Desejo poupar, com a sua licença, toda a explicação de como as duas ficaram tão íntimas. Confie em mim, o máximo que você vai perder é um longo diálogo raso.
Elizabeth era a melhor bailarina da Escola Senhorita Lis, sempre ganhava prêmios e muitos elogios. De um talento nato, a menina ainda desfrutava de grande beleza - não era a toa que os rapazes das aulas de piano e flauta disputavam a atenção dela.
A família Justine era muito rica e de bom gosto. A casa deles tinha decorações vindas de toda a parte do mundo. Ana de Luz sempre ia visitá-los e passava o resto da tarde conversando ou aprendendo algumas técnicas de balé com a amiga. Ofélia nunca se importou com isso. Na verdade, até gostava de saber que a sobrinha andava com uma família distinta, brasileira e bastante católica.
O problema era que Elizabeth era uma esteta, no sentido mais bem definido pelo filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard.Ela vivia em função da circunstância e do prazer imediato. Não tinha ética nem religião. Eu vou ser mais clara: para ela, os pais só eram interessantes quando davam dinheiro e liberdade; o pretendente só tinha valor enquanto continuasse sendo o mais bonito do grupo, e a amiga só era respeitada enquanto fosse conveniente.
Foi assim que Ana de Luz, mais uma vez, questionou Deus pela brincadeira de mau gosto. Ela, que daria tudo para ter Enzo e Lakina de volta, tinha que suportar a dor da ausência. Elizabeth, por outro lado, que nunca demonstrou amor pelos pais, era coberta de afetos. Será mesmo que Deus existe ou tudo não passa de um desejo no imaginário humano? - perguntou a si mesma.
Se a menina Justine via as pessoas como um descartável, a culpa não era apenas de seu egocentrismo, acredito eu. Os pais, Marcelo e Laura, eram tolos como uma porta e sempre caiam nas mentiras e chantagens da filha. A educação frouxa deu espaço a uma vida falsa e promíscua.
- Quer, de Luz?
- Oh, Deus! Você fuma? Cuidado para ninguém ver!
- Relaxa! Você é muito tensa! Vai...Experimenta...
Quando Ana de Luz completou 15 anos, Elizabeth a convenceu de faltar o balé para comemorar o aniversário num lugar especial. Em poucas horas, estavam no topo do prédio da prefeitura, com duas garrafas de cerveja, uma fatia de bolo e uma vela nas mãos.
- Você é maluca!
- Ah, de Luz! Não é todo dia que minha melhor amiga completa 15 anos! - riu - Um brinde!
As meninas encostaram uma garrafa na outra e beberam. O vento lá de cima batia forte. Ninguém imaginava que as duas bailarinas estavam dançando na sacada do prédio, enquanto o prefeito lia a notícia da Segunda Guerra no jornal da cidade.
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Ana de Luz e o Circo da Alegria
ChickLitUma senhora, nascida em 1929, resolveu me contar sua história: uma infância solitária na mansão de tia Ofélia e uma juventude embevecida por um homem temido, vinte anos mais velho, dono do circo da cidade. Você vai se emocionar!