capítulo 74

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- É verdade, minha dama? - perguntou Christopher, fitando-a com temor.
- Sim. Pretendia lhe contar hoje, e por isso preparei a refeição especial em nosso quarto.
- Há quanto tempo espera nosso filho?
- Há dois meses ou pouco menos. Engravidei logo depois de casarmos. Eu lhe disse que era uma mulher fértil. - Dulce odiava ter de revelar as coisas dessa maneira.
- Estão vendo? – disse Diego, erguendo o olhar e dirigindo-se aos sangue-puro espalhados pela caverna. - Se não agirmos rápido, em breve seremos liderados por um herdeiro infame, que terá ainda menos sangue-puro nas veias que nosso senhor atual. Temos de acabar com esta linha impura antes que arruíne nosso clã.
- Difícil acreditar que você possa sugerir tal absurdo, Diego- soou uma voz feminina de repente.
Ainda estupefato com o que acabava de saber, Christopher viu quando Agnes deu um passo adiante e enfrentou Diego.
A elegante senhora de cabelos grisalhos era uma das mulheres mais idosas e respeitadas entre os sangue-puro, e todos a fitavam agora. Diego sugeria quebrar uma das mais antigas e valiosas regras que norteavam as tradições dos MacNach: a de jamais fazer mal a uma mulher grávida ou a uma criança. Um murmúrio de consternação se ergueu na caverna, demonstrando que Diego começava a trilhar um caminho que poderia levá-lo ao isolamento.
- Velha, você se acostumou a ter pena da gente de fora de nosso clã e a cuidar de suas doenças e mágoas, mas é por causa desta prostituta que Angelique morreu.
- Angelique morreu porque tentou matar a esposa do senhor de Cambrun - replicou Agnes. - Não tente semear a discórdia entre os MacNach, e jamais se atreva a nos pedir que manchemos nossas mãos com o sangue de uma mulher grávida e seu filho não nascido. Este será o primeiro MacNach gerado em dezenas de anos, e mesmo que sua mãe pertença a outro clã, este feto carrega em si o sangue de nossa família e perpetua nossa linhagem! - as palavras daquela senhora provocaram murmúrios de aprovação entre os sangue-puro.

- Então concorda em macular nosso sangue com o sangue imundo dos de fora?
- Você já está nos cansando, pois só repete o mesmo insulto - disse Duncan, entrando na disputa. - Melhor que se cale.
- Mais um de fora que se atreve a nos dar ordens. Como pode dar atenção a esta gente imprestável? - perguntou Diego, fitando Christopher.
Duncan rugiu ao ouvir tal insulto e se adiantou para atacar Diego, mas Christopher se colocou entre os dois para evitar o confronto. Contudo, imediatamente a surpresa, o choque e a curiosidade tomaram conta dos presentes, pois se Dulce parecia uma gata furiosa ao se zangar, seu irmão se tornava um leão selvagem.
- Oh, meu Deus - murmurou Dulce. - Duncan está perdendo o controle.
- Já percebi - disse Jankyn com um leve sorriso.
- Não há nada de divertido nisso - avisou Dulce. - Não pode imaginar do que Duncan é capaz quando perde a cabeça.
- Eu o desafio a lutar, Diego- interveio Christopher, tentando evitar uma luta entre o sangue-puro e Duncan. - Se eu morrer, declaro publicamente que designo Jankyn meu herdeiro e protetor de minha esposa; e se algo acontecer a ela e meu filho, então escolho Jankyn para me suceder no trono de Cambrun, e Raibeart será seu primeiro cavaleiro.
Christopher notou com satisfação que uma sombra turvava o olhar de Diego, que sem dúvida compreendia o que tais escolhas implicavam: Jankyn e Raibeart eram totalmente sangue-puro, e isso anulava o argumento de que o clã dos MacNach estava sendo maculado por permitirem a intromissão de membros de outros clãs na família. Ao fazer esta escolha, Christopher isolava Diego ainda mais e conquistava aliados.

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