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Eduarda's POV

-Vovó, olha eu nlo blaloiço! - a Rosinha exclamava, enquanto se balançava para a frente e para trás num dos baloiços do parque infantil, junto da esplanada onde eu e a minha mãe lanchavámos.

Havia passado perto de uma semana desde que falara o André. Ele não me voltara a contactar, talvez para me dar espaço para agir. Porém, não tinha tido ainda coragem para contar a verdade à minha pequena filha.

-Pareces muito pensativa e angustiada, Eduarda... - a minha mãe murmurou, pousando a caneca do café na mesa, depois de acenar à neta.

-Não... É só impressão tua... - murmurei, brincando com a colherzinha de plástico.

-O que se passa com esse coraçãozinho, meu amor? - Ela agarra a minha mão carinhosamente.

-Voltei a ver o André... - Digo baixinho, faço uma pequena pausa. - Ele já conheceu a Rosinha, ela gostou muito dele... -Murmuro soltando um pequeno sorriso relembrando o dia na praia.

- Hm... e cá para mim esse reencontro mexeu com mais alguma coisa, não é? Ainda sentes alguma coisa por ele? - a minha progenitora pergunta, encarando-me preocupada com a minha crise emocional. Nem eu sabia o que lhe responder.

-É complicado... - Deixo escapar um suspiro. - Quero tanto dizer à Rosa que o André é o pai dela. Quero que ele acompanhe a nossa filha a crescer... Ele já perdeu tanto tempo da vida dela... - Deixo uma lágrima marota cair. - Ela gosta tanto dele... É como se ela sentisse quem ele é...

- Eduarda... - a minha mãe abraça-me e afaga o meu cabelo carinhosamente - Não há nada nem ninguém que te impeça de contar a verdade à Rosa, querida. O André esteve ausente, eu sei... mas a culpa não é tua, tão pouco é dele... Foi preso mas na verdade nós sabemos que foi ele que te protegeu naquele pesadelo. Portanto, eu compreendo perfeitamente que sintas essa angústia... Mas, querida, se o André quer assumir a paternidade e acompanhar a pequena, não vejo o problema. A Rosinha vai entender, só lhe tens de dizer que o pai voltou da viagem... - A minha mãe defende. - Não é o Miguel que te pode impedir. Ele apenas é teu marido e padrasto da Rosa - acaba também por acrescentar.

-Sim, tens razão, vou arranjar o momento certo para falar com ela, o mais depressa possível. Ele merece que eu fale com a Rosinha... Já perdeu demasiado tempo injustamente... - Digo fazendo uma breve pausa. - Eu não sei se vou continuar este casamento mãe... -Desabafo. - Mas ao mesmo tempo tenho medo que seja uma mudança muito grande na vida da Rosa e que ela não reaja bem...

- Acho que devias falar com Miguel, Eduarda. A vossa relação não anda bem... e presumo que tenha piorado com o regresso do André... ou o Miguel ainda não sabe? - Ela questiona.

-Tenho a noção que não vai ser uma conversa nada fácil. - Suspiro. - Sabe e não reagiu nada bem... -Respondo.

- Ele sempre foi bastante possessivo... Sobretudo em relação ao André. Mas, verdade é que te ajudou nestes primeiros tempos com a Rosinha, querida... Tentem falar e decidir o que é melhor para vocês e para a Rosa.

-Eu sei... Mas ambas sabemos que este casamento não é feliz... - Digo. -Não digo que não tivemos momentos bons mas não é isto que eu quero para o resto da minha vida...

- Eu percebo perfeitamente, querida... - ela suspira pesadamente e sei que por momentos recordou o casamento com o meu pai que acabara anos antes aquando do meu rapto.

-E tu mãe, como tens andado? - Pergunto após dar uma olhadela à pequena que se entretinha no parque.

- Bem, cheia de trabalho - ela sorri. Apesar do divorcio recente ela estava bastante mais animada, pelo menos parecia.

-Mamã mamã! - A pequena chama pela minha atenção. - Quelo comer... - Pede sorridente sentando-se na mesa.

- Claro, princesa... Já é a hora do lanche - sorrio - O que vais querer?

-Quelo ete! - Responde apontando com o seu pequeno dedo no menu à nossa frente. - Pode sel?

