A proposta

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And I wanna know how you feel inside

And if imagination serves me right all night

XI

Narração por Isabela.

As palavras da Victória foram engolidas. A seco, mas foram. Constrangida ou não, optei pelo silêncio. Ele é muito mais útil em situações como essa.

Aceitei a carona do Yuri. Não incomodaria o Diego, já que ele iria ainda deixar o Felipe em casa. Meu primo foi em silêncio o caminho inteiro, pelo menos nesse momento obtive respeito.

Assim que cheguei em casa, notifiquei a minha mãe e fui para o meu quarto. Depois de tomar banho e deitar na cama, demorei a pegar no sono.

Meus pensamentos estavam agitados. Odiava quando não conseguia sequer me acalmar para dormir. O constrangimento levou-me a questionar os motivos que me levaram a me mudar para Curitiba. Ser humilhada em porta de bar não era um deles.

Consegui adormecer quando estava amanhecendo, minha mãe não entrou no meu quarto para me acordar e por conta disso apenas despertei por volta das 11 horas sentindo-me cansada.

Fiz a minha obrigação rotineira: manter a casa limpa. Enquanto isso, a minha mãe preparava o almoço.

Depois de me livrar daquele cheiro de cloro com um longo banho, sentei-me à mesa para almoçar com a minha mãe.

― Aconteceu alguma coisa ontem? - Débora perguntou.

― Não. - Respondi.

― Me engana que eu gosto. - Ela riu e eu me mantive em silêncio - Brigou com o Ruan? - Insistiu.

― Não.

― Não quer conversar? - Olhei para ela de soslaio após sua pergunta e com o garfo parado próximo a minha boca.

Ela entendeu com aquele olhar que eu não estava a fim de conversar, assim pude voltar a comer em silêncio, como pretendia.

Gosto de falar sobre a minha vida para a minha mãe, normalmente situações como as de ontem não surtem tanto efeito assim, mas dessa vez eu estava envergonhada demais para admitir. Nem mesmo entendia claramente a razão disso. Sabia que se contasse para a minha mãe, ela iria falar meia dúzia de coisas que eu não estava pronta para ouvir e então optei em ficar em silêncio.

Passei a tarde assistindo TV com a minha mãe depois de fazer os meus exercícios físicos. Assistimos dois filmes enquanto comíamos pipoca e brigadeiro. Isso serviu para me fazer esquecer o ocorrido.

No início da noite, o Yuri ligou. Ele queria saber se ainda iríamos sair. O meu erro foi ter atendido ao lado da minha mãe e ela fez pressão para que eu saísse para melhorar meu humor.

Estressei-me só de ouvir a voz do Yuri. Enquanto me arrumava, remoía todo estresse que ele me submeteu. Antes dele chegar, fiquei na sala esperando-o ao lado da minha mãe que já ia para o terceiro filme do dia.

― Desamarra essa cara. - Ela disse.

― Não posso querer ficar em silêncio? - Questionei.

― Você é nova demais para ficar esquentando a cabeça por conta de nada.

― Quem disse que estou de cabeça cheia? - Ela olhou em meus olhos e me permitiu ver seu sorriso sarcástico.

― Eu te trouxe ao mundo, sei muito bem quando você está com a cabeça cheia de coisas que não deveriam tomar tanto a sua atenção. - Disse tentando tirar do pause o filme.

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