capítulo 38

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- Quanto a isso não há dúvidas, a julgar pelos sentimentos e sensações que desperta em meu lorde. Mas ser capaz de dar à luz é uma bênção, e você não deve se sentir insultada por estar apta a gerar novos membros para nosso clã.
- É bom poder ser mãe, mas uma mulher merece mais do esposo do que apenas ser a mãe de seus filhos.
- Você não necessita alimentar inseguranças, Dulce, se me permite chamá-la assim. Meu primo é um monge quando comparado aos outros homens da família, e jamais lhe será infiel. Na verdade, ele deseja mais do casamento do que somente a oportunidade de gerar herdeiros e garantir a salvação do clã. Conheço meu primo e sei o que digo.
Leonard falava com sinceridade, mas as dúvidas e incertezas não abandonavam Dulce.
- Contrair matrimônio não é uma decisão fácil, pois não é só meu destino que está em jogo, mas também o de meus filhos. Há tantas coisas que devo considerar... e Christopher me pede que decida em uma semana!
- Não somos muito diferentes das pessoas normais.
- Mas são diferentes!
- Ser um pouco diferente dos demais não deveria significar problemas para seu clã - respondeu Leonard de forma vaga. - Somos capazes de levar uma vida quase normal, amar e ter filhos. O que contam a nosso respeito são lendas e não a realidade. De qualquer maneira, é Christopher quem deve lhe contar nossa história. Agora devo sair daqui - ele sorriu e inclinou levemente o tronco num gesto respeitoso, antes de desaparecer entre as sombras.

Dulce logo compreendeu a razão de Leonard partir com tanta pressa: as venezianas das janelas foram erguidas pelo lado de fora, e a luz do sol inundou o estábulo. Cansada de tantas conversas e emoções fortes, ela resolveu que era hora de voltar, e em breve já caminhava pelas vielas da propriedade feudal e atravessava o grande pátio onde os Martin realizavam as tarefas do dia-a-dia. Pouco depois, adentrava o castelo. Após atravessar os corredores iluminados por velas, deparou com Christopher no salão principal. Sentado à grande mesa, ele conversava com Manus, outro cavaleiro do clã dos Uckermann cuja lealdade ao lorde estava acima de suspeitas. Ao lado deles, outros membros do clã escutavam a conversa com atenção e respeito.
Dulce fitou aquele lorde que desejava desposá-la. Sua beleza masculina era tamanha que chegava a lhe provocar um aperto no coração. Christopher ergueu a cabeça e sorriu para ela, mas seguiu a conversação com Manus. Um lorde atraente, rico e nobre como qualquer esposo que ela poderia almejar. Contudo, ele não suportava a luz do sol, possuía dentes afiados como os de um lobo, apreciava comer carne crua... e diversos membros de seu clã habitavam cavernas subterrâneas sob o castelo! Havia motivos de sobra para que se preocupasse, mas mesmo assim já não desejava partir: sentia carinho e ternura demais por aquele homem.
Dulce atravessou o salão caminhando em direção à mesa, e de repente uma certeza se formou em seu coração: ela amava Christopher. Já não podia negar tal sentimento, mesmo que quisesse. Não saberia dizer quando seu coração sucumbira ao lorde de Cambrun.
- Você é um homem vivo - murmurou Dulce como para si mesma ao se aproximar.
Surpreso, Christopher a fitou, tentando não deixar que a esperança de ser amado inundasse seu coração de forma incontrolável, que talvez causasse futuras desilusões.
- Sim, minha dama - foi o que disse em tom suave. - E a única pessoa que pode colocar sua alma em risco se decidir ficar a meu lado é você mesma.

Cavaleiro da Noite - Vondy Onde histórias criam vida. Descubra agora