Olhei o Afonso e de seguida olhei para a pequena sentada entre nós entretida a pintar. Os seus olhos escuros, a sua pele morena...
-André, tu... Estás a pensar o mesmo que eu? - O Afonso olhava-me chocado.
- André, está tudo bem? - o Hugo pergunta - Estás pálido!
- Pois está! Vou pedir um copo de água com açúcar! - a Margarida olha-me a mim e ao meu irmão.
- Ele... está... estava preso porquê? - balbulciei
- Supostamente, ao inicio, ele fez parte do rapto da Eduarda mas os dois apaixonaram-se antes dele ir preso. Francamente, eu não sei muito ... só o que ela me contou aos poucos. Ela não gosta de tocar no assunto - a rapariga contou.
Deixei uma lágrima marota cair mas rapidamente a limpei encarando a criança ao meu lado.
-Dré, queles pintal comigo? - Perguntou ela mas eu estava demasiado chocado para lhe responder.
-Tens aqui André, toma isso... Estás muito branco. - A Margarida pousa o copo à minha frente.
Peguei no copo devagar, as minhas mãos tremiam muito. Mal sentia meu coração a bater.
- Margarida - o Afonso olhou a rapariga - Levem a Rosinha lá dentro e comprem-lhe um doce... - o Afonso entregou-lhe umas moedas - Enquanto o André recupera...
- Silva... André Silva... - a Matilde murmura e depois olha para mim - Eu não... oh... - ela tinha percebido.
Olho a rapariga que estava em choque ao perceber quem sou. Olho para dentro da esplanada e vejo a Rosa a pular de alegria enquanto escolhia algo no balcão. Porque? Porque é que ela não me contou a verdade?
- Oh... eu não fazia ideia... Eu nem devia... ter... - a rapariga gaguejava.
Porquê? Porquê é que ela não me disse? O Miguel aproveitou-se e afastou-me dela. Fez-me acreditar que era pai da bebé dela, quando na verdade, eu sou o pai da Rosa!
Rosa... o nome dela... Recordo o momento em que oferecera uma rosa à Eduarda, ainda quando a mantinha em cativeiro.
- André, respira... - sinto a mão do Afonso sobre o meu ombro.
Lembro-me muito bem daquela dia em minha casa onde ambos nos entregamos um ao outro, a única vez que estivemos juntos. E aquele pequeno ser é fruto desse momento de amor, é fruto do nosso amor.
-André, olha para mim! - O Afonso chama a minha atenção. - Respira... Estás a deixar-me preocupado...
-Dré, tlouxhe um chocoate pala ti e pala o Fonso! - Ela estica um chocolate para mim e outro para o meu irmão.
Abro a mão e aceito o pequeno doce enquanto a observo a sentar-se a abrir o seu chocolate com a ajuda da Matilde.
-Nós temos de ir, já está a ficar frio... - A Matilde diz. -Desculpa André... Eu não queria que nada disto acontecesse... Não devia ter falado sobre isto...
- Eu... tu não tens... culpa... - gaguejei, baixando o olhar. Não sei o que fazer. Estou em pânico!
-Rosinha, diz adeus para irmos embora! - Pediu gentilmente.
-Adeus Dré! - Ela deposita um beijo na minha bochecha. - Adeus Fonso! - Repete o gesto de pois despede-se do Hugo e da Margarida com um adeus.
Vemos ambas a afastarem-se do parque até as perdermos de vista e olho para o meu irmão em pânico.
-O que é que eu faço Afonso?- Pergunto.
- Primeiro, vais ter calma... antes que te dê um ataque de coração e vais procurar conversar com a Eduarda...
- O que é que se passa? - o Hugo e a Margarida perguntavam sem entender. O Afonso fez sinal à namorada para não tocar no assunto.
Sentia-me perdido, sem saber o que pensar. Precisava de ouvir da sua boca que aquela princesa era fruto do nosso amor!
-Eu... Eu vou falar com ela. - Digo determinado e mais calmo. - Sabes onde ela mora? - Pergunto ao Afonso.
- Não sei... Mas, não vais aparecer lá assim... sobretudo correndo o risco da Rosinha te ver... Não podes entrar a matar! Porque algo nesta história está mal contada. A Eduarda diz que tu és o pai, mas o outro idiota disse que a bebé era dele para te afastar. A Eduarda não deve saber disso... - o Afonso diz.
- Sabem uma cena? - o Hugo interveio - Quando tu foste preso, primo... eu não percebi como podias ter tido acesso a droga para te aumentarem a pena. Nunca acreditei nisso... Mas, com isto tudo... e se não foi esse filho da mãe? Para te tramar!
-A Eduarda... Ela tentou falar comigo nessa tarde depois de ele me visitar na prisão e descobrirem a droga... Eu não quis falar com ela... - Conto sentindo remorsos.
- Tem calma, vai tudo resolver se. - a Margarida falou.
-Eu vou andando para casa... - Declaro levantando-me. - Obrigada pelo apoio...
-Queres que vá contigo? - O Afonso pergunta.
-Não, preciso de estar sozinho... Preciso de pensar...
Caminhei lentamente até casa, imensas perguntas invadiam a minha mente. Sentia-me perdido, sem chão. sem rumo... Só queria falar com ela e perguntar-lhe a verdade. Só queria saber se a Rosa é mesmo minha filha, da boca dela. Afinal ela não me traiu.
Chego finalmente a casa, subo para o quarto e deito-me na cama a encarar o teto. Abri a gaveta na mesinha de cabeceira e tirei de lá um fotografia dela, a fotografia que trouxera da prisão. Nunca fui capaz de a deitar fora...
Adormeço pouco depois agarrado à sua fotografia imaginando como seria a nossa conversa... Será que ela está feliz com ele? Será que a minha filha o chama de pai? Será que... ela já me esqueceu?