Gorro tentou uma reaproximação carinhosa. Parecia o mesmo homem que Ana conheceu antes de fugir da mansão de tia Ofélia. Isso a deixou muito confusa porque ela tinha bons sentimentos por ele. Eu não sei exatamente o que quer dizer "bons sentimentos", mas ela tinha, foi o que me disse, antes de se levantar da mesa para levar uma xícara de café ao marido – uma pessoa que odiaria saber o conteúdo deste livro.
De qualquer maneira, o máximo que o dono do circo da Alegria conseguiu foi dormir na mesma cama que a esposa. A semana foi lenta. Ela vomitou várias vezes, estava apreensiva, não sabia se deveria ou não dar uma chance para conhecer o tio de Marcus. O bilhete tinha poucas palavras.
"Ana de Luz, peço que me dê a honra de conhecê-la. Há muito tempo o seu nome tem acalentado o futuro do Circo Blefuscu. Precisamos de uma bailarina".
Estranho, sem dúvida. No entanto, Marcus também tinha um jeito muito inacreditável. Era gentil e corajoso no ponto certo. O tio poderia não pisar em terras desconhecidas, ainda mais quando sabia que não era bem-vindo, mas o sobrinho, por outro lado, era cheio de presença.
O problema é que algo embaraçoso aconteceu. Zulka procurou Ana para uma conversa. E esperava uma transparência que era impossível de ser atendida.
— ...Com tudo o que aconteceu, não pude contar como foi sábado! Mas desde então, não consigo pensar em outra coisa. Marcus me escolheu para fazer a leitura... Estou apaixonada!
— Oh, Deus! É mesmo? - perguntou surpresa, tentando entender tudo – E então? Vocês conversaram?
— Um pouco... Ele não está comprometido com ninguém, por sorte! Na hora de sair, me deu este colar e disse que era um presente. Queria saber o que significa...
— No mínimo, que teve um apreço por você.
— Você acha? Estou profundamente triste! Eu vi a morte perto dele, Ana! As cartas também não diziam outra coisa.
Ana de Luz engoliu seco.
— Deus o livre! Ele é muito jovem!
— Sim! E é com ele que quero casar! Farei o possível para conseguir. Ana, me diga, você o viu?
— No sábado? Vi quando chegou com outros.
— Viu no domingo?
— No domingo? Ele esteve aqui?
— Sim! Ele esteve.
— Certamente eu não o vi.
Maldita mentira! Zulka se inflamou de ciúmes e teve a certeza de que Ana de Luz estava interessada em Marcus, chegando a acreditar que o bilhete de Tião fosse, na verdade, uma carta de amor.
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Ana de Luz e o Circo da Alegria
ChickLitUma senhora, nascida em 1929, resolveu me contar sua história: uma infância solitária na mansão de tia Ofélia e uma juventude embevecida por um homem temido, vinte anos mais velho, dono do circo da cidade. Você vai se emocionar!