-Isso é muito grande dás um bocadinho à mamã, amor?- Pergunto chamando o empregado.

-Shim shim! - Dá pequenos saltos de felicidade na cadeira.

Fizemos os pedidos. Como não devia demorar muito, a Rosinha ficou ali ao meu colo, por mais que o seu olhar atento não se descolasse dos baloiços.

- Vlovlo, sablias qule o mleu papá está a viajlar!? - a pequena conta à minha mãe, inocentemente.

-Sabia meu amor! - Sorri. -E um passarinho contou-me que ele vai voltar da viagem mais cedo! - Toca com o dedo indicador no pequeno nariz da Rosa fazendo-a rir e pisca-me o olho.

- É, mamã!? - a pequena olha-me em êxtase - O papá vai voltar!?

-S...Sim.- Respondo. - Em breve meu anjo!

Abraçou-se, então, a mim contente com a novidade, perdida na sua inocência de criança. O nosso momento foi interrompido, infelizmente, por uma chamada do estúdio. Precisavam de mim, mais cedo, antes da reunião tardia que ia ter. Como já tinha combinado deixar a pequena com a Matilde, liguei-lhe, perguntando se podia ficar com ela mais cedo.

-É claro que posso! - ela respondeu, na chamada - Eu estou no shopping, podes vir até cá e deixá-la comigo?

Concordei em leva-la e despedi-me da minha mãe.

-Obrigada mãe pela conversa, eu vou resolver as coisas da melhor maneira possível... - Digo e abraço-a.

-De nada meu amor, sempre que precisares!

A Rosinha rodeia os seus pequenos braços em volta da minha mãe e beija a sua face. É tão bom a ligação delas, apesar se não estarem muito juntas a Rosa tem uma grande admiração pela avó.

- Adleus, vlovló! - a Rosinha acena para ela e eu sorrio derretida com a ternura da minha filha.

Vamos para o carro e conduzo até ao shopping. Assim que entro, ligo à Matilde que pede para se encontrar comigo ao pé dos cinemas. Subimos até lá.  A Rosa dá logo com a babyssitter e larga a minha mão para correr para ela.

-Como está a minha princesa mais linda? - Pergunta ela pegando a minha filha ao colo.

-Olá Matilde! - Saudei ao aproximar-me. - Obrigada mais uma vez por ficares com ela mais cedo!

-Olá, sempre que precisares! - Responde sorrindo. - Ah, pois! Eduarda, este é o Hugo!

-É teu namolado? - Pergunta a Rosinha inocentemente e noto a Matilde a ficar corada.

- Olha tão pequena e já tão cusquinha! - o rapaz, ao contrário dela não se importara muito com a pergunta. Ate tinha sorrido ao ver a Matilde tão corada. Ele aproximou-se para fazer cócegas à Rosinha que mesmo assim não parecia satisfeita com uma pergunta.

- Slão namolados! Os namolados dlao bejlinhos! Hlugo, da um blejinho à Tilde! - a pequena pediu e eu não me contive. Eu tinha de me rir com a cena

-Tudo o que a menina desejar! - Responde o Hugo.

Aproxima-se e dá um pequeno e doce beijo à Matilde deixando a Rosa com um sorriso de orelha a orelha.

- Qleu flofinhos!!! - a Rosinha bate palmas, contente. O Hugo pega nela ao colo - E, eu a pensar que ia ao cinema com uma princesa, afinal vou com duas!! - depois, olha para mim - Não te preocupes, Eduarda, nós ficamos com ela sem problema! Vemos um filme de animação e comemos pipocas, que achas, Rosinha!? - ele volta a encarar a minha pequena. A Matilde olhava pasmada para o namorado com o jeito amoroso com que ele estava a lidar com a Rosa.

-Shim shim! - A pequena salta ao seu colo, a felicidade em pessoa esta rapariga fica contente com qualquer coisa.

-Estou a ver que vão divertir-se imenso! - Digo perante a sugestão do Hugo. - Rosinha, porta-te bem! E vocês se precisarem de algo liguem-me eu venho logo! Obrigada mais uma vez!

-De nada, Eduarda! Vai descansada - a Matilde sorri.

- Adleus, mamã! - a Rosinha acena-me com o seu sorriso traquinas

Complicated | André Silva Onde histórias criam vida. Descubra agora