Cavaleiro da Noite - Vondy

capítulo 70

- Sente-se - ordenou Duncan. - Eu devia tê-la deixado dentro do baú.
- Baú? - Jankyn repetiu quando a jovem ocupou a cadeira a seu lado.
- Um baú no qual eu acreditava haver pertences de Dulce, mas que em vez disso continha este tormento em forma de menina. Não compreendo como conseguiu ficar tão silenciosa por quase dois dias - disse Duncan, fitando a jovem irmã. - E me arrependo de não tê-la deixado trancada lá dentro.
Sorrindo, Christopher tomou a sentar depois que os Callan se instalaram à mesa. Outros MacMartin surgiram no salão, trazendo mais comida e bebida, e o grupo de recém-chegados começou a se servir. De súbito, Mora apareceu correndo.
- Meu lorde! - ela gritava com enorme aflição. - A senhora desapareceu do quarto!
O grito de Mora ainda ecoava pelo salão, mas Christopher já corria escada acima. Ao entrar no quarto, notou que Dulce havia organizado uma refeição íntima para os dois, mas não havia sinal dela. Angustiado, Christopher percebeu a linda camisola de seda sobre o leito, deduzindo que Dulce fora raptada antes que a pudesse vestir.
- Diego! - adivinhou Jankyn ao chegar logo depois e deparar com o quarto vazio.
- Certamente! - Christopher sentiu uma onda de temor ao pensar no que poderiam ter feito à mulher que amava. - Mas não compreendo como a levou daqui. Dulce não o acompanharia por livre e espontânea vontade.
- Deve haver alguma passagem secreta.
- Meu lorde! - Mora alcançou-os no quarto. - O senhor não esperou para que eu lhe entregasse a mensagem que encontrei.
A mensagem que Mora lhe passou era curta e clara: se quisesse ter a esposa de volta, devia ir encontrar Diego nas cavernas. Praguejando, Christopher deu um passo em direção à porta, mas Jankyn lhe pediu que esperasse um momento, enquanto tirava a mensagem das mãos de Christopher e a lia.
- Não irá sozinho! Não confio que Diego vá honrar o que diz. De qualquer forma, a mensagem não estipula que você vá sozinho.
- O que aconteceu com minha irmã? - Duncan, ao entrar no quarto, adivinhou que algo ruim acontecera.

- Dulce foi raptada.
- Você expôs minha irmã a seus inimigos?
- Tenho de admitir que sim. Mas nunca imaginei que chegariam a este ponto! Ela corre perigo, pois quem a raptou vê a gente de fora do clã como vemos os animais dos quais nos alimentamos.
- Temos de resgatá-la! - disse Duncan. - Sabe onde ela está?
A idéia de confrontar o irmão de Dulce com as cavernas e os escuros segredos de Cambrun era terrível, pois Duncan sem dúvida ia querer levar sua esposa de volta. Christopher tinha a esperança de que a natureza especial do clã dos Christopher o colocasse em posição mais favorável, mas jamais antecipara o que agora ocorria.
- Sei onde está minha esposa, mas não é necessário que venha comigo. Eu a libertarei.
- Irei com você aonde for! É a segurança de minha irmã que está em jogo.
- Não terei como protegê-lo no local aonde vou, pois é muito perigoso. Além disso, essa luta não é algo que você deva presenciar.
- Insisto em acompanhá-lo. Já conheço a natureza de sua família, pois minha irmã partiu há tempo suficiente para que eu me informasse a respeito do clã dos MacNach, e de quem ou o que são. Contudo, algo me diz que você também já sabe quem somos; portanto, acredito que será capaz de guardar os segredos de minha família, assim como eu guardarei os segredos da sua. Ajudarei a resgatar minha irmã - sentenciou Duncan. - Mas lhe darei o direito de matar quem a raptou.
- Talvez tenha sido informado a nosso respeito, mas creio que não tem idéia da selvageria do conflito no qual pretende se envolver.
- Posso não ter dentes afiados, força sobrenatural ou capacidade de me recuperar com rapidez de ferimentos, mas defendo-me bem com os dons que minha natureza me confere.
- Então venha comigo. Mas deve vir sozinho.
- Está bem - Duncan se virou para Mora, que permanecera no quarto e esfregava as mãos com aflição. - Avise meus irmãos e os demais para continuarem com a refeição, e que nos esperem até voltarmos.