- Não estou entendendo! – Perplexa Anahí examinou mais uma vez, com seus bonitos olhos azuis acinzentados, o rosto despreocupado da irmã. Sabia, instintivamente, que aquele ar de desafio não passava de uma fachada. – Se você tem mesmo medo desse homem... Desse grego que conheceu durante as férias... Por que concordou em se casar com ele?
Quando Belinda abaixou seus brilhantes olhos azuis para o tapete, o espanto de Anahí atingiu o ponto máximo. Pela primeira vez, em vários anos de convivência, sua irmã mais nova mostrava sinais de embaraço: de cabeça baixa, esfregava um pé no outro, o rosto vermelho como um pimentão!
Isso tudo trouxe à mente de Anahí a lembrança de seus dias de escola primária quando, decidida a proteger Belinda, aceitava ser castigada pelos erros dela.
- Você precisa ser sempre tão "certinha"? – Como sempre, Belinda reagia com ressentimento ao menor sinal de crítica. – Estou cansada de ouvir os seus sermões e não aguento mais essa história de todo mundo mandar eu me comportar direitinho, de acordo com a posição de papai. Que posição, pelo amor de Deus!- Irritada, ela indicou com um gesto a modesta sala de visitas. - Dê uma boa olhada na nossa casa - desafiou, a testa franzida distorcendo as feições bonitas - e reconheça que ela não chega nem aos pés do tipo de lugar onde poderíamos estar vivendo. Nunca vou entender como uma moça bonita, como dizem que nossa falecida mãe era, que foi criada numa mansão, rodeada de luxo desde o dia em que nasceu, pôde jogar tudo fora para se casar com um pastor sem dinheiro e que, mesmo na juventude nunca manifestou a menor vontade de subir na vida! E que hoje, vinte e cinco anos depois, continua sendo simplesmente o reverendo Enrique Puente, o pastor de uma paróquia pobre de dar pena em qualquer um!
Apesar de estar horrorizada com o desabafo da irmã, Anahí conseguiu manter a voz firme e dizer com simplicidade:
- Eu acho que, para mamãe, foi muito fácil se apaixonar por uma pessoa adorável como papai.
Durante alguns segundos o silêncio envolveu as duas irmãs. Depois, abruptamente, o corpo tenso de Belinda desabou nos braços de Anahí.
- Desculpe - ela soluçou por entre lágrimas - na verdade eu não quis dizer nada disso. Ninguém melhor do que eu sabe a sorte que temos de em ser filhas de um homem tão carinhoso, amoroso, generoso e meigo como papai! Não sei por que... Não sei como pude falar tudo aquilo dele...
- Você está muito nervosa! - depois de mostrar que a perdoava, com um rápido abraço, Anahí empurrou a irmã para um sofazinho ali perto e sentou-se ao lado dela - Chorar não é próprio de você. Sua vida tem sido tão cheia de alegria e atividade, nos últimos dois anos, que pensei que já nem soubesse mais como se chora. Desconfio que seu misterioso grego tenha muito a ver com essa choradeira. E como até agora ainda não descobri que estória é essa, acho melhor você me contar tudo, tintim por tintim.
Belinda não atendeu imediatamente ao pedido da irmã e, sabendo que ela precisava de um pouco de tempo para se recuperar, Anahí não a pressionou. Sentada, em silêncio, esperou a garota se sentir suficientemente bem, para poder explicar sua estranha perda de controle.
Apesar de se esforçar para aparentar calma, Anahí estava muito preocupada e surpresa com o ressentimento demonstrado pela irmã. Embora ainda não tenha completado vinte anos, Belinda era uma garota extremamente sofisticada. Assim que saiu da escola, ela resolveu que queria mesmo era se divertir. Não perdia bailes nem jantares, sempre acompanhada por uma legião de rapazes, que conhecia durante as inúmeras visitas que fazia aos parentes ricos.
Anahí não costumava aceitar os convites que recebia da família de sua mãe. Não que se sentisse inferior, mas seria impossível esticar ainda mais o magro orçamento familiar e comprar as roupas necessárias para frequentar aquele ambiente sofisticado, sem fazer feio.
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A Substituta (Adaptada)
Fanfiction"Pecaminosamente rico e bonito, pecaminosamente atraente!" Assim a irmã de Anahí, Belinda, descreveu Alfonso Herrera, o grego de quem estava noiva. Mas havia um problema: Belinda agora havia fisgado um peixe maior e não estava mais interessada em A...