Capítulo 5

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- Suponho que estes picos sempre enevoados despertem a imaginação das pessoas, Nani - Dulce sentia-se curiosa a respeito das lendas da região.
- No vilarejo em que paramos ontem, eles escutaram comentários a respeito de seres das trevas que infestam estas florestas, e sobre o lorde que habita um castelo num dos picos das montanhas... um lorde mais forte que o mais forte dos homens e que nunca sai durante o dia. Os habitantes do vilarejo contaram que esses seres possuem dentes afiados como os de um lobo, e que são capazes de enfeitiçar senhoritas virgens, fazendo-as entregar a castidade. Contaram também que um deles foi capturado há pouco tempo, ao ser flagrado no leito com uma mulher do povoado, e que doze homens foram necessários para subjugá-lo. Ah! Disseram ainda que seus ferimentos saravam em instantes...
O tom irônico de Nani demonstrava que ela não acreditava em tais contos e os considerava fruto da imaginação popular. Mesmo assim, Dulce estava contente que tal descrença não a impedisse de contar a história.
-Eles o mataram, Nani?
- Sim. Um padre determinou que fosse acorrentado num cadafalso e lhe deceparam a cabeça. O padre ainda disse que, mesmo morto, era necessário queimá-lo e reduzir seu corpo a cinzas, pois se tratava de um demônio, um ser das trevas.
- Que crueldade! Talvez fosse inocente.
- Não creio que fosse um demônio, mas inocente não devia ser... e sem dúvida a conduta moral das mulheres do povoado não parece das mais apropriadas.
Dulce suspirou, preferindo calar, pois não queria discutir com a senhora que viajava com ela. Apesar de não fazer parte da família, Nani tinha preceitos morais severos, e por isso Christian, seu irmão, a escolhera para acompanhá-la na viagem, sabendo que Nani a vigiaria e não permitiria que fizesse nada que não fosse considerado apropriado. O clã dos Saviñón era conhecido pelas castas regras morais que defendia, mas Nani era ainda mais exagerada que Christian ao defender a moralidade e o comportamento virtuoso.
Dulce enchera-se de excitação quando o irmão consentiu que ela aceitasse o convite para visitar a prima, pois era a primeira vez que se ausentaria do castelo onde vivia, o feudo de Dunsmuir.
Sua prima Bárbara casara com um nobre que possuía amizades na corte, e essa visita significava a chance de conhecer cavaleiros e um estilo de vida sobre o qual até então ela somente ouvira falar, com bailes, banquetes e casos de amor e casamentos entre membros de clãs diferentes. Contudo, era de se esperar que seu irmão super protetor fosse descobrir uma maneira de mantê-la sob controle, e Nani era a garantia de que ela não se entregaria aos prazeres que uma vida mais mundana podia oferecer.
De qualquer forma, Dulce estava feliz ante a perspectiva de fazer novas amizades e conhecer um pouco do mundo fora dos muros do castelo de Dunsmuir.

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