até à praça de táxis mais próxima.
Tempo depois, encontrava-me dentro do estabelecimento prisional, escoltada por vários guardas até sala privada. Eles abrem me a porta para poder entrarA sala era escura, de paredes cinzentas, apenas com uma luz no teto, insuficiente para cobrir toda a divisão.
Havia uma mesa, com duas cadeiras ao centro. Na que estava de costas para mim, pude ver alguém debruçado sobre a mesa. Era ele. Era o meu André.
- André... - sibilei com receio de o encarar, sobretudo pelo segredo que guardava desde aquela manhã
O moreno encara-me e levanta-se abrindo os seus braços para onde eu saltei sem pensar duas vezes, sendo rodeada pelos seus quentes braços. Que saudades que eu tinha dos seus abraços, do seu cheiro, do seu calor...
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