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Como é que ela foi capaz? Como é que ela me fez isto? Ela disse que ia esperar por mim... Eu sabia que alguém se passava mas nunca pensei que fosse isto. É o castigo de todo o mal que fiz? Sinto que não merecia isto da parte dela... E dói tanto...  

Sou atirado para a minha cela onde me fecham e sem dó esmurro a parede sem saber o que fazer. Sinto me perdido! O que é que eu vou fazer!? Eu perdi tudo! Perdi a minha liberdade, o amor da minha vida! O que é que eu sou!? Nada! Não sou nada!

-Está tudo bem? - O meu colega pergunta e noto na sua voz receio.

Não respondi. Deitei-me na cama e peguei a foto daquela que julguei ser para a vida toda. Passamos por tanto juntos e ela trai-me assim? Afinal o que fui para ela? Será que alguma vez gostou realmente de mim?

Fechei os olhos com força e tentei não deixar cair nenhuma lágrima. Porém, era impossível. Era desilusão, raiva, tristeza, perda, amor, pânico, sufoco, tudo junto... Com a mão livre procurei o fio que mantinha ao pescoço desde o momento em que ela mo entregara.

Não reparei no teu que passou enquanto tive aali deitado a olhar o teto da cela. Apenas acordei dos meus pensamentos quando um guarda entrou na cela.

-Tem uma visita - anunciou

-Quem? - murmurei. - Eduarda Vasconcelos.

-Não quero receber. - Digo cheio de mágoa. - Diga-lhe que não volte. - Pedi deixando cair a lágrima marota que teimava em escorrer pela face.

-Tem a certeza, rapaz? - o guarda confirmou, com um suspiro cansado.

-Sim, tenho! Diga-lhe para não voltar! Não a quero ver nem hoje, nem amanhã, nem nunca! - voltei a exclamar frustrado com vontade de desaparecer do mundo com toda aquela montanha-russa de emoções horríveis que se espalhavam pelo meu corpo.

Estava na hora de seguir em frente.

-Como queiras. - Responde indiferente e sai fechando a porta.

Sento-me na cama, escondendo a cara nas mãos. Amo a Eduarda, sempre a irei amar, mas não suporto a traição, o saber que ela não cumpriu as nossas promessas.

Só posso seguir em frente e esperar que dali a três anos saísse dali e pudesse seguir com a minha vida em frente.  

Mais um mês fechado neste sitio, mais um mês sem ela. Não tenho tido quaisquer noticias sobre ela. Ainda me lembro da sua gargalhada deliciosa, por vezes parece que a ouço no silencio da noite. O seu sorriso contagiante, a sua voz doce, a sua pele macia. Não voltou a tentar visitar-me. E ainda bem, não suportaria olhar para ela novamente depois de tudo. Naquele dia, o dia em que soube a verdade que ela me andava a esconder, provavelmente por falta de coragem para me contar que me tinha traído, o dia em que tive a certeza que a tinha perdido, o dia em que perdi o sentido da vida.

Mas temos de aceitar quando uma etapa da nossa vida acaba, demorei a perceber e a aceitar mas finalmente sinto-me pronto para seguir em frente. Se custa? Custa, custa tanto... E dói tanto... Mas nós somos as escolha que fazemos, ela escolheu esquecer as nossas promessas. Eu realmente acreditei que o nosso amor era indestrutível, éramos nós dois contra tudo e contra todos e juntos enfrentaríamos tudo. Passamos por tanta coisa e mesmo no meio daquela confusão a nossa relação cresceu dia após dia.

Só eu e as paredes deste quarto sabem o quando me custa seguir em frente, sinto o discurso dela presente na minha mente, a maneira como ela falava apaixonadamente de qualquer assunto. Desejo que ela seja muito feliz, apesar de tudo. Eu vou ama-la sempre, sei que será sempre ela a mulher da minha vida, o primeiro e único amor da minha vida. Mas neste momento tenho de pensar em mim apenas. Daqui a uns anos sairei daqui, serei livre e feliz ao lado da minha familia, esse é o meu foco.

Sentei-me na cama e debaixo da almofada espreitava a fotografia da Eduarda, peguei nela e coloquei-a debaixo do colchão. Não tenho coragem de a deitar fora. Deito-me por cima dos lençóis e encaro o tecto branco sujo à espera que viessem abrir a porta da cela para mais um dia igual a todos os outros.


To be Continued ...

Complicated | André Silva Onde histórias criam vida. Descubra agora