30. O príncipe e a raposa

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Na terça-feira à tarde, o primeiro dia da semana com aulas de balé, Ana de Luz mal conseguiu se concentrar no que estava fazendo. A cada barulho na porta, a jovem se virava para ver se o convidado havia chegado. Foi frustrante porque o ensaio terminou e ele não tinha aparecido.

— Como foi domingo, de Luz? Eu fiquei preocupada porque não achei vocês...Como voltou para casa?

Ana queria mesmo falar daquele homem bonito que a proporcionou uma noite maravilhosa no Circo da Alegria. Ela adoraria passar horas mencionando o nome dele como se fosse sua descoberta, mas não com Elizabeth Justine. Definitivamente. Não com uma esteta.

Na verdade, lembrar da sensação única de ganhar um ingresso na área de luxo do circo, de passar o espetáculo todo ao lado de Gorro, voltar para casa cavalgando e dormir cheia de alegria pela promessa de uma visita, a fez sentir um nó na garganta. Por que ele não apareceu? Foi embora descendo as escadas rapidamente até esbarrar num corpo rígido. Era o tão esperado Roberto Rosenlonk.

— Gorro! - o abraçou, sem conseguir conter o alívio.

— Ana! Me desculpe o atraso, eu tive problemas lá no circo...

— Está tudo bem! O importante é que você veio! Quer subir? A professora ainda está lá em cima...Posso apresentar uma dança...

— Vamos lá, então!

Eu adoraria ter visto a reação das meninas quando viram o famoso dono do Circo da Alegria entrando pela porta principal do salão. Elizabeth ardeu de inveja – foi o que eu soube. Senhorita Lis, por outro lado, parecia um pouco desconfortável com a visita inesperada.

Ana pediu licença à professora, ligou o som e dançou o melhor que pôde. Deve ter sido realmente lindo, porque o homem a convidou, na frente de todo mundo, para se apresentar no circo.

Eles foram embora juntos, logo depois que se despediram das outras bailarinas. Gorro estava de carro e se ofereceu para deixá-la em casa.

— Olha...Estou impressionado com seu talento!

— Obrigada! - ela sorriu.

— Mas você não me respondeu se aceitava ou não se apresentar lá no circo. Eu não queria dizer na frente de todo mundo, mas tenho uma proposta ainda melhor. Gostaria que fizesse parte da nossa equipe. Eu pago bem!

Os olhos dela se encheram de surpresa.

— É sério? Meu Deus! É o meu sonho me apresentar em circos e teatros! - falou animada, mas depois diminuiu o tom - Infelizmente não posso...Minha tia não deixa, você sabe.

Ele não insistiu.

Com o passar do tempo, as visitas no balé se tornaram rotina. Eles sempre paravam no caminho de volta para tomar um sorvete e conversar, criar laços. Às vezes, não havia mais assunto, então falavam de pássaros, música ou sobre pão com manteiga. Entre essas conversas, Gorro sempre repetia o quanto seria maravilhoso para a carreira dela, caso aceitasse trabalhar no Circo da Alegria – às vezes, eles até discutiam, porque Ana não estava pronta para romper os laços com Ofélia.

Ela lembra que o homem nunca chegava de mãos vazias, sempre aparecia flores, chocolate ou artesanatos feitos pelas ciganas. Na terceira semana, senhorita Lis procurou a aluna:

— Ana, estou percebendo que você e o dono do circo estão bem próximos. Não queria desapontá-la, mas deve tomar cuidado. Ele não é bem visto na cidade.

— Por quê?

— Não sei bem, querida, mas tome cuidado, está bem? E, por favor, não fale sobre esta conversa.

Ana de Luz ignorou o conselho porque já estava muito envolvida com Gorro. Quando ele não aparecia, ela sentia o coração apertar de tanta saudade. Sei que você quer muito saber como foi o primeiro beijo, mas isso só devo contar no próximo capítulo.


Ana de Luz e o Circo da Alegria Onde histórias criam vida. Descubra agora