No sábado, enquanto a nossa bailarina estendia as roupas no varal, Badoque apareceu muito nervoso.
— Florzinha de luz! Florzinha de luz! O moço está aqui!
— Quem?
— Do Circo Blefuscu... - falou baixinho.
— Marcus? Meu Deus! Ele lhe falou?
— Tudinho... É a sua chance de fugir!
— Olhe, Badoque! Minhas mãos estão tremendo...Se Gorro descobre...
— Não vai!
— E ser lá for pior?
— Não é! Vá e diga ao patrão que deseja me acompanhar nas compras que ele me mandou fazer. Iremos juntos conhecer esse tal de Tião! A protegerei de qualquer investida.
Badoque poderia parecer inofensivo pelas pernas curtas. No entanto, era dotado de uma incrível habilidade de manusear armas brancas. Era capaz de atingir um alvo há vários metros de distância e com velocidade – uma das atrações mais queridas do circo.
Apesar de tudo, algo dentro de Ana a pedia para ficar. E só ela sabia o motivo.
— Florizinha de luz! O que está esperando? É a sua chance!
— Temo que seja tarde demais... Vá em meu nome, meu amigo! Descubra sei hei de ser feliz longe daqui. A dúvida e o medo me corroem. Já não aguento me jogar de um lado para o outro e sofrer tantas decepções.
Badoque foi, e antes que voltasse, Gorro apareceu no campo com flores e um colar de quartzo rosa.
— Me perdoe – pediu – Vamos começar de novo, por favor! Eu não queria ter me tornado essa pessoa tão bruta. Quando estamos bem, consigo me lembrar da paz que sentia na Áustria. Diariamente, eu sonhava com a moça com quem iria me casar. Meus pais me prepararam como puderam...eu sempre quis ser como eles... sinto que me roubaram de mim, Ana! Eu me quero de volta para te fazer feliz! Eu sei que ninguém merece tanto o meu amor quanto você.
Ana de Luz olhava para aquele homem perdido cheia de compaixão. Ela, mais do que ninguém, queria que Gorro tivesse a dignidade restaurada. Sentia-se ligada a ele por um amor fraternal. Nada mais do que isso. Estava tudo muito claro agora.
Aproveitando o momento de vulnerabilidade do marido, a jovem contou que não poderia alimentar falsas esperanças, mas que havia um motivo, maior do que ela, pelo qual ele deveria lutar. Ana de Luz estava grávida.
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Ana de Luz e o Circo da Alegria
ChickLitUma senhora, nascida em 1929, resolveu me contar sua história: uma infância solitária na mansão de tia Ofélia e uma juventude embevecida por um homem temido, vinte anos mais velho, dono do circo da cidade. Você vai se emocionar!