2.08

243 18 3
                                    

Das suas pérolas negras, começaram a escorrer lágrimas. Ele parecia congelado, em choque.

- Eu tenho... nós temos uma filha... eu sou pai...

-Sim, tu és pai... - Reforço. - Desculpa... - Pedi baixando a cabeça.

- Tu... ias me dizer? No dia em que eu não quis falar contigo?

-Eu tinha acabado de decidir contar-te quando me disseram do aumento da tua pena... - Conto. - E fui até lá para falar contigo, mas disseram que tu não me querias ver... Nunca mais...

Ele baixou o olhar, visivelmente afetado e arrependido.

-Porque? - Pergunto. - Porque não me quiseste ver?

- Porque... - ele parou. Parecia estar indeciso nas palavras que queria escolher. - Aconteceu... que... eu não consegui superar o que aconteceu. O aumento da pena... tive vergonha de to dizer... de te confrontar...

-Eu iria estar sempre ao teu lado, apoiar-te... - Digo brincando com os dedos. - O que realmente aconteceu? Eu... Eu não acredito que te tenhas metido naquelas coisas... - Confesso.

- Eu não sei... - ele suspira, desviando o olhar. Passo uma mão pelo cabelo, nervoso - Juro-te que não sei. Foram fazer uma revista ao quarto e aquilo estava lá! Um pacote de droga!

-Eu... acredito em ti... - Confesso.

Ele voltou o olhar de novo para mim, mas ao descê-lo para as minhas mãos, apontou:

- Vejo que... casaste...

-Sim... - Largo um suspiro rodando a aliança.

- Ele tem... muita sorte por te ter... a ti ... e à Rosa...

-Ela não me tem... - Deixo escapar. - E a Rosa... A Rosa é nossa... Minha e tua... - Sorri.

- Então... ela sabe que o teu... marido... não é o pai dela? - ele confirma - O que sabe ela sobre o pai?

-Ela sabe que o Miguel não é o pai... Sempre fiz questão que ele não assumisse esse papel. - Conto. - Ela apenas pensa que estás a viajar... - Digo.

- Eu... eu... quero assumir a paternidade, Eduarda! Quero recuperar todo o tempo perdido com ela...

-Claro... Nada me faria mais feliz que ouvir a... nossa filha a chamar-te... pai... - Confesso. - Mas deixa-me primeiro prepara-la... Falar com ela...

- Sim, claro que sim... Não quero assustá-la - o moreno concordou.

-Se calhar... Vou andando... - Digo levantando-me.

Olhei para a sua mão na minha e encarei os seus olhos escuros de seguida. Ele olhava-me fixamente, senti a sua mão a tremer ligeiramente.

- Obrigada por me contares a verdade e... perdoa-me... - os seus olhos estava brilhantes e tremidos - Perdoa-me por vos ter abandonado.

- Sim, eu perdoou - ele assentiu levemente com a cabeça.

-Obrigada, André... Por entenderes e por me ouvires... - Agradeço. - Não merecia que me perdoasses...

- Ambos tomámos escolhas erradas - ele justifica - Não tens de agradecer...

- Queres... ficar com o meu número? - ele pergunta atrapalhado.

-Mudaste de número? - Pergunto.

- Mudei de telemóvel, por precaução... - ele encolhe os ombros.

-Ah... claro... -Respondo. - Então... Podes dar-me... o teu número?

- Sim, claro... - ele assente. Tiro o meu telemóvel da mala e entrego-lho.

Ele digita o seu número e devolve-me o telemóvel.

-Obrigada... - Agradeço guardando o seu número e volto a guardar dentro da mala. - Então... eu depois ligo-te...

- Sim, combinado... Liga à hora que quiseres... Eu estou sempre livre, ainda ando à procura de emprego.

-Está bem, eu... vou andando então... - Digo apontando para a porta meio atrapalhada.

- Eu levo-te à porta - ele oferece-se tão atrapalhado quanto eu.

Descemos os dois até à entrada. Reparo que o Afonso nos espiava sorrateiramente pela ombreira da porta da sala.

-Então... adeus André... - Digo não sabendo o que fazer.

Ele aproximou-se de mim e abraçou-me levemente, fazendo me sentir o seu perfume intenso e um arrepio forte subir pelo meu corpo por estar a sentir o seu toque.

Rodei os meus braços na sua cintura retribuindo o abraço. Que saudades dele...

- Adeus, Eduarda... - ele sussurrou no nosso abraço, desfazendo-o levemente.

Afastei-me sorrindo atrapalhada e caminhei até ao carro. A caminho de casa o meu telemóvel começa a tocar e olho o ecrã, era o Miguel. Desligou a chamada e continuei o caminho até casa calmamente.

Estacionei o carro em frente a garagem e caminhei até à porta.

Destranquei a porta e dou de caras com o Miguel à minha espera.

-Onde andaste? - Ele dispara.

- Tive um imprevisto e tive de sair... - murmurei, contornando-o.

- Um imprevisto... lá nos estúdios... um dos episódios da novela tinha desaparecido do sistema de edição e ninguém sabia como resolver aquilo - disparei sem pensar duas vezes.

-A estas horas, Eduarda? - Agarra o meu pulso.

- Sim, Miguel... a estas horas... estavam a guardar e a fazer a cópia de segurança do que se filmou hoje! Larga-me! - tentei soltar-me dele.

-Eu não acredito em ti! - Ele responde largando-me bruscamente.

- Então, não acredites! - ripostei, massajando o meu pulso magoado.

Entro no quarto deixando-o no corredor e preparo-me para ir dormir.

Atirei o meu casaco e a mala para cima da cadeira, frustrada.

Preparo uma banho quente para relaxar um pouco e pensar como iria falar com a Rosinha sobre o André. Verifico a temperatura da água e dispo-me entrando de seguida para a banheira ja cheia.

Molhei o cabelo e deixei-me ficar deitada de olhos fechados, oara descansar um pouco.

Complicated | André Silva Onde histórias criam vida. Descubra agora