O vizinho

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VIII

Narração por Isabela.

Estava desmoronando por dentro, mas não deixaria isso exposto em momento algum. Nem mesmo minha mãe saberia a quão ferida estava por conta de tudo o que havia acontecido na noite passada.

Dentro do carro, coloquei a jaqueta do Ruan, que em breve devolveria e encostei minha cabeça na janela. No caminho, minha mãe, como sempre fez o seu interrogatório.

― De quem é essa jaqueta, filha? - Ela perguntou.

― Ruan me emprestou ontem. - Respondi.

Isso não havia sido o suficiente e a minha mãe não consegue segurar sua língua quando é necessário.

― Vou perguntar mais uma vez: ele não tem namorada?

― O que uma coisa tem a ver com a outra? Se a senhora está preocupada sobre eu estar me metendo no relacionamento alheio, pode ficar bem tranquila, esse papel eu não desempenho com tamanha naturalidade.

― Precisa ser tão ignorante assim, Isabela? - Ela ficou com raiva.

― Isabela. - O Yuri achou-se no direito de me repreender por conta da forma que falei com a minha mãe.

― Eu não fui ignorante, eu só não quero más interpretações e, principalmente, ouvir comentários que induzem isso. - Disse.

― Está vendo isso, Yuri? - Ela olhou para ele

― Ela sabe muito bem o que faz, tia. Não quero saber dessa história.

Eu estava sendo consumida pelo ódio e o Yuri se aproveitando da situação. Ele sabia que eu não contaria para nenhum familiar sobre a atitude dele e eu já estava começando a considerar isso. Cada vez que ele me olhava pelo retrovisor eu sentia medo, vergonha e nojo por ter me apaixonado por alguém como ele.

― É muito bom você não querer saber e ficar no seu lugar cuidando da própria vida. - Disse.

― Acordou virada, Isabela? - Minha mãe olhou para trás e viu o quanto estava irritada.

― Não, mas acabei de ficar.

O assunto foi encerrado e fomos em silêncio até a nossa casa.

Reconheci o meu novo lar assim que o Yuri entrou na rua. Só isso para me deixar um pouco mais feliz no dia de hoje. Orgulhei-me da grande escolha que havia feito junto com a minha mãe.

Assim que sai do carro, dei-me conta que teria sido bem melhor se eu me mantivesse ali dentro. Mas aí já era tarde demais.

Primeiro, o barulho de algo se espatifando no chão seguido por sons de briga entre duas mulheres.

― Sai da minha casa, sua vagabunda! Eu já falei mil vezes que eu não quero você aqui dentro, sua cachorra.

O temporal em forma de mulher se aproximava de nós enquanto a minha gargalhava logo atrás de mim. Aquilo me assustou, encostei no carro do Yuri e aguardei ele abrir o porta malas para pegar as minhas coisas.

― Vizinhança animada. - Minha mãe disse guardando seu celular.

― Quero nem imaginar o que deve vir daí de dentro. - Não gostei do que ouvi e mantive meu foco em apenas pegar minhas coisas e entrar de pressa em casa.

Nesse pouco tempo, apenas algumas coisas já estavam fora do carro do Yuri, uma mulher preta saiu correndo do portão do vizinho e por falta de atenção, também de desespero, seu corpo chocou-se ao meu. A tempo pude segurá-la para que não caísse.

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