Entorpecer

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Narração por Diego.

Estranhamente acessível. Assim estava a Victória desde o dia que a convidei para ir ao cinema.

Desde o festival, ela tem chamado a minha atenção, porém suas atitudes me levavam a muitas vezes não querer nem estar perto dela.

Não tinha como agora eu começar a compreender o que me levava até ela, mas eu só sabia que queria. Talvez não valesse o risco, mas eu estava interessado em saber até onde poderia ir.

Como marcado e confirmado por ela, chegou o dia do nosso encontro. Estava me arrumando dentro do banheiro do meu quarto quando a minha mãe apareceu na porta.

— Vai para onde, Diego? – Disse Lígia, a minha mãe.

— Não avisei que hoje iria sair com uma menina? – Respondi enquanto passava meu perfume.

— Fica esperto! – Ela me olhou séria e em seguida voltou sua atenção para o meu quarto – Você deveria arrumar melhor essa bagunça.

— Quando eu voltar limpo direito – Sai do banheiro, peguei o tênis que estava na sapateira e sentei na cama para calçar.

— E vai voltar hoje ainda? – Disse desconfiada.

— Não tenho? – Parei o que estava fazendo por um instante para encarar ela.

— Só estou dizendo para evitar.

Minha mãe falou aquilo e continuou me sondando no quarto. Ainda estava fazendo o que não gosto: arrumando minhas coisas.

— O que aconteceu, dona Lígia? – Questionei.

Ela parou de dobrar a minha roupa que tirei do varal quando cheguei do serviço e olhou para mim. Seu suspiro indicou que viria problema.

— Fala logo, mãe. – Pedi.

Se fosse estresse preferia que ele viesse de uma vez só.

— Seu irmão ligou.

— O que o Henrique quer?

Só de ouvir o nome do meu irmão mais velho, pensamentos sobre o caos que ele causou na nossa família fez com que eu sentisse raiva.

— Ah, nada demais – Desconversou ao perceber meu estado – Quando voltar nós dois conversamos.

— Imagino o que seja isso, até porque toda vez que ele liga é pra perguntar como você e o pai estão – Levantei da cama, já havia terminado de calçar o tênis – Quando voltar, vou ligar para o Henrique.

Coloquei o celular, carteira e a chaves dentro do bolso da minha calça.

— Por favor, Diego, não briga com o seu irmão de novo – Minha mãe veio até perto de mim – Não tem motivo para estresse, eu nem deveria ter falado isso para você.

— Nós não combinamos que seria dessa forma? – Encarei-a – O Henrique não voltaria a pisar mais aqui, certo? E se ele voltar, faça uma escolha: ele ou eu. A resposta do meu pai eu já sei muito bem.

Dito isso, deixei meu quarto e fui em direção a saída. Ao passar pela sala, meu pai estava a assistir TV.

— Já vai sair novamente? – Disse Alexandre, o meu pai.

— Tenho compromisso, mas não volto tarde – Avisei – Se precisarem de algo é só me ligar.

— E adianta ligar? Você só quer saber de farra, fica igual vagabundo dormindo sabe-se lá Deus onde e nem avisa direito – Meu pai começou seu mantra diário – Aqui não é pensão para você fazer o que bem entende. Deveria tentar pelo menos ser um pouco como seu irmão e buscar ser mais homem. Independente e responsável comigo e com a sua mãe.

Onde você estava?Onde histórias criam vida. Descubra agora