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-Mas era o André que a prendia naquela casa e que não a deixava fugir. Ou estou enganado?

-Não não está. - Ela diz firme. - Mas volto a repetir. Eles ameaçavam a família do André e até bateram no irmão. - Repete. -Meritíssimo, posso fazer-lhe uma pergunta?

-Sim, pode. - Ele responde.

-Você apaixonava-se por alguém que o trata mal ou por alguém que o trata bem e faz tudo para o proteger? - Perguntou e ele apenas ficou a encara-la. - Eu apaixonei-me pelo modo como fui e sou tratada, com amor, carinho, protecção... Foi tufo o que eu recebi da parte do André enquanto estava naquela casa.

Nós íamos conseguir! O advogado estava a perder a razão!

- Mas, isso não elimina a participação do arguido em negócios ilegais!

-Não sabe a verdadeira razão de ele ter entrado nesses negócios. - Ela defende-me. - São negócios em que ha consequências se quiserem abandonar. - Ela diz. - Ele não conseguia sair daquela vida com medo que fizessem mal à família! - Reforça. - Você tem família?

-Tenho. - O Advogado responde.

-E não faria tudo para os proteger? - Ela pergunta encarando intensamente o advogado.

- Obrigada, senhor juiz. Não tenho mais nada a dizer - o advogado de acusação diz sem responder a minha namorada.

Olhei a Eduarda que continuava firme e com uma postura vitoriosa perante o "baile" que deu ao advogado contratado pelo seu pai.

O pai dela encarava-me furioso. Eu ia sair dali ileso e ia ficar com a Eduarda, quisesse ele ou não! Foi então que vi entrar na sala o idiota do ex-namorado da Eduarda que se veio sentar no lugar ao lado dela.

Ele olhava-me provocando discretamente. Cerro o pulso e tento manter a calma, até porque ela não lhe da muita conversa. Olho o meu advogado que se preparava para intervir para convencer os presentes da minha inocência.

-Senhor Doutor juiz, depois das declarações da vítima podemos concluir que o meu cliente é inocente no sentido que sempre quis proteger a Menina Eduarda e a sua família visto que estava a ser ameaçada. - Ele diz.

Eu desejava que o juiz aceitasse a minha inocência tal como o grupo de pessoas que também contava para a decisão final.

-Peço que aguardem um pouco enquanto me reúno com os meus colegas para decidir aquilo que vai ser o futuro do arguido André Silva. - Ele levanta-se. - Com licença. - Diz e retira-se.

Fiquei de olhar baixo, a encarar as minhas mãos. Quando levantei o olhar, deparei-me com o rapaz irritante colado à Eduarda, com o braço à sua volta. Ela parecia incomodada com o sucedido e decido levantar-me porém sou agarrado por dois agentes quando tento chegar à Eduarda.

- Vêem! Este deliquente tem de ser metido atrás das grades! - o pai dela gritava.

-Pai, pare com isso! - Ela defende. - O Miguel é que não para de provocar! - Acusa. - Por isso agradecia que saísses... Por favor... - Ela pede para o rapaz.

O rapaz encarou-a admirado e olhou-me furioso.

- O pai é que devia estar a trás das grades e no entanto está aqui. - Ela diz baixo mas não o suficiente, virou costas e veio até ao gradeamento de madeira que nos separava para estar mais perto de mim. - Desculpa aquilo...

- De nada, amor - ela sorriu

As suas mãos pegaram o meu rosto e trocámos um pequeno beijo, interrompido pela porta da sala do juíz a ser aberta.

- Como juíz desta audiência, uma decisão foi tomada. Peço que todos retomem aos seus lugares para ser lida a sentença.

A Eduarda apressou-se a sentar-se no lugar, tal como eu acompanhado pelos dois agentes.

- De acordo com a constituição e como superior deste tribunal, eu declaro o arguido André Miguel Valente Silva é sujeito a cadeia num período de seis meses por participação parcial no rapto de Eduarda Sofia Gonçalves Vasconcelos e em negócios ilegais relacionado com jogo ilegal, entre outros. A sessão está encerrada!

Olho segundo depois para a minha namorada e reparado que ela ficara em choque e vejo de seguida a sua cara a escorrer lágrimas. A Eduarda encara-me e a vontade de chorar consumiu-me.

São só seis meses... Tento dizer a mim mesmo. Seis meses e tudo ficará bem.

- André, tem de ir. Lamento não ter conseguido fazer mais - o advogado fala.

- Eu... Não posso falar com ela? - perguntei - Com os meus pais e o meu irmão?

-Pode mas tem de ser muito breve... - Ele diz.

Saímos da sala e já no corredor vejo uma figura feminina a correr na minha direção, abro os braços e recebo o seu corpo no meu peito.

- São só seis meses e teremos o resto de todo o tempo do mundo para nós- disse contra o seu cabelo.

-Mas tu não merecias... Eu... Eu não consegui ajudar-te... - Ela choraminga agarrada a mim.

- Hey... Tem calma... Fizeste o que pudeste. Nem sei como te agradecer por tudo, princesa - murmurei, limpando as suas lágrimas - Espera por mim durante este tempo e depois seremos felizes, ficaremos juntos!

Ela fechou os olhos, enquanto eu afagava o seu rosto.

- Eduarda? - chamei, quando ela fez uma cara desconfortável.

- Desculpa... É dor de cabeça. Eu tenho andado com algumas dores de cabeça - ela explicou.

- Dores de cabeça? Mas, foste ao médico? Está tudo bem contigo!? - perguntei, aflito com medo que ela estivesse doente.

-Deve ser do stress e do nervosismo dos últimos dias não te preocupes... - Ela responde.

- Tens a certeza? Vai ao médico com o Afonso. Se precisares, ele acomapanha-te.

- Não te preocupes, a sério- soluçou - Preocupa-me mais a tua segurança, André...

- André, filho! - ouço os meus pais que se aproximam ambos com os olhos encharcados em lágrimas. O Afonso vem mais atrás em silêncio, abatido.

- Mãe... - a Eduarda largou-me para que eu pudesse abraçar a minha progenitora. Deitei a cabeça sobre o seu ombro - Desculpa... Perdoa-me!

- Está na hora! - ouvi um dos agentes falar.

Complicated | André Silva Onde histórias criam vida. Descubra agora