- O gosto pela nossa bebida nacional só vem aos poucos – ele explicou, os dentes muitos brancos formando um lindo contraste com a pele queimada de sol. – Com o tempo, você vai precisar cada vez menos de água, para bebê-la. No fim, quando gostar de seu sabor de aniz, poderá sentir todos os seus efeitos, que são bem potentes.
- Não creio que isso possa acontecer. – Anahí já havia relaxado, mas eu tom de voz estava longe de ser amigável. – Aprendi, à minha própria custa, que as coisas que parecem mais inofensivas são, na realidade, as mais perigosas. Resumindo, aprendi a lição que muitas outras pessoas aprenderam antes de mim: não confiar nunca nos gregos, principalmente naqueles que vêm oferecendo presentes!
- Mesmo numa ocasião como esta? – Sua voz soou rouca, quando ele deslizou a mão pelo braço de Anahí, procurando os dedos dela.
Em volta deles, os alegres moradores da ilha já se acomodavam nas mesas, decididos a aproveitar ao máximo a festa que Cris e suas ajudantes haviam lhes preparado. Mais tarde a ausência dos dois seria notada, mas naquele momento, perdidos na sombra de uma das árvores, estavam tão sozinhos quanto numa praia deserta.
Anahí tentou afastar-se quando sentiu a carícia fria de um novo aro de ouro deslizando por seu dedo, mas não conseguiu vencer Alfonso e teve que se submeter à humilhação de ver outro símbolo de sua posse, ao lado da aliança que já usava. Não teria suportado se ele tivesse tentado fazê-la usar o anel de diamante que fora de Belinda, ou mesmo uma réplica dele.
Felizmente, o anel que acabara de receber era completamente diferente, feito com uma única pérola, rosada e perfeita, em forma de lágrima.
- Gosta dele? – ele perguntou asperamente, frustrado por não poder ver a reação dela e por seu silêncio. – Foi imperdoável, de minha parte, ter esquecido que você não tinha um anel de noivado.
Anahí tentou desesperadamente impedir que as lágrimas que inundavam seus olhos escorressem, dizendo-se que não podia deixar que ele percebesse quanto a magoara com aquele presente escolhido ao acaso, com a ajuda de Nikos, num dos inúmeros catálogos que enchiam o seu escritório. Catálogos ostentando nomes de joalherias famosas, que não hesitariam em atender o pedido de um freguês conhecido, recebido através de um simples telegrama.
- É um presente muito bonito, mas completamente desnecessário – disse, num tom de voz frio e cerimonioso.
- Isso é tudo o que você tem a dizer sobre uma pérola considerada perfeita? Uma pérola que se diz ter sido criada pela Rainha da Noite, quando se sentia infeliz por ter visto uma linda princesa ser separada do homem que amava pelos deuses do mal? Ela chorou, e à medida que suas lágrimas caíam do céu escuro eram tocadas pelos raios de luar e se transformaram em pérolas, quando mergulhavam nas águas do mar. Será que a Rainha da Noite derramou suas lágrimas em vão, Anahí? – Alfonso levou a mão da esposa aos lábios e beijou cada ponta de cada um dos dedos rosados. – Eu comprei esse anel há muitos anos, por que gostei do seu brilho, um brilho que parece combinar com a frieza do luar com o calor do sol nascente. E guardei-o até hoje, esperando encontrar uma mulher que tivesse as mesmas qualidades da mais feminina das joias: uma mulher de pele macia e suave, sem nada da dureza que a gente geralmente associa aos diamantes; uma mulher completamente natural, sem a sofisticação que parece ser tão importante nos dias de hoje. Enfim, uma mulher que pudesse ser escolhida como o símbolo da pureza, da modéstia e do amor.
O cumprimento sincero e gentil fez uma onda de calor invadir o corpo gelado de Anahí. Como se sentisse a incerteza e a timidez que a dominavam, Alfonso removeu os óculos escuros e impessoais e colocou-os no bolso, antes de puxá-la para si, num abraço cheio de ternura.
- Você é minha esposa! – disse com voz emocionada. – No entanto, tudo o que conheço de você é a sua voz. Não quer permitir que eu a conheça melhor, do único jeito que ainda me resta... pelo tato?
Anahí sentia-se cada vez mais fraca sob a carícia daquela mão máscula que deslizava por seu rosto.
- Você sabe – Alfonso começou, voltando ao tom suave e brincalhão, doce como mel – que não faço a mínima ideia de qual é a sua altura? Não sei se você é rechonchudinha, ou esbelta; e se seus cabelos são claros, ou escuros; se a sua pele é clara como o leite, ou rosada como um pêssego?
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Substituta (Adaptada)
Fanfiction"Pecaminosamente rico e bonito, pecaminosamente atraente!" Assim a irmã de Anahí, Belinda, descreveu Alfonso Herrera, o grego de quem estava noiva. Mas havia um problema: Belinda agora havia fisgado um peixe maior e não estava mais interessada em A...