33. A família Rosenlonk

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Naquela noite, Gorro levou a moça à sua tenda e preparou a cama com lençóis limpos. Não era uma casa comum, mas tinha muito luxo. O colchão, por exemplo, ficava sobre uma cama baixa, sem cabeceira, cheio de cobertores e almofadas coloridas. Todo o chão era coberto de tapete Persa, uma moda que só chegou na cidade em 1950.

Havia muitos móveis de madeira e objetos decorativos de cor quente, além de um enorme espelho em forma de losango.

— Para onde você vai? - perguntou Ana, sentada na cama.

— Vou deixá-la dormir... Não quero incomodar. Vou dormir com minhas primas...

— Por favor, não me deixe só! - pediu, enxugando os olhos que voltavam a chorar.

— Não, não...Não deixarei...Vem cá!

E assim, Roberto Rosenlonk deitou Ana de Luz em seu peito e a colocou para dormir, acariciando os cabelos negros, logo adormeceu também.

Na manhã seguinte, a jovem acordou com um gostoso cheiro de pão saindo do forno. Gorro havia preparado o café.

— Bom dia, meu anjo! - cumprimentou indo até ela e lhe dando um beijo na testa.

— Bom dia! Sua casa ainda é mais bonita pela manhã...

— Obrigado! Que bom que gostou! Quando quiser, ela também será sua, então isso me deixa bastante aliviado.

Ela sorriu, mas não disse nada.

— Bom, vamos tomar o café da manhã porque hoje temos um dia cheio! Lá fora tem muita gente querendo conhecê-la.

— É mesmo? Quem são?

— Mágicos, ciganas, malabaristas e palhaços. Só para começar. Mas não é obrigada a conversar com eles, é claro!

— Está brincando? É a melhor notícia! Não vejo a hora de vê-los! - disse, correndo para a mesa e com um sorriso cheio de ansiedade.

Ana de Luz se tornou a princesinha do circo. Todos os artistas se apaixonaram pela doçura da bailarina. As ciganas também aprovaram a chegada da nova integrante da família. Não demorou muito e a jovem foi ganhando autoridade para tomar decisões importante naquele lugar. Ela gostou muito disso. Adaptou-se tão facilmente que nem se lembrava de sua vida na mansão de tia Ofélia.

É verdade que custou certo tempo para que nossa bailarina se curvasse às tradições culturais e religiosas dos Rosenlonks, porém seis meses depois do casamento, ela começou a aceitar as primeiras mudanças.

A cerimônia durou três dias, como era o costume daquele povo. Não houve contrato, porque eles acreditavam que a palavra do homem já era o suficiente. A festa foi de muita fartura e logo toda a cidade soube da notícia.

Gorro a adorava. Todo mundo dizia que ele havia se tornado alguém mais feliz depois que a conheceu. No entanto, não sei dizer em que momento, o amor daquele casal foi definhando.

O jeito controlador e rígido de Roberto Rosenlonk combinou perfeitamente com a carência de Ana. Os dois ardiam em ciúmes e se machucavam com duras palavras. Era constante. Chegando a noite, envolviam-se em beijos e carícias, muitas vezes até as tantas da madrugada.

Os dias se alternavam entre a opressão e as súplicas de perdão. Isso era bastante cansativo para quem via de fora, mas o casal continuava a todo vapor.


Ana de Luz e o Circo da Alegria Onde histórias criam vida. Descubra agora