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André pov's

Mais um dia neste maldito quarto, a dor de costas já se torna um hábito devido às terríveis condições da cama. Está a chover lá fora, o que de certa forma me acalma, sempre gostei ao som da chuva. Sento-me na cama e pego a fotografia da Eduarda.

-É a tua namorada? - O meu novo colega de cela perguntou.

- Sim, é a minha namorada. - Sorri para a foto.

Morria de saudades dela. Estamos numa má fase mas não deixava de pensar nela por um segundo que fosse. Guardei a foto de novo debaixo da almofada e fui até ao lavatório que estava no fundo da cela. Lavei a cara com água fria e encarei o espelho.

-Já falou mais, André... - Sussurrei para mim próprio limpando a cara de seguida.

Olhei o espelho baço, sujo, na minha frente. No reflexo, vi dois guardas aproximarem-se da cela e abrirem a porta.

-Foi levantada uma denúncia, vamos ter de revistar a cela! - informaram sem nos dsr tempo de assimilar a informação.

-Denúncia!? Do quê!? Não tenho nada a haver com isso! Vim para aqui ontem à noite - refilou o meu novo parceiro de cela.

-Não sei o que possam estar à procura! - falei, cruzando os braços.

-Houve uma denúncia por posse de droga! - um dos agentes disse sério - Vamos ter de revistar tudo.

-Há vontade! Aqui não há nada disso, não sei porque raio tiveram uma denúncia dessas! - resmunguei, revirando os olhos.

Começaram a revistar o quarto e retiram algo debaixo do meu colchão.

-Quer explicar-me o que faz isto na sua cama? - O agente vem até mim.

-Isso não é meu! - Digo alarmado. - Eu juro... Nunca vi isso na minha vida! Tem de acreditar em mim...

Os dois guardas observaram o pacote que parecia conter um pó branco. Abriram-no e passaram um pouco do conteúdo para uma bolsinha com um líquido que rapidamente mudou para a cor azul.

-É cocaína! - afirmaram.

-Isso não é meu! Eu nunca vi isso na vida! Tem de acreditar em mim!

-Será levado para investigação do processo numa sala particular para averiguar quais serão as consequências sobre a sua pena por posse de substâncias ilícitas.

-Não! Eu não posso ficar aqui mais tempo! - gritei furioso.

-Peço que se acalme e levante as mãos para que possa ser algemado e levado!

-Eu não fiz nada, caralho! - berrei, perdendo o controlo. Mais tempo ali dentro não!

Os minutos passavam e eu continuava ali fechado à espera que alguém viesse falar comigo. Era óbvio que tinha sido tramado. Eu apenas queria sair e ficar com a Eduarda e com a minha família ao meu lado. Bati na mesa com a mão fechada, sentia tanta raiva neste momento. A porta finalmente abre-se e entra um agente na policia com uma pasta na mão.

-Não está em bona lençóis André. - Ele informa.

-Eu estou inocente! - Disse implorando com o olhar que acreditasse em mim. - Não fiz nada... Nunca vi aquilo na minha vida! - Suspiro. - O que me vai acontecer?

-Um incidente destes... na sua condição perto da saída... Vai ter um aumento da pena - o agente sentou-se à minha frente - André, o seu caso foi levado a superiores e de acordo com as leis deste estabelecimento prisional e de acordo com a quantidade de cocaína encontrada em sua posse... Lamento informar-lhe que lhe faltam cumprir três anos aqui dentro.

Queria falar mas faltava-me a voz, não saía nada por mais que quisesse defender-me. Eu tinha a consciência que não valia a pena. Como vou contar à Eduarda? Como vou contar ao meu irmão, à minha mãe? Dei-me por derrotado e baixei a cabeça até à mesa pousando a mesma em cima dos braços. Mais três anos... Eu vou perder mais três anos da minha vida.

-A sua família será informada ainda hoje. Por agora, não tenho mais informações para si. Apenas, tem uma visita que vou deixar entrar - o agente levantou-se e foi até à porta.

Será ela? Como vou encarar-la depois disto?Ouço batidas na porta e o meu coração acelera consideravelmente. A porra abre-se e vejo a ultima pessoa que queria ver neste momento.

-Que fazes aqui? - Pergunto bruscamente.

-Que simpático - o rapaz lança-me um sorriso cínico e senta-se à minha frente - Vim fazer-te uma visita, não posso? Aliás, como amigo tão próximo da querida Eduarda, aposto que ficarás muito feliz com as novidades...

-Novidades? - Pergunto confuso não percebendo a conversa. - Que novidades?

O rapaz voltou a sorrir. Abriu o casaco e do bolso do lado de dentro retirou uma fotografia e pousou-a na mesa virada para baixo.

-Que merda é essa? - Pergunto perdendo a paciência para os seus sorrisos irritantes. - Deixa-te de ser infantil e fala de uma vez! - Gritei um pouco alterado.

Ele riu e virou a fotografia, estendendo-a para mim. Fiquei de olhos postos na folha, distinguindo uma foto de uma ecografia. Sinto um calafrio percorrer todo o meu corpo. Vejo a data e o nome registado num dos cantos. Eduarda Vasconcelos - 21 de março.

A Eduarda... estava...

-Eu e a Eduarda vamos ser pais! Ela está grávida de seis meses!

-Não... Não pode ser... - Digo sem conseguir tirar os olhos na ecografia.

-Claro que pode! - Ele goza.- Ele precisava de apoio e eu estive lá para ela!

-Como? Como é que... - Eu permanecia em choque.

-Queres mesmo pormenores? Acho que és crescidinho para saber como se fazem bebés..

-Sai daqui! - Grito, amachuquei o papel e atirei-o à sua cara. -SAI! SAI ANTES QUE TE PARTA A BOCA TODA DESAPARECE! - gritei, levantando-me bruscamente, fazendo a cadeira cair com um estrondo considerável.

-Espero que aprecies o tempo que ainda te falta cumprir dentro desta esplunca! Admite... Perdeste, rapaz! A Eduarda é minha, agora, e sempre foi!

-EU DISSE PARA SAIRES! - Grito consumido pela raiva empurrando a mesa que nos separava contra ele fazendo com que ele caísse devido à surpresa do meu ato. - SAI!

A porta abre-se e sou agarrado por dois agentes que me puxam para fora daquela sala.

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Estamos quase quase a chegar ao fim... Esperemos que estejam a gostar e em breve trazemos novidades! ❤️

Complicated | André Silva Onde histórias criam vida. Descubra agora