Roberto Rosenlonk disparou no cavalo em direção ao Circo Blefuscu. O tiro de Zulka saiu pela culatra. O alvo era Marcus. Não vale a pena descrever o desespero das mulheres que ficaram no acampamento sem saber a intenção do temido Gorro. Vou direto ao ponto, no exato momento que o animal relinchou ao parar bruscamente na região do lago.
— Amigos! Onde está Marcus? - perguntou a uns funcionários do circo, que limpavam o chão.
— Marquinhos? Ali embaixo! Carregando os sacos de areia! - apontaram, inocentemente.
Gorro foi até lá, desceu do cavalo, sacou a arma e apontou para o jovem cigano.
— Sabia que é a primeira vez que mato por uma questão pessoal?
O rapaz soltou o peso no chão. E um garoto de 12 anos, artista mirim, testemunhou a cena, felizmente, ninguém o viu.
— O que o senhor quer? Ela não veio...
— Ela ia vir?
— Eu não sei...
— Por que a escolheu?
— Você é um cão! Não a merece!
O menino correu para pedir ajuda, mas não foi mais rápido do que a primeira bala. Marcus morreu pelas mãos de Gorro.
— Não vire ou eu te mato! Largue a sua arma! - disse uma voz vigorosa por trás do assassino - Quer dizer que você é o famoso dono do Circo da Alegria? - respirou fundo - Nossa! Há alguns anos, eu daria o meu pai para te conhecer. Hoje eu não vejo a hora de acabar com a sua vida.
Muitos já haviam se aglomerado ali. O freio de um carro acelerado fez um barulho que assustou todo mundo. Era Ana de Luz.
— Gorro! Gorro! - ela gritou correndo em direção a ele, mas foi impedida de avançar, por ordens de Tião.
— Ana?! Volte para casa! - disse o marido, ainda de costas.
— Não! Me soltem! Gorro! Eu não te trai! Eu juro! - insistiu a jovem, chorando.
— Ana! Pense no nosso filho! Volte para casa! - baixando a voz, completou – Eu acho que nunca saberei a verdade...
— Ela não o traiu! E o sangue que você acabou de derramar, era inocente. E eu o amava. Era um irmão para mim. Não foi Marcus quem a escolheu. Fui eu! Eu vim atrás da pessoa mais importante da minha vida e descobri que ela correu em direção ao meu maior sonho! Você é louco? Eu falei a ela como todo mundo era feliz num circo! E você a prendeu! Eu falei da graça que era viver com palhaços, malabaristas e mágicos! E você a humilhou! Eu cheguei a dizer que queria ser como você! E você a machucou! Era para ter sido mágico como sonhar todas as fantasias e estar bem acordado, seu desgraçado!
— Meu Deus... Quem é você?
— Josh Back! Acabou por aqui, Gorro! E que Deus nos perdoe!
O segundo tiro foi disparado.
Eu sei que são muitas perguntas. Vou tentar responder quantas for possível. Ana correu em direção a Gorro, quando a bala penetrou o peito. Josh se afastou e deixou que moça chorasse o momento. Aquela foi a primeira e única vez que o rapaz tirou a vida de alguém.
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Ana de Luz e o Circo da Alegria
ChickLitUma senhora, nascida em 1929, resolveu me contar sua história: uma infância solitária na mansão de tia Ofélia e uma juventude embevecida por um homem temido, vinte anos mais velho, dono do circo da cidade. Você vai se emocionar!