E lá estava o famoso Circo da Alegria, coberto por uma enorme tenda vermelha. Do lado de fora, viam-se muitas luzes e pessoas de todas as idades. Josh estava certo! Ricos e pobres, católicos e luteranos, negros e brancos...Todos pareciam muito felizes.
Um mágico fazia uma bola de cristal levitar, enquanto as mãos se movimentavam, como se fosse normal controlar o objeto no ar.
Uns palhaços vendiam brinquedos, outros brincavam, deixando o lugar ainda mais interessante. As ciganas ficavam em tendas menores, atendendo os clientes que desejavam ver o futuro ou aprender alguma simpatia, é claro que ganhavam com isso.
De fato, a grama parecia reluzente, mas a culpa era dos feixes de luz que batiam nela. Ana estava maravilhada.
— De Luz! Vamos logo para fila, antes que os ingressos acabem! Já vai separando o dinheiro...
— Mas eu não tenho dinheiro - disse a menina visivelmente surpresa.
— O quê? Você não trouxe o dinheiro para vir ao circo? Estava esperando que eu pagasse?
— Mas você sabe que minha tia não me dá nada desde que...- hesitou por algum instante - Desde que descobriu tudo o que fazíamos juntas. Quando me disse que era um convite, achei que...
— Ah, meu Deus! - gargalhou - Que horrível! Estou com vergonha por você...Nem quero imaginar a infelicidade de ser pobre...Não vou contar a ninguém, prometo!
Os olhos de Ana ficaram marejados.
— Ah, não chore! Adoraria ajudar, mas só tenho dinheiro para um ingresso. E eu não vou perder esse espetáculo por nada...Mas você pode ficar me esperando aqui fora, o meu chofer a deixa em casa. É uma pena que ser a queridinha da professora Lis não resolva todos os problemas...
— O que está falando? E quer que eu fique aqui fora? Mas daqui a pouco todo mundo vai entrar...
— Acho que é a sua melhor opção, de Luz! Você não está pensando em voltar andando, não é? Pelo amor de Deus! É muito longe! Bom, eu preciso ir! Como disse, só tenho dinheiro para um ingresso, se não fosse isso...Eu compraria o seu.
— Ela não precisa de ingresso! – disse uma voz vinda por trás – Se quiser, poderá me fazer companhia na área de luxo, sem pagar nada, é claro – convidou, virando-se para Ana.
— Quem é o senhor? - perguntou a Zancolleoni.
— Boa noite! Meu nome é Roberto Rosenlonk, mas todos me chamam de Gorro. Sou o dono do Circo da Alegria.
Mal acreditou na sorte que tivera. O dono do circo estava em sua frente, oferecendo muito mais do que uma entrada gratuita na área de luxo: ele estava disposto a ser seu acompanhante.
O homem lhe pareceu muito bonito e de traços fortes. Vestia uma camisa branca, um colete dourado e uma calça preta. As botas que usava eram compridas e elegantes, e combinavam bastante com a cartola que segurava debaixo do braço.
— Eu agradeço ao senhor por tamanha bondade...
— Que ótimo! Vou comprar o meu ingresso para entrarmos todos juntos! Ai, amiga! Que sorte a nossa! Eu não ia querer deixá-la sozinha aqui fora. Você sabe que eu não teria essa coragem, não é? - disse Elizabeth, interrompendo, antes de sair correndo para a fila.
— Vamos?
— É...Não vamos esperá-la?
— Se ouvi bem, ela disse que só tinha dinheiro para comprar um ingresso, então não poderá entrar na área de luxo – disse o homem com um sorriso discreto.
Acredito que esta é uma das lembranças mais vivas da nossa protagonista. Ela alisou os cabelos de nuvem, baixou a cabeça, envergonhada, e riu, enquanto me contava o que disse o herói da noite.
Havia muita gente, ela nem fazia ideia de como conseguiriam chegar à entrada principal. Gorro a conduziu. Aquilo foi realmente mágico! Enquanto eles passavam, as pessoas abriam caminho imediatamente: ali, o dono do circo era majestoso.
Era a primeira vez que via uma estrutura daquela: arquibancadas em torno de um enorme palco circular, com luz ambiente e cadeiras acolchoadas (na área de luxo). Ela lembra que se perguntou como um mundo daquele cabia dentro de uma tenda.
Os fogos de artifício anunciaram o começo do espetáculo. Ana ficou impressionada com o homem que cuspia fogo e com a mulher de barba. Os palhaços também era maravilhosos e ganhavam muitas risadas fáceis. Antes da apresentação do mágico, Gorro saiu para comprar pipoca e refrigerante. Aquela foi a melhor noite da vida de Ana, até então.
Eu queria me prolongar descrevendo todas as cenas. Deveria ter sido extraordinário, por exemplo, ter visto algumas pessoas com roupas coloridas, deitadas uma ao lado da outra, apenas com um espaço curto para que uma pata de elefante passasse entre elas. Qualquer pisada errada do animal, esmagaria o corpo dos artistas em segundos. No entanto, todos saíram inteiros para uma bela apresentação de dança.
Não queria passar desta página sem contar o fascínio de Ana de Luz pela moça de neve. Era uma jovem vestida de branco, com capa vermelha, que se equilibrava num monociclo enquanto segurava o pequeno guarda-chuva com uma mão e equilibrava cinco bolas com a outra. Durante o número, flocos de neve, feitos com isopor, caiam sobre o palco, acompanhando o som de uma gaita.
No fim, as luzes se acenderam e as pessoas foram se levantando aos poucos. A nossa bailarina não estava pronta para isso. Na verdade, chegou a fazer um pedido a Deus: queria viver no circo até criar raízes.
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Ana de Luz e o Circo da Alegria
ChickLitUma senhora, nascida em 1929, resolveu me contar sua história: uma infância solitária na mansão de tia Ofélia e uma juventude embevecida por um homem temido, vinte anos mais velho, dono do circo da cidade. Você vai se emocionar!