Cavaleiro da Noite - Vondy

capítulo 36

Aos poucos. Dulce abandonara a idéia de que os Uckermann eram mortos-vivos, mas as palavras de Angelique outra vez levantaram suas suspeitas. Por que aquela mulher se referia a pessoas comuns com tanto desprezo, como se morrer fosse uma maldição? Fala assim para me atemorizar, pensou. Os Uckermann eram tão vivos quanto ela! Talvez tivessem uma natureza diferente, mas não eram cadáveres ambulantes. Entretanto, as palavras evasivas de Mora quando ela lhe perguntou a idade de Leonard lhe voltaram à mente, e suas incertezas retornaram.
- Está dizendo que os Uckermann vivem muitos anos? - Angelique soltou uma gargalhada sinistra e desagradável.
- Vivemos mais do que você imagina, e somos superiores aos mortais em muitas maneiras!
- Incluindo a vaidade, me parece.
- Temos o direito à vaidade, pois não precisamos de gente como você! E não há nada que não possamos fazer melhor que os mortais.
- Tem certeza? Por que não me acompanha para fora então, e se expõe à luz do sol?
Dulce recuou quando Angelique saltou de repente em sua direção, mas em vez do ataque que esperava sofrer, sua visão foi bloqueada pela aparição de uma figura alta e vigorosa; e no instante seguinte Angelique voou para longe, como se atirada por uma força tremenda, e caiu no chão. A esguia mulher levantou praguejando e limpando a comprida saia negra que usava.
- Não pretendia matar esta tola, Leonard!
- Mas poderia tê-lo feito por estar zangada e descontrolada - ele colocou-se ao lado de Dulce.
- Ainda estou zangada - afirmou Angelique, passando os dedos entre os cabelos negros para retirar gravetos de feno. - O plano de Christopher é pura loucura, pois pretende reduzir a pó tudo aquilo que nos torna fortes e superiores. Como pode se aliar a ele?
- Sou leal a meu lorde. Além disso, creio que ele tem razão. Estamos morrendo, Angelique. Uma morte que ainda vai demorar muitos e muitos anos, mas que certamente acontecerá. Já faz quarenta anos que os sangue-puro não geram novos seres.