III
Narração por Isabela.
Sobrevivi ao jantar com o meu pai e a Heloísa. Motivei a conformação em mim, mas a cada instante ficava nauseada com os comentários sutis dela que tentava reduzir o passado que meu pai teve com a minha mãe.
Não precisava daquilo. Tentei constantemente concentrar-me em outras coisas, mas observar o meu pai com uma postura de total indiferença e descaso fez-me ver que eu não o conhecia mesmo.
No dia seguinte, fui aproveitar a piscina depois do almoço. Meu pai e a Heloísa foram fingir que sabiam jogar golfe.
Sentada em um quiosque próximo a piscina, minha mente não parava um instante sequer. Mesmo quando estava tomando o meu sabor de sorvete predileto.
― Pensei que te encontraria em casa, mas olha que grande surpresa. – As palavras adentraram junto a um simples toque em minha cintura.
O tom entusiasmado e delicioso fez-me descobrir uma escondida saudade. Olhei para trás já sabendo quem encontraria.
― Oi Yuri. – Sorri olhando para seus olhos.
― Desculpa não ter aparecido na sua festa de retorno. – Sua mão deixou minha cintura para tocar a minha bochecha ao tempo que seus lábios tocavam a minha testa.
― Matheus avisou que você tinha viajado para trabalhar com o tio Deco. – Falei – Está desculpado dessa vez. – Ri. – Esperei por seu abraço, mas ele estava tão travado quanto eu.
Não entendi a razão disso. No entanto, o Yuri nunca fez muito sentido para mim. Nosso relacionamento sempre foi grande demais para render espaço para pequenos pensamentos.
Ele sentou no banco ao lado e pediu uma cerveja para o garçom.
― Qual o problema em pedir duas cervejas? – Questionei.
― Você não está tomando sorvete? – Ele riu ao perguntar e direcionou seu olhar para o sorvete já quase derretido no pote.
― Isso eu resolvo em dois tempos. – Dei de ombros – Uma cerveja também, por favor! – Pedi ao barman ao trazer a cerveja para o Yuri.
― Já está abusando, Isa? – Olhei-o de soslaio enquanto tomava rapidamente meu sorvete.
― Eu diria recuperação de tempo perdido. – Respondi após engolir o sorvete. O barman trouxe a cerveja, brindei com o Yuri e o olhei enquanto sorria.
― Eu diria que você precisa recuperar o tempo perdido indo devagar. – Falou negando com a cabeça e deu um gole na cerveja. Ignorei seu comentário bebendo a cerveja.
Não foi uma grande ideia pedir cerveja enquanto ainda havia sorvete. Os sabores não combinaram. Então finalizei o sorvete primeiro e depois a cerveja.
― Como estão as coisas com a dona Débora? – Perguntou – Veio com ela passar os dias? – Neguei com a cabeça.
― Vim com o meu pai e a Heloísa. – Respondi e instantaneamente ele me olhou desconfiado – Você não achou que eu fosse deixar o circo passar pela cidade sem que eu pudesse dar o meu show, né? – Ri negando com a cabeça – Se tem uma coisa que eu não gosto é de gente que joga sujo.
― Você sabe bem como entra e sai de uma confusão. Não estou aqui para lidar lição de moral, mas você acha que vale o desgaste? – Ele me questionou – O tio está cego por essa mulher. Seu pai está sendo burro demais, com todo respeito. Desfazer a parceria com o meu pai só porque a Heloísa não considera o meu pai confiável? – O Yuri demonstrou sua indignação – Largou casamento e família por alguém que não faz nem metade por ele.
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Onde você estava?
Romance"O que você faria se a sorte parasse de jogar ao seu favor?" é o que Isabela Bernardes pensou ao se dar conta que a sua vida já não era mais a mesma de um ano atrás quando sofreu um acidente de carro que a levou ao coma. Para ela, a mudança para Cur...