Eduarda pov's
O pânico apoderava-se de mim ainda mais a cada minuto que passava sem saber da minha menina. Ouço a campainha tocar e corro até lá, abro a porta e sou abraçada pelos seus fortes braços transmitindo alguma segurança.
- Shhh... - os seus dedos penteavam delicadamente os meus cabelos - Eles hão de aparecer...
-Obri...obrigada por...teres vindo... André... - Agradeço entre soluços. - Obrigada...
- Tem calma - murmurou, beijando levemente a minha testa - Já tentaste ligar ao Miguel mais uma vez?
-Vai para o voice mail... - Respondo. - Está desligado...
- Temos... de esperar... Se formos à polícia, não vão fazer nada... Passou pouco tempo - o André falou.
- Eu quero a minha filha... - chorei.
-Shhh... Eduarda... - Aconchego-a no meu peito. - Ela vai aparecer... Vais ver que... estão só a... passear...
- Assim!? Sem me dizer nada!? Imagina a minha cara quando cheguei ao infantário e ela não estava lá... - solucei, abraçada ao seu peito - Ele não pode desaparecer assim com ela...
-Ele devia ter avisado que a ia buscar... - Desabafo. - Ele já tinha feito algo assim? Não ha algum sitio que ela queria ir ou assim?
- Eu... não sei... Eu e o Miguel não estamos... não temos estado muito bem ultimamente - baixei o olhar, desanimada, e suspirei - Não sei o que fazer se eles não aparecerem.
-Eles vão aparecer Eduarda... Tem de aparecer... - Digo deixando escapar uma lágrima marota. - Ela vai aparecer aqui daqui a nada com aquele sorriso contagiante tão lindo...
Voltei a abraçar o moreno com força, tentando não pensar no pior. Fiquei de olhos fechados, os dois em silêncio.
Até que ouvi um motor do carro na frente da casa.
-São eles! - Digo olhando o André.
Ouço a minha pequena a falar animadamente, a porta é destrancada e ambos nos levantamos. Deparo-me com ela a comer um algodão doce cor de rosa e Miguel abraçado a um peluche enorme.
-Rosa! - Vou abraça-lá. - O que raio te passou orla cabeça para a levares sem me avisar?
- Des-desculpa... foi um mal entendido. Fiquei sem bateria, não te consegui avisar. Fomos à feira popular!
-Dré! - A voz da minha filha soa ao entrar na sala.
- Rosinha! - o André baixou-se e a pequena correu até aos seus braços- Que guloseima trazes aí?
- Alglodão dloce... e colmi plipocas e glelado! - ela contava aos pulinhos, energética.
-Isso não vai fazer mal à tua barriguinha? - Ele pergunta fazendo pequenas cócegas.
-O que raio aquele gajo está aqui a fazer? - O Miguel pergunta enraivecido.
- Miguel, por favor... - encarei-o, aborrecida - Eu estava preocupada com vocês e pedi ajuda ao André! Pensei até que pudessem ter tido um acidente!
-E não havia mais ninguém que pudesse ajudar? - Ele pergunta irritado. - Rosa, vai para o quarto. - Ele ordena assustando a minha filha.
- Tu não gritas com ela assim, Miguel! - gritei furiosa com ele.
-Mamã? - Ela chama assustada escondida atrás das pernas do André.
-Oh amor... - Aproximo-me dela. - Porque não vais mostrar o teu quarto ao André? - Proponho de modo a afasta-la da discussão.
- Vem, princesa... - o moreno pegou a pequena ao colo, subindo as escadas com ela.
-Foi a última vez que gritas assim com a minha filha! - Digo furiosa. - E nunca mais a vais buscar sem eu saber! Não tens esse direito! - Encaro a sua cara séria.
- Impressionante! Tu és uma pobre e mal agradecia! Eu fui buscá-la... levei-a à feira... para passar algum tempo com ela! Ser um bom padrasto como tu tanto queres!
-Não é essa a questão! Eu fiquei apavorada sem saber da minha filha Miguel! MINHA FILHA! - Realço. - Não podes simplesmente ir busca-la sem me avisar! E ja para não falar no peluche e nos doces que lhe deste! - Acuso.
- Eu só quis ser um bom padrasto! Quis que ela se sentisse bem comigo! - ele grita - Mas tu só te importas com aquele tipo!
-Aquele 'tipo', tem nome! Chama-se André, caso não te lembres! - Defendo. - E podes ser um bom padrasto e passear com ela mas não sem me avisar! É assim tao difícil de entender?
- Eu fiquei sem bateria na merda do telemóvel, queres um desenho, Eduarda!?
-Vinhas para casa ou desenrrascavas-te de outra maneira! - Digo como sendo óbvio. - Tens a noção do pânico em que eu estava? Sem saber da minha filha?
- Pronto, irra! Parece que caiu um pedaço de céu! Fogo! Já aqui estamos!
-És um otário! Um insensível! - Acuso.
- Estás sempre a disparar Eduarda! Eu amo-te! Faria tudo por ti, pela Rosa!
-Mas eu não te amo! - Grito sem pensar duas vezes.
- Ai é, então e casaste-te comigo, porquê!? Eu não te obriguei Eduarda, pois não!?
-Sabes bem porque casei contigo! - Digo encarando-o. - E nunca te menti sobre os meus sentimentos.
Ele ri secamente e agarra no casaco.
- Vou sair. Estou farto de discutir contigo - ele acusa.
Fecha a porta sem me deixar sequer dizer algo. Sento-me no degrau das escadas a encarar o chão.
-Eduarda? - A sua voz rouca soa atrás de mim. - A Rosa adormeceu... Estás bem?
- Estou... - limpei as lágrimas, suspirando - Obrigada por teres vindo...
-Não tens de agradecer... E eu sei que não estás bem... - Ele afirma. - Eu conheço-te... Queres... falar?
- Eu... eu... - tapei o rosto com as duas mãos - estou cansada... isto não é a vida que quis... um casamento assim.
-E que vida é que tu queres? - Ele pergunta. - O que é que tu queres agora?
- Eu...eu queria ser... feliz... queria ter uma família... - choro, desanimada, frustrada.
-Tu ainda estás a tempo de teres a vida que queres Eduarda! - Ele encoraja. - És tão nova, sempre foste tão determinada, luta por aquilo que tu queres!
- Eu não sei... já não me reconheço - soluço.
-Onde está a Eduarda por quem eu me apaixonei? - Ele pergunta. -Ela está algures ai dentro! Só tens de a encontrar!
Encontrei o André agachado à minha frente quando subi o rosto. Encarei os seus olhos negros.
-Obrigada André... - Agradeço as suas palavras.
- Não tens de agradecer... eu faço... qualquer coisa... para te ver feliz.
-Fazes-me sentir tão bem... - Confesso abraçando o moreno de seguida.
Ele retribuiu o afeto e pegou no meu rosto, limpando as minhas lágrimas, depois inclinou a cabeça, unindo as nossas testas.
Fechei os olhos e senti a sua respiração bater na minha face. O meu coração acalmou-se com este simples gesto.
Os seus olhos abriram-se e as suas pérolas negras focaram os meus olhos claros.
O meu polegar passa na minha bochecha acariciando-a, fecho novamente os olhos saboreando o momento.
Notei o seu olhar descer para os meus lábios. O meu coração começou a bater mais depressa com a distância a ser encurtada.