Luzes apagadas

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II

Narração por Isabela.

O dia chegou. Sexta-feira trouxe consigo o desânimo para estar na presença do meu pai. Estava refletindo e amadurecendo tantos sentimentos dentro de mim ao mesmo tempo que às vezes esquecia-me de observar o céu, respirar fundo, tomar café enquanto agradeço pela manhã. Coisas que costumava fazer antes do acidente. No momento apenas sinto-me apenas cercada de energias negativas enquanto luto para afastá-las.

Tentei não demonstrar, mas estava de pouco em pouco tentando compreender o que estava sentindo em relação a Viviane e o Luís. Partes de mim estava sumindo.

Ou melhor, eu estava despencado de uma maneira que jamais esperei.

Assim eu estava caminhando para compreender a não relativizar a dor do outro e que não há a possibilidade de partir de mim para explicar o que o outro sente. Cada um vive e sente uma perda a sua maneira. Eu estava vivendo ao meu modo tudo isso, minha mãe também.

Estamos vivas, porém carregando o sentimento de ser insuficiente para alguém.

Dói. Como dói. O peso das lágrimas arranca-me o ar por diversas vezes. Mas tudo bem, eu vou superar.

Essa é a minha fé.

Como continuava fazendo acompanhamento médico, ocupei boa parte da minha sexta-feira com essas questões. E também por pretender ajudar a minha mãe junto a um profissional da psicologia. Sei dos riscos da automedicação e eu não queria que a minha mãe chegasse ao extremo sozinha. Percebi aos poucos que apenas os meus cuidados de filha não eram o bastante.

Como combinado, no início da noite meu pai enviou uma mensagem dizendo que estava a caminho. Deixei a minha pequena mala ao lado da porta da sala e sentei no sofá aguardando-o enquanto mexia em meu novo celular.

― Você se comporta hein, Isabela. - Minha mãe realizou sua vigésima tentativa de censura.

― Eu sou uma dama. - Respondi em tom de deboche com um breve riso sarcástico.

― Só não traz mais dor de cabeça para sua vida, estou te alertando para depois não voltar chorando.

― Eu coloquei Dorflex na minha mala, pode ficar tranquila. - Sorri docemente, deixando transparecer a má intencionalidade no meu tom.

A minha mãe resolveu não questionar mais por ser conhecedora do meu gênio. Por conta disso o assunto fora mudado completamente.

― E a faculdade? - Perguntou-me.

― Não sei. - Declarei sem rodeios.

Não nego que em alguns momentos pensei a respeito disso, mas não sentia em meu íntimo o desejo de retornar. Muitas coisas estavam bagunçadas na minha vida e eu queria consertá-las antes de retornar.

Estava guardando para mim um medo que fugia do meu controle. Meu coração acelerava só de ouvir a palavra "faculdade". O tempo não passou para mim na mesma intensidade que foi para as outras pessoas e talvez eles não tivessem a mesma percepção. Mas o fantasma da ansiedade ainda vigiava o meu sono ou encarava-me através do espelho.

― Agora ir atentar o seu pai você sabe, né? - Ela não poupou as palavras e eu me silenciei. Não sentia a necessidade de expressar o meu medo para ela.

Não agora.

― O seu mal é sempre esperar o pior de mim. - Levantei do sofá e fiz com que o meu cabelo caísse nas costas. Meu pai havia mandado uma mensagem avisando que havia chego, então era a hora de me despedir.

― Já disse que sei o tipo de filha que coloquei no mundo. - Olhou-me de soslaio.

― Eu espero que meu pai saiba também. - Andei na direção dela e a abracei - Meu pai chegou, estou indo. - Beijei seu rosto.

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