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André pov's

Tranquei a porta do quarto e, pálido, regressei à sala. Na minha cabeça corria o medo que algo de mal acontecesse à Eduarda e principalmente aos meus pais e ao meu irmão.

Dei com o Martins a falar com o meu chefe, possivelmente a tentar dar graxa e a inventar mentiras sobre mim. Entrei e dirigi-me a eles seriamente e vi que o Martins se calara quando eu entrei e me sentei perto deles.

Tremi assim que o Boss me encarou.

- És capaz de explicar porque é que a rapariga estava aqui!? E porque raio estavam os dois envolvidos numa briga!

-Ela estava aqui porque ela tem andado doente e quis garantir que nada acontecia por isso quis mantê-la debaixo de olho.  - Digo encarando o Martins de seguida. - Como viu ela desmaiou, imagine se eu não desse por isso? Podia acontecer o pior. - Digo arranjando a melhor desculpa que conseguia, porque afinal ela ja estava melhor.

- Isso não justifica nada! Eu não a quero aqui como se estivesse de férias num hotel de luxo! - ele replicou - E, pelos vistos, trata-la de maneira muito especial... já ouvi dizer!

-Isso é mentira, não a trato de maneira especial. - Defendo. - Apenas quero garantir que não lhe acontece nada enquanto esta sobre minha responsabilidade. - Digo. - Mas ja que falamos nosso, o Martins queria obrigar a Eduarda a fazer coisas contra a vontade dela. Se não aparecesse não sei o que aconteceria.

Já que ele quer jogar sujo vamos jogar sujo, penso para mim próprio. Sentia tanta raiva dele.

- Do que é que ele está a falar?! - o meu chefe pergunta furioso - O que é que pensas que ias fazer!? - ele grita com o Martins.

Sinto o meu cérebro explodir. Sinceramente, estou farto desta vida, de todo este ambiente, de tudo mesmo!

Enquanto o Boss ralhava com o Martins, os meus pensamentos vagueavam nos olhos brilhantes da Eduarda.

Será que ela está bem? Ela é tao frágil, deve ter ficado assustada.

-André acorda! - O Boss grita comigo. - Que não se volte a repetir esta cena de pancadaria e não quero a rapariga fora daquele quarto. - Ele diz. - Entendido?

-Sim, Boss. - Digo irritado mas mantive a calma.

-E tu Martins, se eu sei que voltas a por as patas em cima dela, eu acabo contigo.

O Boss levantou-se e tirou do bolso um papel, que me entregou em seguida.

- Toma, liga e deixa a falar dois minutos! Nem mais um segundo! - declarou - Eu espero poder confiar em ti, André, sobretudo na tua imparcialidade! Senão sabes quais são as consequências...

-Sim, eu sei. - Digo simples e seco.

- Ótimo! Tenho negócios para tratar e preciso de ti no salão de jogo, hoje à noite, Martins. O André fica com a miúda! - declara, antes de se preparar para sair.

Fiquei a pensar na chamada que deveria fazer. O meu telemóvel era controlado por ele. Mesmo que eu quisesse a Eduarda falar mais um pouco com os pais, não podia. Ele ia descobrir e o meu irmão iria sofrer por tabela.

Queria tanto ajuda-la, mas não posso. Ordens são ordens e não me posso deixar levar pelos assuntos... Do coração? Desci as escadas para a porta do quarto onde ela estava. Destranquei a porta e entrei, cabisbaixo.

- André! Oh meu deus, André! Tu estás bem!? - senti as mãos dela sobre o meu rosto - Ele bateu-te!? Por minha culpa!?

Subi o olhar encontrando o seu semblante em pânico, preocupada comigo.

-Calma! Estou bem... - Digo. - E tu? Estás melhor? Fiquei preocupado...

- Eu não tive nada! Eu pensei que ele te fosse bater! Tentei desviar a atenção dele! Foi tudo uma encenação... - Ela murmurou.

-Tu fizeste isso por mim? - Perguntei perplexo.

- Sim... Eu fiz, André. Também me ajudaste, foi uma retribuição.

-Obrigado! - Sido genuinamente. - Não pensei que fizesses isso por mim...

- Eu fiquei com medo que ele te fizesse mal, André... - ela falou - Agora, como retribuição podias fazer-me o almoço? - pediu com um sorriso divertido.

- Sim. - assenti com uma pequena gargalhada.

Disse que esperasse um pouco porque ia preparar o almoço. Vim para a cozinha.

No entanto, pouco tempo depois, o Martins gritou o meu nome. Com receio que ela tivesse fugido, corri de volta ao quarto. O meu colega segurava-a por um braço segurando o meu tablet na outra mão

- Ela estava a ver a nossa localização pelo GPS na internet! - ele disse e olhei-a. Se o Boss soubesse que ela estaria prestes a pedir ajuda via internet, o meu irmão podia... iam bater-lhe! Porque a culpa era minha por a ter deixado com o tablet.

Olhei-a com desilusão, retirei-lhe o tablet e tranquei a porta do quarto. Nem eu nem ela dissemos uma única palavra.

Assim que o Martins de foi embora e depois lhe garantir que aquilo não saia dali, fui até ao quarto da Eduarda. Abri a porta e ela olhava-me com um ar triste.

-Como foste capaz de me fazer aquilo? - Pergunto.

-Eu quero ir embora daqui André! - Levantou-se para Mr encarar. - Quero ir embora! - Gritou.

-E vais embora! A seu tempo! E se continuas a fazer coisas destas, o Boss vai mandar o meu irmão para o hospital ou bem pior! - Explico. - E depois sou despedido e ficas aqui sozinha com o Martins! É isso que queres?

Ela olhou me incredula pela maneira bruta que lhe havia falado. Baixou o olhar e desatou a chorar.

- Deixa-me sozinha... - ela soluçava - Eu quero ficar sozinha!

Apenas me retiro. Sei que fui bruto mas a verdade é que a segurança do meu irmão está em primeiro e ela estava a por isso em risco. Eu já confiava nela e fiz tudo para que ela se sentisse minimamente bem.

Voltei para a cozinha. O Martins terminava o almoço desajeitado.
Dei uma ajuda e pedi que não contasse ao Boss. Ele assentiu em concordância apenas por não querer problemas para o seu lado também.

Num tabuleiro, coloquei o almoço para a Eduarda e voltei ao quarto. Ela estava deitada, a dormir profundamente. Deixei o tabuleiro na mesa de cabeceira e decidi acordá-la levemente.

- Eduarda... acorda. Trouxe o almoço.

- An..André? - ela esfregou os olhos, despertando.

- Trouxe-te o almoço. Come para não arrefecer - disse brevemente.

- André... perdoa-me. Fui egoísta - ela interrompeu.

-Deixa isso. - Respondo seco. - Só não esperes que confie em ti novamente Eduarda. - Digo e saio.

Segui até à sala frustrado e sentei-me no sofá. Foi quando o meu telemóvel começou a tocar. Li no visor o nome do meu irmão e fiquei aflito.

Complicated | André Silva Onde histórias criam vida. Descubra agora