capítulo 47

524 38 0
                                    

- Pertencemos a uma linhagem diferente, nada mais. São traços de família: somos mais fortes que o comum das pessoas, nos movimentamos com maior rapidez e vivemos mais que o normal.
- Quantos anos você viverá?
- Difícil dizer, pois não existem muitos homens descendentes de ambos os mundos como eu. Somos talvez uma dúzia agora, e outros mais que existiram no passado, mas eu envelheço em ritmo normal. Alguns dos que me antecederam viveram por volta de cem anos, talvez menos. É impossível assegurar com certeza.
- Cem anos? - replicou Dulce surpresa. - É uma longa vida, sem dúvida.
- Por isso hesitei em casar-me com uma mulher de fora de nosso clã, pois antigamente acreditava que viveria mais que minha esposa, tal como meu pai. Sua dor foi enorme quando minha mãe faleceu. Sua vida perdeu o sentido, e ele passou a enfrentar a morte de modo deliberado, até encontrá-la.
- Ele amava tanto sua mãe?
- Quando nos unimos a alguém por amor, a união é indestrutível e profunda; quando perdemos a companheira, é como se perdêssemos a alma. Era impossível descrever com palavras a dor de meu pai quando minha mãe faleceu. Os Uckermann podem se comportar de maneira promíscua, mas o amor os torna fiéis e a morte de um cônjuge significa a morte do outro.
Dulce ouvia-o com fascinação
- Quantos anos vive um sangue-puro absoluto?
- Incontáveis anos. Um sangue-puro Uckermann tem envelhecimento vagaroso, em virtude da capacidade de se recuperar de ferimentos. Há maneiras de matar um sangue-puro: decepando-lhe a cabeça, queimando-o ou causando nele um machucado que provoque hemorragia tão grave que anule o poder de rápida recuperação.
- Compreendo. Mas você não é sangue-puro por completo, meu lorde?
- Sou só por parte de pai, por isso demoro mais a me recuperar de ferimentos e envelheço com mais rapidez. Creio que é isso que os sangue-puro mais temem: os casamentos híbridos aos poucos os farão perder a capacidade de viver tantos anos. Eu me zanguei ao saber que não viveria tanto quanto Leonard ou Angelique, porém mais tarde compreendi a verdade, e até hoje me recordo de uma lição dada por meu pai: não importa quantos anos vivemos, o que importa é o que fazemos durante esses anos. Hoje sei que uma vida longa demais pode ser uma maldição.
Christopher se calou um instante, e então tomou um gole de vinho na taça de prata que cabia ao senhor do castelo. Depois ele se ajoelhou diante de Dulce, tomando a mão dela entre as suas.

Cavaleiro da Noite - Vondy Onde histórias criam vida. Descubra agora