1. O Encontro

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A chuva caía incessantemente, suas gotas pesadas dificultando ainda mais a visibilidade na densa floresta. No entanto, Irene não desistia. Seu coração se apertava de preocupação enquanto buscava desesperadamente por Yeri. Era apenas a segunda vez da jovem participando da Caça a Bandeira no acampamento, e ela temia que algo pudesse acontecer à sua irmã.

Para Irene, a vitória na Caça a Bandeira já não era sua prioridade. Seu único objetivo era encontrar Yeri. Isso falava muito, considerando que Irene era extremamente competitiva e, desde que chegara ao acampamento, nunca havia perdido uma vez sequer.

Seu chalé de Ares unira forças com o chalé de Atena, e tinha esperança eles poderiam vencer mesmo sem a liderança de Irene. Com sua lança curta em punho, ela abria caminho pela floresta, tomando cuidado para não chamar atenção indesejada ao gritar o nome de Yeri.

Duas semanas. Esse era o tempo que Yeri passara no acampamento. No mesmo dia em que chegara, Ares a reivindicara como sua filha, o que fez Irene se sentir ainda mais responsável por ela. Não apenas por ser a conselheira do chalé de Ares, mas também porque as duas haviam se aproximado desde o momento em que Irene a salvou de um ataque de dracanae nas ruas de Nova York.

Assim como muitos semideuses, Yeri carregava uma história triste. Sua mãe falecera quando ela tinha apenas 7 anos, e desde então ela passara por uma série de lares adotivos. Sua natureza temperamental herdada de Ares tornava difícil a adaptação a esses lares, e muitas famílias não entendiam a razão de tanta raiva em seu coração ou o porquê de seu desempenho escolar deficiente, resultado de seu transtorno de déficit de atenção ou TDAH.

Com 14 anos, Yeri finalmente fugira do último lar adotivo e se viu forçada a viver nas ruas, onde os monstros a encontravam facilmente, tentando tirar sua vida. Até o dia em que, em plena fuga das dracanaes, Yeri deu de cara com Irene.


Flashback

Irene aproveitava seu último dia em Nova York antes de retornar ao acampamento, libertando-se do segurança intimidador que a acompanhava e caminhando livremente pelas ruas movimentadas da cidade.

Esses momentos de caminhada eram uma fonte de calma para Irene, especialmente quando sentia a fúria herdada de seu pai ameaçando dominá-la. Sua mãe insistia para que ela estivesse acompanhada pelo segurança que havia contratado, mas Irene sempre respondia que sua segurança estava oculta em sua bota, em sua lança curta. Essa resposta, porém, apenas enfurecia sua mãe.

Na verdade, quase tudo em Irene era motivo de raiva para sua mãe, desde seus trajes desleixados até sua falta de interesse nos negócios da família. Mas Irene se recusava a se moldar às expectativas impostas sobre ela, buscando sua própria identidade e liberdade.

Enquanto Irene caminhava em direção ao antiquário local, algo colidiu com ela e caiu ao chão. Era uma garota. Tremendo visivelmente, ela exibia um rosto ensanguentado e alguns arranhões espalhados pelo corpo.

Sem hesitar, Irene prontamente ergueu a garota do chão, segurando-a com firmeza.

- O que te atacou?

Antes de Yeri conseguir responder três dracaenaes apareceram. Geralmente monstros usam disfarces mas as três ali já estavam em sua forma real: humanóides com duas caudas de serpentes no lugar das pernas.

Irene puxou Yeri pelo braço e as duas começaram a correr. Ela queria ir para longe dos mortais que caminhavam tranquilamente pelas ruas.

Irene não ia conseguir despistar as dracaenaes então decidiu levá-las para um local que conseguisse lutar melhor, e esse local fora o beco.

Assim que entraram no beco, as dracaenaes alcançaram elas.

A menor das três investiu contra Yeri, no mesmo momento Irene correu para frente dela e ativou seu relógio-escudo protegendo-a e logo após retirou sua lança da bota.

- Dracaenaes estão realmente perseguindo uma criancinha? – Debochou Irene.

- Ah! Tinha que aparecer uma semideusa intrometida. – A maior (provavelmente a líder) respondeu. – Anda, sai da frente!

- Qual o seu nome, criança? – Perguntou Irene baixinho para Yeri.

- Yeri.

- Tudo bem Yeri, quero que você fique sempre atrás desse escudo e perto de mim ok? – Falou Irene enquanto soltava o escudo de seu braço, quando o soltou o escudo ficou flutuando na frente de Yeri, os filhos de Ares conseguiam encantar escudos e armas deixando-os com movimento independentes, mas o semideus não podia se distanciar muito delas,  se isso acontecesse o encanto perdia seu efeito.

-  Tá bom. – Yeri respondeu baixinho.

- Ataquem! – Gritou a dracaenae líder.

As duas dracaenaes atacaram Irene. Mas a garota era ágil e dominava muito sua lança, conseguiu se livrar da dracaenae menor rapidamente, fazendo-a virar pó e retornar ao mundo inferior. 

Irene lutava dividindo a sua atenção entre a dracaenae e Yeri.

A dracaenae-líder investiu contra o escudo que protegia Yeri, a menina gritou, mas permaneceu atrás dele com Irene disse. O escudo fazia um bom trabalho mas logo não seria capaz de aguentar as investidas do monstro.

Irene ao ouvir o grito de Yeri desviou o olhar por uns segundos, quase sendo ferida pela dracaenae que enfrentava, deixou que toda a fúria guardada por ela saísse naquele momento e investiu contra a dracaenae, deu um pulo e enfiou a lança entre os olhos dela, transformando-a em pó.

Vendo que só restava ela agora, a dracaenae-líder desistiu de Yeri, e foi para cima de Irene, a semideusa desviou do primeiro ataque mas do segundo não, e acabou sendo jogada para parede, onde bateu com tudo.

Respirou fundo. Ela estava ficando exausta.

Precisou parar o encanto do escudo, mas não tinha problema porque a dracaenae-líder estava focando o seu desejo de matar todo em Irene agora.

- Agora semideusa, será seu fim e você aprenderá a não se meter em brigas alheias, nunca dá certo. – A dracaenae-líder estava se aproximando.

A lança de Irene ainda estava na sua mão, mas somente ela não seria capaz de acabar com a dracaenae-líder. Concentrou-se no resto de força que ainda tinha e envolveu a sua lança com a aura que somente os filhos de Ares conseguiam, sua lança agora estava envolta por uma aura avermelhada, que deixava-a letal.

Esperou até que a dracaenae-líder chegasse bem perto dela para dar o bote e então enfiou sua lança no peito do monstro.

A última coisa que a dracaenae-líder fez foi dar um grito de surpresa e então virar pó em cima de Irene.

Yeri correu até a sua salvadora e a ajudou a levantar.

- Obrigada. – Yeri falou enquanto limpava um pouco do pó em Irene, ela ainda tremia.

- Pó de dracaenaes... Nada agradável né? – Disse Irene segurando-se na parede para não cair, sempre ficava exausta depois de encantar armas. – Não precisa agradecer.

- Se você não tivesse me ajudado... – Começou Yeri olhando para baixo.

- Tenho certeza que você conseguiria se livrar delas, afinal é uma semideusa.

- Eu... O que é isso?

- Ah... Você não sabe que é uma. – E então Irene contou tudo para Yeri enquanto elas esperavam Irene se recuperar um pouco para começar a andar para longe dali.

 
Fim do Flashback

Between GodsOnde histórias criam vida. Descubra agora