Eduarda pov's
Passei uma noite agitada. O André não me saia da cabeça, ele não merece isto. E sei que isto o faz sofrer, e dói pensar que ele está mal. Rodo o anel que ele me oferecera e solto um longo suspiro.
Preparo a mochila da Rosa enquanto ela vê os desenhos animados da manhã. Revejo se não falta nada e desço as escadas com a pequena mochila às costas. Pego as chaves do carro, o telemóvel e a mala, entrando na sala de seguida.
-Rosinha, vamos! - Chamo. - Não queremos chegar atrasadas!
-Shim, mamã! - a Rosinha pulou do sofá vindo até mim, animada. A minha filha adorava a escolinha.
Nesse instante, o Miguel apareceu vindo do escritório. Trazia uma mochila ao ombro e puxava um pequeno troilei. Pelo seu semblante sério, percebera que talvez estivesse um pouco atrasado.
- Espero que não esteja muito trânsito! - resmungou e parou ao nosso lado - Estás bem? - encarou-me - Passaste a noite às voltas na cama, querida.
-Sim, insónias! - Respondo destrancando a porta. - A que horas é o teu voo? - Pergunto mudando de assunto.
-Onze e meia, já devia estar a caminho do aeroporto... - Lamenta-se.
- Vai pela via rápida, depois sais em direcção... - tentei ajudá-lo, dando-lhe as direcções de um atalho.
- Sim, sim! Eu sei, querida - beijou a minha bochecha- Foste eu que te mostrei esse caminho para lá! - acabou por se gabar. Depois, baixou-se em frente à pequena - Antes de ir posso ter um beijinho.
A Rosinha aproximou-se do Miguel e deu-lhe um pequeno abraço.
- Vlais pla longe? No avlião? Mluito tempo? - perguntou um pouco confusa.
- Não, docinho. São só uns diaszinhos. Volto depressa - afagou-lhe o rosto e sorriu - Se a mamã deixar, eu trago-te uma prenda. Que achas?
-Shim shim! Podle sel mamã? - A pequena olhou-me sorrindo.
-Pode sim amor! - Digo à Rosinha que ficou extremamente felis. - Mas Miguel, nada de extravagante. - Peço - Uma pequena lembrança!
-Combinado! - Responde.
- Faz boa viagem - desejei, abrindo a porta. A Rosinha saiu à nossa frente.
- Obrigada, querida - o Miguel sorriu e aproximou-se para me dar um beijo. Acabei por desviar a cara, discretamente e o beijo dele parou na minha bochecha. Fiz-me, então, de despercebida e abracei-o levemente.
- Mamã, tlemos de ile! - a Rosa recordou, com receio de chegar atrasada à escolinha
O Miguel lá foi embora, nas suas pressas e eu coloquei a Rosinha na cadeirinha apertando o cinto de segurança. Ao chegar ao portão da escola, despeço-me da minha filha com um abraço apertado.
-Glosto muitlo de tli mamã! - Diz-me.
-Eu também gosto muito de ti meu anjo! - Quebro o abraço beijando a sua testa. - Vai lá, porta-te bem!
A pequena entra pelo portão e no cimo das escadas olha para trás acenando alegremente. Espero que entre no edifício branco e meto-me a caminho do estúdio.
Assim que chego ao meu local de trabalho, subo as escadas até ao escritório do meu chefe, o responsável pelo estúdio. No dia anterior lembrara-me de o ter ouvido falar que precisávamos de um novo segurança para a entrada principal. Eu sabia a pessoa ideal para o cargo! Além disso, o meu chefe devia-me um favor de uma ver que fizera imensas horas extras num fim de semana.
Bati à porta do escritório e esperei que me mandasse entrar.
-Com licença! - Digo abrindo a porta. - Bom dia Senhor Hélder!
-Bom dia Eduarda, está tudo bem? - Pergunta. - O que te traz por aqui?
-Eu gostava de falar consigo sobre um assunto importante. - Digo. - É sobre a vaga que abriu para um segurança.
- Ah, sim a vaga! - anuiu - Sente-se - apontou-me uma cadeira e eu assim fiz - Há uma vaga disponível sim. O rapaz que estava no cargo está a usufruir da licença de paternidade. Então, precisamos de alguém depressa! Quando ele voltar, ficamos com dois seguranças! O que acaba por ser melhor, sobretudo para dividir os turnos da noite. Mas, do que queres falar ao certo sobre este tema?
-Porque eu conheço uma pessoa que anda à procura de trabalho nesse ramo. - Explico. - Que precisa de trabalho rapidamente e está disposto a começar já amanhã se fosse necessário... - Digo pensando como abordar o assunto do cadastro.
-Há ai um mas não há? - Pergunta avaliando a minha postura.
- É que, bom... - cocei a nuca, desviando o olhar do meu chefe. Tinha tanto receio que ele negasse a oportunidade para o André - Essa pessoa... bom, o nome dele é André... Andre Silva... Ele... tem cadastro, mas foi tudo um mal entendido, tem de acreditar em, senhor Hélder. Ele é uma pessoa incrível e ninguém se dá um emprego, por causa dos anos que ele passou na cadeia...
- Tenha calma, Eduarda... - respondeu com um olhar pensativo - Conte-me um pouco mais da história desse rapaz. Do que é que ele foi acusado?
Comecei a contar brevemente a sucessão de acontecimentos que levaram a que o André fosse preso. O meu chefe parecia ouvir tudo com muita atenção. O seu semblante era sério e pensativo. Acabou por fazer mais algumas perguntas e, no fim, declarou:
- Sabe, Eduarda, quando eu era mais novo cometi alguns erros que também me levaram de encontro à polícia. Os dezoito anos podem trazer-nos imensos problemas se não estivermos cientes do que é certo ou errado. Não vou tomar partido da inocência ou culpa do rapaz... Não sou juíz, não me cabe a mim fazê-lo. Mas, sou da opinião que todos devemos ter oportunidade de remediar erros e ter direito a segundas oportunidades. Portanto, sendo assim, eu gostaria de falar pessoalmente com o André.
Ouço atentamente cada palavra que o meu chefe dizia e um alivio ia tomando conta de mim. O André vai ficar tão feliz quando souber, o que me deixa a mim, igualmente, feliz. Ele merece.
-Muito muito obrigada pela oportunidade, por aceitar falar com ele... Nem sabe o quanto isso é importante... - Agradeço genuinamente. - Quando é que ele pode vir falar consigo então?
- Amanhã vou estar ausente, umas reuniões na cadeia televisiva. Que tal depois de amanhã, ao fim da manhã? Por volta das onze?
-Combinado, ele estará aqui às 11 horas, depois de amanhã! - Garanto, sabia perfeitamente que o moreno não iria recusar. - Muito obrigada mais uma vez Senhor Hélder!
- De nada, Eduarda. Eu é que agradeço, por me teres sugerido o André, porque senão ia levar mais tempo até arranjar alguém competente para o lugar - declarou.
-Não se vai arrepender de o contratar, garanto-lhe! - Digo com um enorme sorriso. - Bem, vou voltar ao trabalho! Obrigada!
-Acredito que não! Confio em ti Eduarda! - Responde. - Até logo, bom trabalho!
- Obrigada - disse, antes de sair do escritório, encostando a porta.
Estava tão feliz! O André ia ficar tão feliz!
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