Desgastes

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Narração por Ruan.

O final de semana se aproximava juntamente com a certeza de que negaria a proposta de trabalho. Ao chegar do trabalho, notei a casa estranhamente silenciosa e então me dei conta de que a minha irmã ainda estava no trabalho. Após tomar banho, abri uma lata de cerveja e comecei a preparar o jantar. O barulho da porta da sala abrindo chamou a atenção e logo o perfume da Tóia preencheu o ambiente.

― Boa noite - Disse quando vi sua sombra passar em direção ao corredor, mas não obtive resposta.

Continuei a preparar o jantar, vez ou outra mexia no meu celular enquanto bebia a cerveja. Sem precisamente dar conta, já havia formado um conjunto de seis latas em cima da pia.

― Diego buzinou aí? - Minha irmã apareceu na cozinha e seu tom denotou desânimo ou cansaço. Não soube bem definir.

― Não - Respondi olhando-a dos pés a cabeça e então fui prestar atenção na carne.

Ela vestia o que eu configuro como pijama, mas pra ela pode ser o que bem entender. Entre seus dedos estava um cigarro esperando para ser aceso.

― Tudo bem - Respondeu, então de relance vi ela seguir para a saída da casa.

― Está levando sua chave? - Falei num tom mais alto.

― Sim.

Não cheguei a perceber o momento que o Diego chegou para buscar ela. Depois do jantar, deixei a louça limpa, escovei meus dentes e sai para colocar o lixo na rua.

Minha atenção foi logo tomada pela Isabela que estava parada perto de seu portão e tinha seu celular nas mãos. Aparentemente esperava por alguém.

O destino deve estar decepcionado com a gente. Todo o trabalho para nos unir mais uma vez parecia desperdiçado nesse momento.

A ação de deixar o lixo na lixeira que antes eu fazia de modo tão rápido, dessa vez demorou porque eu não conseguia deixar de observar os traços da Isabela. Impressionava a minha imaginação ver seu cabelo contra o vento e a expressão otimista que ela tinha ao digitar no celular.

― Não sabia que é falta de educação olhar e não desejar pelo menos boa noite? - A Isabela me puxou para fora dos meus pensamentos com sua voz doce.

― Boa noite - Respondi na crença que iria apoiar a mão no poste.

Tamanho foi o engano e a prisão nos olhos dela que tropecei no paralelepípedo na crença de que me equilibraria de algum modo.

Antes de me recompor, ela já estava rindo perto de mim e segurando no meu braço.

― Está tudo bem aí? - Ela riu.

― Estou ótimo, não está vendo? - Ri coçando a cabeça.

― Grande desse jeito, se cair vai fazer estrago - Disse.

― A parte ruim é que eu vou ter que me cuidar sozinho - Falei olhando nos olhos dela - Não é?

― Você bebeu? - Afastei-me um pouco e desviei meu olhar - Conheço seu olhar, não preciso nem falar do cheiro de cerveja que você exala - Ela deu um tapa no meu peito chamando a minha atenção, então olhei diretamente para a sua boca e em seguida para seus olhos - Você não trabalha amanhã?

― Estou comemorando - Ri sentindo pela segunda vez naquele dia a tristeza dar sinais de vida no meu coração.

― Qual seria o motivo? - Interrogou-me com o olhar e franziu seu cenho - Aniversário de alguém?

― Não é nada demais.

Deixar mais um projeto para depois claramente era alguma coisa e estava bebendo para esquecer.

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