Jogo do poder

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Narração por Ruan.

— Por quanto tempo ainda vamos fingir que não precisamos conversar? – Tomei a iniciativa em conversar com a Victória.

A noite estava chegando ao fim e nós dois estamos em seu quarto deitados na cama assistindo um filme em seu notebook.

— Fiquei esperando por você – Ela respondeu se ajeitando em meu braço e suspirou por fim.

— Podemos fazer isso sem brigar dessa vez?

— Nem estou com disposição para isso – A Tóia pausou o filme, sentou na cama e olhou para mim – Você começa então.

Olhei para ela enquanto escolhia as melhores palavras para iniciar aquela conversa.

— Não precisamos nem fazer muito esforço para concluir que esse ano foi o melhor que já tivemos na vida, não é? – Ela concordou com a cabeça – Por mais que a gente não esteja vivendo ainda da maneira que gostaríamos, estamos bem de algum modo.

— Tem nem o que discutir sobre isso.

— Certo – Balancei a cabeça em positivo – Você tem o seu próprio dinheiro, conseguiu um emprego, está indo bem na faculdade, não resta dúvidas que você e a Aline vão chegar onde pretendem. Não importa como, mas você sempre dá o seu jeito para ir onde precisar estar e isso, Tóia, é o que mais admiro em você. Mesmo com todas as suas dificuldades, você chega em algum lugar e é sempre melhor do que o anterior que você estava.

— Por que está dizendo essas coisas? – Desconfiou.

Sua expressão tímida me fez sorrir. A Tóia dificilmente sabe reagir a elogios.

— Porque eu quero saber o motivo de você estar abrindo mão de tudo isso para começar do zero em Porto Alegre.

— Nós já não falamos sobre isso?

— Não o suficiente – Disse – Eu entendi o que você quis dizer aquela vez, mas não é justo. Tudo o que fiz para você, eu não esperei que em algum momento me retribuísse. Não se trata de fazer algo para receber em troca, sabe? A gente precisar estar onde estamos crescendo e você está fazendo isso muito bem aqui.

Ela concordou com a cabeça e encostou seu queixo no joelho.

— Ainda que... – Com dificuldade ela começou a falar e desviou seu olhar para o lado – Ainda que agora eu consiga pensar nisso de um jeito melhor, eu me sinto bastante dividida. Na minha cabeça existe aquilo que é certo e o que irá me fazer bem.

— Qual é cada um?

— O certo seria eu ficar e dar continuidade em tudo que já estou fazendo. E estar ao seu lado independente do lugar é o que irá me fazer bem, mas porque é confortável.

— Precisamos começar a superar isso. Não quero ver a sua vida amarrada a minha, Tóia. Nem mesmo ver você tendo que mudar tudo quando eu precisar fazer isso ou aquilo.

— Eu sei – Disse abruptamente e soltou o ar pesado – Mas eu não sei se consigo fazer tudo isso sem você – Sua voz foi diminuindo e então percebi seu rosto avermelhado – Por isso eu busquei por uma psicóloga hoje – Ela começou a chorar – Eu cheguei ao meu limite. Eu não aguento mais, você também não e isso está afetando muito o Diego. Por mais que a Aline não diga, eu sei que ela também está muito cansada.

— Vai ficar tudo bem – Rapidamente sentei na cama e a abracei.

O meu coração doía ver ela naquele estado, mas eu sabia que era um processo necessário.

— Desculpa, eu estou uma confusão só.

— Tóia – Sussurrei – Ninguém está cansado. Todos nós entendemos e estamos do seu lado por amor.

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