Capítulo IV (Parte II)

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Durante a última semana, Alfonso tinha descoberto que Anahí era muito boa em taquigrafia e datilografia, e havia explorado essas habilidades ao máximo, colocando em dia sua correspondência de negócios, que estava acumulada desde o acidente. Ele a fizera trabalhar oito, às vezes dez horas por dia, de modo que à noite ela se arrastava para a cama, sentindo-se exausta física e mentalmente.

- Meu pai precisa de mim – disse com simplicidade - e o meu dever é ir ajudá-lo.

- É mesmo? – Ele virou-se de frente para ela, intimidando-a com a sua altura. – Seu pai é um homem da Igreja...e tenho certeza de que concorda com a minha ideia de que os pecadores devem tentar reparar os seus erros.

- Eu não sou Belinda, e você não pode me responsabilizar pelos atos dela!

- Uma desculpa bem conveniente! – Os lábios másculos curvaram-se num sorriso de desprezo. – Nós, gregos, encaramos a família como um todo; se um dos membros é ofendido, todos os outros também se sentem assim. O contrário também é verdadeiro, e se um de nós comete alguma falta, a família toda compartilha a culpa. Sua irmã foi honesta o suficiente para reconhecer suas falhas. Sabendo que seria incapaz de passar o resto da vida com um cego, mandou-a em seu lugar...Uma noiva substituta, que parece ter decidido que devo ser rejeitado pela segunda vez!

-Você não está sendo justo! Já lhe expliquei, várias vezes, que quando concordei em ser mensageira de Belinda eu não tinha ideia da verdadeira situação. Eu...eu sinto muitíssimo que você tenha sofrido esse ... acidente, e gostaria demais de ajudar, mas não posso ficar aqui indefinidamente. Meu pai precisa de mim!

- Eu preciso de você mais do que ele! – Uma declaração surpreendente, que saiu quase à força por entre os lábios rígidos de orgulho. – Em apenas uma semana, eu me tornei dependente da sua visão, da sua habilidade em adivinhar as minhas necessidades...às vezes, até mesmo antes que eu saiba quais são! – Fez uma pausa, depois continuou, num quase rugido: - Mas talvez eu ainda não tenha oferecido o suficiente. Se é dinheiro o que quer, então diga quanto! Seja qual for a quantia, eu pagarei!

Anahí estremeceu ,com se tivesse sido agredida fisicamente.

- Nem todo o dinheiro do mundo compensaria passar a vida ouvindo os seus insultos – sussurrou .- A riqueza pode ter lhe dado posição social e sucesso, mas não lhe deu classe nem educação!

Como se quisesse castigá-la por seu atrevimento, Alfonso recomeçou a trabalhar, ditando cartas com uma velocidade e uma ferocidade que a deixaram surpresa. Durante a semana em que havia trabalhado como sua secretária, Anahí aprendera muito sobre o homem cujos negócios eram imensamente variados. Um homem que, como Nikos lhe dissera, tinha nascido e crescido naquela ilhazinha, saindo de lá um pobre órfão, sem um tostão, e voltando, anos mais tarde, como o seu único proprietário!

A Substituta (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora