capítulo 72

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Irada, Dulce cerrou os punhos, lutando contra o impulso de levantar e acertar um golpe no desprezível Diego. Mas ela sabia que arriscaria a vida se o fizesse, apesar de nada garantir que ele fosse deixá-la viver mesmo depois de Christopher aparecer.
- Pena que Angelique não esteja aqui para apreciar isso... - Diego comentou. - Ela ansiava pelo momento em que destruiríamos esta mulher infame que se atreveu a se tornar a senhora de Cambrun. Custa acreditar que Christopher tenha tido força para vencer Angelique, mas pagará por tê-la assassinado.
- Christopher não assassinou Angelique! - Dulce protestou. - Ela nos teria matado caso Christopher não nos defendesse. Se deseja trair o senhor de Cambrun para tomar seu lugar, pelo menos tenha a coragem de não usar mentiras para fazê-lo.
Diego ergueu o braço para acertar-lhe um golpe, mas antes que o fizesse uma mulher alta e de mais idade se colocou entre os dois, oferecendo uma taça de cidra a Dulce, como se não percebesse que impedia o ataque. Entretanto, o amável sorriso que a senhora exibia ao lhe passar a taça demonstrava que ela sabia muito bem o que fazia.
- Agnes! - rugiu Diego. - Esta desgraçada não é uma hóspede de honra!
- Mas também não é criminosa! É uma dama bem-nascida, irmã de um lorde, e merece ser tratada com cortesia.
- Uma dama mortal vale menos que uma campesina. - Diego não escondia seu desprezo.
Dulce sorveu um gole de cidra. Concluíra que Diego a provocava intencionalmente, buscando fazê-la replicar e atacá-lo com palavras. Pretendia criar pretextos para incriminá-la. Seu jogo estava claro, mas pelo visto os presentes nada percebiam.
Acreditava Diego que seria tão fácil? Não considerava que teria de enfrentar também Jankyn e Raibeart, assim como outros membros do clã que descendiam de casamentos híbridos? Sem contar que os MacMartin também se manteriam fiéis a Christopher. Diego causaria uma guerra no interior do clã, e, a julgar pela natureza especial dos MacNach, seria uma guerra longa, brutal e sangrenta.

- Em que está pensando? Que será salva por seu lorde galante? – Diego interrompeu suas conjecturas.
- Não - replicou Dulce, controlando-se para não dar vazão à ira. - Eu me perguntava por que você tudo faz para destruir o clã que afirma querer salvar.
- Não diga tolices!
- Não são tolices - continuou Dulce, percebendo que um sangue-puro se aproximava e se postava atrás dela, não como se a ameaçasse, mas sim num gesto de solidariedade. - Sei que não pretende deixar que Christopher e eu escapemos com vida, mas acredita que vai conseguir ocupar o trono de Cambrun sem problemas? Nem todos os membros do clã estão insatisfeitos com o senhor dos MacNach. Meu marido tem sangue misto, pois sua mãe não era sangue-puro, mas Christopher segue sendo filho e herdeiro do senhor de Cambrun que o precedeu. Além disso, os cavaleiros de minha família também não permitirão que minha morte permaneça impune. E não esqueça que Connal, primo de Christopher, é aliado de meu marido. Você afirma desejar o bem dos sangue-puro, mas só almeja poder para si próprio.
Ao calar-se, Dulce notou que outro cavaleiro se colocava atrás dela; então teve certeza de que Christopher tinha aliados nas cavernas. Melhor ainda, suas palavras pareciam ter causado efeito, pois ela notou que agora alguns sangue-puro conversavam entre si em voz baixa, ou fitavam Diego com ar interrogativo.
- Não tememos mortais ou membros do clã que possuem sangue híbrido nas veias.
- Os MacNach descendentes de mortais por parte de pai ou mãe continuam sendo membros legítimos do clã.
- O pai de Christopher sabia que ia macular o sangue do herdeiro do trono ao desposar uma esposa mortal. Agora seu filho pretende seguir o exemplo infame do pai. Basta! Se Christopherl triunfar, em breve todos estaremos contraindo matrimônio com noivas de fora da família. Seria melhor nos unirmos a porcos do que concordar com tal plano indigno.

Cavaleiro da Noite - Vondy Onde histórias criam vida. Descubra agora