Capítulo V (Parte IV)

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Exasperada, Anahí suspirou. Mas depois decidiu que seria uma pena desperdiçar a água perfumada que estava na banheira e tomou um banho demorado, antes de colocar , meio relutante , suas roupas de casamento: calcinhas e sutiã simples, sem nenhum enfeite, uma anágua, e finalmente o vestido de "chemisier" de algodão branco, que possuía há mais de três anos. Felizmente suas sandálias eram novas e, enquanto prendia as tirinhas de couro branco em volta do tornozelo, sentiu-se contente por ter feito, pelo menos uma vez na vida , uma extravagância de comprar uma coisa para si mesma.

Seus cabelos de um loiro claro, quase dourado, curvaram-se, úmidos, em torno do pente, quando ela tentou fazê-los adquirir um ar mais sofisticado. Mas acabou desistindo da ideia, derrotada pelos cachos brilhantes e rebeldes.

Cinco minutos mais tarde, sentindo-se terrivelmente tensa, atravessou apressada o quarto, para responder à batida na porta. Quando a abriu , deu com Nikos parado na soleira. Seu rosto, em vez da costumeira expressão impassível, ostentava uma enorme indignação.

- O "Poncho" gostaria de saber se a senhorita poderia lhe dedicar um minuto, o mais cedo possível – ele disse numa voz estrangulada, que mais parecia um pedido de desculpas.

Anahí achou tanta graça na fúria de Nikos , quase sorriu. Normalmente, por mais que se zangasse com as exigências de seu patrão, o grego não demonstrava nada.

- Eu irei imediatamente – respondeu com voz meiga, imaginando qual seria o último crime que o "Poncho" havia cometido...ou estava para cometer.

Quando entrou no escritório de Alfonso, Anahí encontrou-o na mesma posição em que o deixara, sentado atrás da escrivaninha, brincando com a caneta de prata, com dedos impacientes.

- Você veio! Ótimo! Aquele tolo do Nikos já estava me dando nos nervos com suas censuras, só porque preciso de sua ajuda para resolver um negócio. Eu lhe disse que você não se importaria!

- E não me importo, mesmo – Anahí concordou, ainda estranhamente agitada pela lembrança do "sperveri" e de tudo o que ele significava. – Mas não dá para você encarar a situação do ponto de vista de Nikos? Ao contrário de você, ele tem todo o romantismo dos gregos, e está convencido, junto com os outros habitantes da ilha, que dentro de aproximadamente quinze minutos vai presenciar a união de duas pessoas apaixonadas. Nikos não sabe que, na verdade, o que vai assistir é a união de uma máquina de escrever com uma máquina de ditar.

O silêncio que se seguiu, Anahí quase se encolheu sob o exame das lentes escuras e sem vida.

- Está sendo sarcástica, por acaso, Srta. Puente? – ele finalmente perguntou, por entre os dentes.

- Não, de jeito nenhum – respondeu, corando, pois não estava acostumada a mentir.

- Então, vamos trabalhar – ele disse, sem nenhuma delicadeza. – Recebi, agora há pouco, um telegrama que precisa de uma resposta urgente. Um dos meus homens está esperando para levá-la de lancha até Rodes, assim que ficar pronta. Portanto, como você pode ver, temos que nos apressar se quisermos que a resposta seja despachada antes da palhaçada que vai ser a nossa cerimônia de casamento.

A Substituta (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora