capítulo 21

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Dulce estava de fato faminta, e não hesitou em deixar Mora conduzi-la escada abaixo, rumo ao salão principal do castelo. Apesar de ser dia, os corredores permaneciam escuros e iluminados por velas; pelo visto, os Uckermann gostavam da escuridão, ou talvez preferissem manter as pesadas cortinas das janelas fechadas para que a luz não danificasse as finas tapeçarias penduradas nas paredes.
- A senhorita acordou na hora de fazer a refeição - disse Mora ao abrir a porta para o salão principal.
- Agora é de manhã, não é? - perguntou Dulce.
- Já estamos no meio do dia, mas eles tomam o desjejum neste momento. Meus lordes nunca acordam cedo.
O salão principal era enorme e ladeado por imensas lareiras a cada lado. As tochas nas paredes de pedra iluminavam o ambiente, criando mais uma vez a impressão de que era noite. Uma mesa imensa dominava o ambiente e lorde Uckermann imediatamente se levantou para recebê-la, fazendo um gesto para que se aproximasse e sentasse na cadeira a seu lado, no centro da mesa. Ele não parecia em nada um homem louco: muito pelo contrário. Seus traços masculinos eram atraentes o suficiente para encantar qualquer mulher, e seus olhos eram claros como os do primo Leonard. A mesa estava servida com carnes, queijos, pão e frutas frescas. A solicitação para que sentasse a seu lado a incomodou um pouco, pois a fazia lembrar do que ele comentara na noite passada. Afinal, a cadeira ao lado do senhor do castelo era destinada à esposa do lorde, e Dulce pensou que devia discutir a questão o quanto antes, apesar de não saber como abordar o assunto.
Dulce se serviu de frutas, enquanto lorde Christopher Uckermann sorria de maneira simpática. Outras pessoas compartilhavam a mesa, e seus traços eram semelhantes aos do lorde, indicando que faziam parte da mesma família. Não havia muita gente, talvez seis ou sete pessoas, e todos a fitavam com curiosidade, o que a deixava um pouco perturbada.
Alguns serviçais entravam e saíam do salão trazendo mais comida ou vinho, e Dulce notou que, ao contrário do que ocorria em sua própria família, os vassalos tinham um tipo físico bastante diferente do de seus senhores.
- Espero que tenha dormido bem - disse Christopher.
- Foi uma boa noite de sono, - respondeu Dulce - embora eu tenha dormido mais do que de costume - acrescentou, lembrando que a manhã já terminara.
Antes que ele pudesse continuar a conversa, contudo, uma pesada porta de madeira se abriu e duas elegantes pessoas apareceram: um homem vigoroso de ombros fortes, acompanhado de uma mulher alta e esguia. Ambos caminharam resolutamente em direção à mesa do lorde com os olhos fixos em Dulce. Quando se aproximaram, ela notou que tinham a pele ainda mais alva que a de Christopher e Leonard. Seus traços físicos eram semelhantes aos dos Uckermann, mas seus olhos eram escuros e tinham algo estranho, que provocou um arrepio em Dulce.
- Diego, Angelique - Christopher os cumprimentou com surpresa. - A que devemos a honra de sua presença? Nunca se juntam a nós no salão principal.
- Viemos conhecer sua convidada - explicou Diego.
Christopher os apresentou a Dulce. A jovem os cumprimentou com calma e polidez, mas Christopher percebeu que ela parecia tensa, como se algo a ameaçasse. Mas como culpá-la por isso? Também ele sentia a tensão no ar, pois os recém-chegados não a fitavam com amabilidade. Diego era o líder dos sangue-puro que habitavam as cavernas nos subterrâneos do castelo, e mais de uma vez, nos últimos meses, deixara claro que se opunha a seus planos de contrair matrimônio com uma mortal. Angelique começou a acariciar a nuca de Christopher, fazendo-o perceber que pretendia jogar um jogo de sedução. Ele teve de resistir ao impulso de exercer sua autoridade de senhor do clã e ordenar que voltassem às cavernas que habitavam junto com os outros sangue-puro. A rebelião começava a nascer nas cavernas, e insultar seus líderes só ia piorar a situação.

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