29. Diálogos

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— Gostou? - perguntou Gorro

— Eu não sei explicar o quanto!

— E não precisa! Seu sorriso já diz o bastante.

— Muito obrigada por tudo isso! Eu jamais esquecerei... - esfregou as mãos, mas não era de frio, estava nervosa mesmo - só estou preocupada. Não consigo achar Elizabeth...

— Sua amiga? Com certeza ela já foi. Não se importe com isso...Posso deixá-la em casa.

Ana pensou um pouco antes de responder, mas estava certa de que não havia uma opção melhor. A mansão de tia Ofélia ficava a 6 km do circo, e voltar com Gorro seria um grande privilégio.

— Ah, eu agradeço! Não queria incomodar...Sei o quanto está cansado, mas...

— Ah, por favor, não diga isso! Eu adorei a sua companhia! Você tem muita luz, Ana! Deixá-la em casa será tão prazeroso para mim quanto o circo foi para você. Agora me diga: deseja voltar do modo tradicional ou com emoção?

— O que isso quer dizer? - ela sorriu, ainda encantada com os elogios que havia recebido.

— Vamos! Escolha! Não seja medrosa!

— Ah! Com emoção, então!

Em poucos minutos, Ana de Luz estava diante de um belo corcel branco. E aquela foi a primeira vez que cavalgou – uma boa escolha para uma noite fria.

— É aqui!

A jovem pediu para que Gorro parasse por trás da casa dos portugueses. Quando ele fez isso, os dois desceram do cavalo. A rua dos fundos era deserta e um pouco escura, mas não havia perigo, porque naquela época a ética não estava fora de moda.

— É aqui que você mora?

— Bom, eu não pretendia falar nada, mas a verdade é que tive que sair escondida porque a minha tia me proíbe de ir ao circo – respondeu de uma vez só, sem respirar.

— Sério, Ana? Que tipo de pessoa não gosta de circo? - ele sorriu confuso – Não se preocupe! Será o nosso segredo. A propósito, eu gostaria que soubesse que pode confiar em mim.

Ela balançou a cabeça confirmando e agradecendo. Os dois ficaram parados, um de frente para o outro, era hora de se despedirem, mas aquilo, estranhamente, parecia difícil.

— Gorro, eu moro na mansão ao lado.

— Você é sobrinha de Ofélia? - perguntou um pouco espantado.

— Ah, meu Deus! Você a conhece? Por favor! Não conte nada a ela! São amigos? Ah, meu Deus!

— Não! Calma! - ele segurou nas mãos dela - Eu concordo com você! Ela não deve saber de nada. Eu já disse que pode confiar em mim, não disse?

Ficaram em silêncio por alguns segundos, até que Gorro perguntou:

— Ana, você gosta de morar aqui?

Ela deu um passo para trás, defendendo-se de uma pergunta tão íntima e direta. O homem não recuou e esperou a resposta.

— Eu não tenho outra opção...Meus pais morreram... Se não fosse o balé, eu não sei o que seria da minha vida...

— O balé?

— Sou bailarina desde muito pequena. Ganhei alguns prêmios nos festivais da cidade. Meu sonho é me apresentar em grandes palcos, como as meninas que vimos hoje. É essa esperança que me fortalece.

— Nossa... Eu preciso vê-la dançar! Na verdade, eu preciso vê-la outra vez! - falou, com os olhos pouco vermelhos.

Os dois voltaram a ficar em silêncio, um olhando para o outro, ela sorriu delicadamente. Em seguida, o convidou para assistir ao seu ensaio na Escola Senhorita Lis. Gorro ficou muito satisfeito. Deu um beijo na mão dela, subiu no cavalo e partiu. 

Ana de Luz e o Circo da Alegria Onde histórias criam vida. Descubra agora