Lembro até hoje o dia em que te conheci, na verdade, eu lembro de tudo que envolve você.
Foi no dia em que eu tive a pior discussão da minha vida com a minha mãe.
— Jenn, pode pegar um copo de água para mim, por favor?. - meu padrasto pediu.
— Eu tenho cara de empregada Bili?. - eu perguntei.
A minha mãe olhou para minha cara, e como sempre, eu não consegui descrever o que ela estava sentindo olhando sua expressão. Não sabia se era raiva, ou se ela estava surpresa.
Eu não converso muito com ela, e com o meu padrasto, eu passo a maior tempo no quarto, escutando música, e desenhando.
Então depois de ficar me olhando, ela finalmente disse alguma coisa:
— Jenn, qual é o seu problema?. - ela perguntou me olhando. — Por que fica tratando o Bili dessa forma grosseira, ele nunca te fez nada!. - ela alterou a voz, como ela sempre fazia quando discutia com meu pai.
— Porque ele acha que eu sou a empregada dele, mas a empregada dele, é você mãe. - eu disse.
— Eu não sou empregada de ninguém Jennifer!. - ela alterou a voz novamente.
— Oh, não é o que parece, porque bom, é só ele estalar os dedos, que ganha tudo na mão. - eu disse, porque é a verdade.
— JENN! NÃO PRESCISA DESCONTAR A RAIVA QUE TEM DO SEU PAI POR ELE TER IDO EMBORA NA GENTE!. - ela gritou.
Mas você sabe que eu não tenho raiva do meu pai, na verdade, você sabe muita coisa sobre mim.
Eu olhei para ela com meus olhos cheios de lágrima, e você sabe que eu odeio chorar na frente das pessoas, então, eu engoli o choro, e coloquei tudo para fora.
— Não é do meu pai que eu tenho raiva, mãe. É de você!. - eu disse, e ela ficou me olhando.
— De mim Jenn, o que eu fiz?!. - ela perguntou.
— O que você fez? O que você faz! Toda vez que eu tenho algum problema você nunca, nunca tem tempo para escutar e me manda direto para a psicóloga. Você nunca tem tempo para perguntar: "o que aconteceu Jenn?". Mas por incrível que pareça, você sempre tem tempo para o Bili! É só encontrar ele emburrado, que para, pergunta, e fica ouvindo ele dizer como é ruim FICAR DEITADO NO SOFÁ O DIA INTEIRO!. - gritei, eu estava furiosa.
Ela ficou olhando para mim. Eu estava com tanta, tanta vontade de chorar, mas eu nunca choraria na frente dela, e do Bili.
— Jenn, eu, eu.. - ela gaguejou, e depois ficou me olhando.
— O meu pai foi embora, mas por incrível que pareça é muito mais presente que você, porque mesmo de longe, ele sempre me liga para perguntar como vão as coisas. E nem isso você faz. - eu disse.
— Jenn. - ela disse se aproximando.
Eu me afastei, e saí correndo.
Não sabia para onde eu iria, eu só queria sair daquela casa.
Minha cabeça estava à mil, Jace, você não tem noção do quanto eu estava mal. Nem sei te explicar o que sentia naquele dia.
Eu comecei a chorar, enquanto caminhava pela trilha, até o ponto mais alto da montanha, onde as pessoas praticam aqueles esportes loucos, e perigosos.
E ai, eu te vi. Você estava lá, com seu grupo de amigos da escola, e eu reconheci você.
Quem não reconheceria o capitão do time de futebol da escola?
Eu passei por você, e eu senti seu olhar queimar sobre mim.
Continuei andando até sumir, e então eu me aproximei da beirada, vendo o tanto de pedras e águas que haviam lá em baixo.
Meu coração disparou, e eu me sentei no chão, soltando o choro.
Eu estava tão triste, meu coração doía tanto, minha cabeça estava latejando, meu corpo todo estava tremendo, e eu cravei as unhas no meu pulso, o rasgando.
Meu celular começou a tocar, e era a Zoe. Ela perguntou se estava tudo bem, disse que o meu pai havia ligado, porque não tinha conseguido falar comigo. Perguntou onde eu estava, e eu disse, porque ela é a única que consegue me acalmar.
E ai, eu ouvi sua voz:
— Você está bem?. - você perguntou.
Eu não te respondi, porque eu pensei: "por que o capitão do time, se importaria?".
E eu nunca devia ter te respondido, Jace!
— Garota?. - você chamou.
Você nem sabia meu nome Jace, era óbvio que não estava preocupado.
— Se eu tivesse com problemas, com certeza, não pediria sua ajuda. - eu disse.
E eu escutei sua risada debochada.
— É isso que eu recebo quando tanto ajudar? Que injustiça. - você disse.
— Injustiça é eu ter que aturar você aqui, fazendo papel de bom moço. - eu disse, e você riu de novo.
— Qual seu nome, senhora ignorante?. - você perguntou.
— Isso realmente te interessa?. - perguntei me virando para te olhar. — Olha você não precisa fingir que se importa, já tem gente fingida de mais na minha vida, cópia falsa de bom moço. - eu disse.
Você riu de novo, e eu fiquei furiosa.
— Eu só perguntei o seu nome. - você disse rindo.
— JENN!. - Zoe gritou, enquanto vinha correndo na minha direção. — Jenn, Jenn. - ela disse agachando perto de mim. — Ai que susto, meu Deus, você quase me matou do coração. - ela disse me abraçando. — Eu pensei, eu, eu pensei que você. - ela olhou para trás, e me olhou de novo.
Ela me abraçou apertado, e sussurrou:
— Pensei que iria se jogar. - ela disse.
Você ficou lá, parado me olhando no fundo dos olhos, como ninguém nunca tinha feito, e eu senti meu corpo inteiro se arrepiar.
— O que aconteceu?. - ela perguntou.
Eu escondi meu rosto no pescoço dela, e comecei a chorar de novo.
— Ela, ela é tão, tão ridícula. Eu não tenho raiva dele, eu tenho dela porque ela não se importa! Quem te ligou? Foi ele, viu, ele se importa, e nem mora aqui!. - eu disse.
— Jenn, calma, está tudo bem, vai ficar tudo bem, eu to aqui. - ela disse. — O sol já se pôs Jenn, a noite já chegou, amanhã é outro dia. Vamos para minha casa, tudo bem?. - ela perguntou.
— Uhum. - murmurei.
Nós levantamos, e você ainda estava lá, agora acompanhado dos seus amigos, e ainda me olhava daquele jeito.
— Seja educada, e dê tchau Jenn. - Zoe sussurrou no meu ouvido.
— Vamos logo. - eu disse.
Ela revirou os olhos, e nós saímos andando.