26. Fino trato
Quando Elizabeth achou que era hora, apresentou o seu passatempo preferido: roubar doces e cerveja na loja de seu Fernando. Para Ana de Luz, foi uma aventura de tirar o fôlego, que se repetiu por várias vezes.
Em tudo, a nossa bailarina foi sendo convencida, exceto na decisão de que o primeiro beijo seria especial – isso Elizabeth não pôde mudar. Ana sonhava em conhecer um rapaz diferente de todos os outros. Ela queria um amor de verdade e estava disposta a esperá-lo, enquanto a amiga enganava e era enganada por pelos enamorados.
Aquela amizade durou um ano e muitos perigos. Ana de Luz se envolveu tanto com os Justines que mal parava em casa. Nem pelas cartas de Enzo ela perguntava mais. Ofélia se incomodou, mas o padre Firmino disse que era coisa da idade, e que era muito melhor que a menina Zancolleoni continuasse andando com uma família de tão fino trato do que se isolando na melancolia, como Lorenzo fez.
Não sabemos como, mas um dia a velha descobriu tudo: a bebida, o cigarro e os roubos.
— Acabou, Ana! Eu a proíbo de ver aquele diabo! Se eu souber que estão andando juntas por aí, eu a expulso de casa, está me ouvindo? Você é uma vergonha para a nossa família! Uma maldição que chegou com sua mãe!
— Eu não sou a única vergonha aqui, tia Ofélia! Eu li uma carta que minha avó escreveu para a senhora! As duas são piores do que Elizabeth Justine! Lorenzo deve ter se matado por sua culpa! Viver nesta casa é muito triste! Por que acha que foi traída por tio Ed?
Ana de Luz levou um tapa no rosto.
— Não conte mais com o meu dinheiro! A partir de hoje, se quiser fazer balé, arrume um jeito de pagar! - respondeu, dando as costas para a menina – Ah, e tem mais uma coisa: seu pai faleceu, suporte essa dor sozinha.
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Ana de Luz e o Circo da Alegria
ChickLitUma senhora, nascida em 1929, resolveu me contar sua história: uma infância solitária na mansão de tia Ofélia e uma juventude embevecida por um homem temido, vinte anos mais velho, dono do circo da cidade. Você vai se emocionar!