Zack tem conversa com filho

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Zack

Encontrei Caleb sentado na escada, toquei em sua cabeça e ele desceu comigo, contente e batendo a bola na luva.

- Eu tenho uma luva desta... está na garagem, vamos pegar.

- Porque guarda a luva na garagem?

- Porque ela está numa caixa, há muitos anos não a pego. - Sorri para meu filho.

Engraçado que estamos a pouco tempo juntos, mas parecia que o conhecia a muito tempo, nos dávamos bem e isso era muito bom. eu só não sei se estava preparado para as perguntas dele, se é que iria me fazer. Pois Caleb era imprevisível, inteligente e observador.

Puxei uma caixa pequena  e a abri, puxando minha luva e mostrei a Caleb.

- Minha mãe deu para mim quando eu tinha 6 anos. - me sentei sobre a caixa.

Caleb a pegou na mão para ver e eu continuei a contar minhas lembranças, ele precisava conhecer meu lado criança para entender algumas coisas e chegar no ponto chave do que quero conversar com ele.

- Eu tinha acabado de entrar no time aqui do bairro, eram vários coleguinhas, eu só tinha dois amigos, o Fred e o Jeff, o restante da turma não era assim tão sociável. - Sorri, Caleb estava com o olhar fixo prestando atenção em mim.

- Bem!... Minha mãe chegou com a luva para mim... Ficou me olhando examinar a luva e colocar na mão. - Sorri lembrando o sorriso dela. - Eu comecei a chorar, porque ela não cabia na minha mão... era grande demais... Eu não iria conseguir jogar.

- E o que aconteceu?

- Mamãe me encorajou... Ela disse que eu teria que aprender com as dificuldades e obstáculos que iriam surgir na minha vida... Umas seriam difíceis, outras mais fáceis.

- E você conseguiu jogar?

- Por um ano a luva mais saia da minha mão do que ficava nela... então eu aprendi que se eu passasse fita adesiva, ela ficava na minha mão.

Demos risadas.

- Filho!... O que o papai está querendo dizer é que... Na vida da gente, as pessoas vem e vão embora, cada uma toma um caminho diferente e a vida tem que seguir seu curso. - Apoiei a mão em seu ombro. - Você precisa aprender a deixar a sua luva sair da sua mão para você aprender a deixa-la presa a té o momento que termina o jogo.

- Mas a mamãe me fez perder você... - Caleb fez um bico de choro, então entendi o porque da possessividade

- Sua mãe teve os motivos dela para que isso acontecesse... e olha só?... Eu estou aqui, você está aqui e ela está aqui. - Sorri.

Eu odeio o jimmy? - Ele deixou as lágrimas rolarem.

- Não o odeie... por que eu não o odeio! - Disse sorrindo amável.

- Deveria... ele me roubou de você.

- Não, Caleb... Ele ajudou a sua mãe a ficar bem longe do seu avô que não nos amava... Ele cuidou de você e te ensinou a dar os primeiros passo, não posso odiar uma pessoa que ajudou  vocês a sobreviverem, apesar de muita coisa errada que ele fez.

- Você devia odiá-lo! - Caleb não parava de secar o rosto, as lágrimas rolando.

- Nem eu e nem você vamos odiá-lo... Você aprendeu a ama-lo como um pai e deve continuar... mas ele morreu e eu estou aqui e sou seu verdadeiro pai, vamos continuar juntos. - O abracei. - Só que precisa aprender a deixar as pessoas tomarem seus rumos, Caleb... isso serve para a sua vida profissional, principalmente quando se trata de salvar vidas. - O encarei segurando em seus ombros. - Se você estiver com um caso de parada cardíaca e perceber que não vai conseguir salva-lo, deixe-o seguir seu caminho, você fez o que podia, não pode se culpar e cobrar sobre sua vida... Eu perdi a minha mãe, ela se foi e não pude fazer nada, eu achei que tinha perdido você, sofri por anos, mas aprendi deixar você ir na minha memória, e olha só que presente lindo que eu ganhei... mas Caleb... vai chegar uma determinada idade que você vai querer sair, ir trabalhar, estudar e namorar, vai casar e ter seus filhos e eu e sua mãe não vamos poder te prender por achar que você é nosso... A nossa missão como pais é ama-lo, educar e te ajudar a construir o seu caminho para o futuro, é a mesma coisa a Tia Hellen, eu e Sua mãe... Um dia nós vamos partir, e você precisa aprender a lidar com a perda.

- Eu não quero que você morra, papai! - Caleb me abraçou forte.

- Não vou morrer meu anjo... Apenas estou dizendo que tudo que nasce, morre um dia, tudo que vem, vai embora... Você só tem que tornar isso mais leve... Deixe-as ir... Isso é o siclo da vida.

Caleb me olhou choroso concordando com a cabeça.

- Eu vou tentar ser melhor.

- você é melhor... Você é tudo para nós... Tenha certeza disso Caleb, amamos você, mas também sabemos a hora de deixar você seguir seu caminho quando estiver pronto para isso. - Me levantei. - Agora vamos jogar e deixar nossas luvas saírem das nossas mãos, e você vai usar a minha luva.

- Você quer que eu faça como a vovó fez com você.

- Isso!... Quero que aprenda a deixar a luva na sua mão o tempo que precisa que fique.

Seguimos para o Jardim e passamos a jogar, Caleb foi se soltando e aprendendo a deixar a luva presa a sua mão, até que cansamos, entregando o jogo para o cansaço.


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