Badoque voltou ao circo ouvindo o patrão encomendando tijolo e cimento. Gorro estava tão eufórico que nem se importou em saber porque o anão ruivo havia demorado tanto.
— Badoque! Venha cá! Acha que Ana prefere uma decoração branca ou de madeira escura?
— Para o que seria exatamente, patrão? - perguntou, estranhando a forma educada que Gorro se dirigiu a ele.
— Ora, homem! O que mais poderia ser? Vou construir uma casa no lugar dessa tenda velha!
— O senhor? Por quê?
— Um cigano não pode ter uma casa de tijolos? Que absurdo!
— Não quis dizer isso, senhor...é que o senhor nunca gostou de...
— Tá! - interrompeu – Mas agora é diferente! Não moro sozinho! Ana merece todo o conforto. Ainda mais porque está esperando um filho!
— Um filho?
O dono do Circo da Alegria gargalhou.
— Sim, meu caro! Logo haverá um herdeiro dos Rosenlonks correndo neste campo! Achei que já soubesse...Ela conta tudo a você...
— Talvez uma decoração branca seja melhor, senhor...
Badoque apareceu para Ana de Luz como se tivesse de luto.
— Misericórdia! Que cara é essa, meu velho? Não me traz notícias boas?
— Você é quem não me traz, Florzinha de luz! Está grávida?
Ela ficou em silêncio por alguns segundos.
— Meu amigo, eu não queria que ninguém soubesse. Seria mais fácil para fugir. Mas Gorro veio conversar comigo e estava profundamente angustiado. Eu o quero tão bem que vi a necessidade de contar sobre o bebê. Não o amo mais como meu marido, mas posso dar uma segunda chance, em nome da felicidade do nosso filho.
— Não me venha com lorota! Você está pensando é no patrão! A criança vai ser mais feliz fora daqui!
— Sendo criada longe do pai? O que vão dizer? Serei vista como uma mulher perdida e meu filho estará desonrado!
— Você não sabe o que diz! Eu preferia saber que meu pai estava morto ou que minha mãe era uma puta do que crescer vendo-a apanhando!
— Chega, anão! A vida é minha! Não se meta!
Eles se olharam. E o coração dos dois estava ferido.
— Como quiser! Quanto ao que me pediu... Só posso dizer que o Circo Blefuscu é feito de mágica. Lamento que já tenha esquecido o que é isso. Com licença!
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Ana de Luz e o Circo da Alegria
ChickLitUma senhora, nascida em 1929, resolveu me contar sua história: uma infância solitária na mansão de tia Ofélia e uma juventude embevecida por um homem temido, vinte anos mais velho, dono do circo da cidade. Você vai se emocionar!