- Nikos, você sabe por que a tia de Alfonso não foi ao nosso casamento?
- Aquela bruxa velha e interesseira? – Sua surpresa foi grande. – O "Poncho" seria capaz de andar vários quilômetros, só para evitar de se encontrar com ela. Por que , então, haveria de convidá-la para o seu casamento? – Vendo o olhar chocado de Anahí ele continuou apressadamente: - ele tem sido bom para a tia, muito melhor do que ela merece, se levarmos em conta as surras que lhe dava quando era garoto.
- Mas o fato de ela ter aceitado a responsabilidade de criá-lo mostra que não é inteiramente má – Anahí defendeu-se, sentindo-se gelada, apesar do sol que brilhava.
- Mesmo naquela época, ela já era uma bêbada – o criado contou. – O menino não passava de mais uma fonte de renda para a velha bruxa. Cada dracma que ele ganhava era gasto por ela no bar. Muitas vezes, se não fosse pela bondade dos vizinhos, o "Poncho" teria passado fome.
Depois que ele se foi, Anahí continuou onde estava, olhando sem ver, completamente surda ao zumbido das abelhas, indiferente ao vôo das borboletas coloridas e ao aroma das flores à sua volta. Agora, tinha certeza de que Alfonso Herrera havia se aproveitado da credulidade dela para tingir seus fins, forjando uma cena na qual ele aparecia como um homem solitário e magoado, ansioso para se reunir com a única pessoa que restava de sua família, mentindo com uma convicção que lhe partira o coração, despertando nela tanta pena e simpatia que seria capaz de fazer qualquer coisa para diminuir a sua infelicidade. Até mesmo casar-se com ele! Anahí levantou-se de um salto, fumegando de raiva. Alfonso tinha dito que sentia falta de uma boa discussão! Pois bem, ela sentiria um enorme prazer em lhe dar a oportunidade de exercitar a mente, numa troca de palavras agressivas.
A indignação que sentia deus asas a seus pés, e em três tempos Anahí estava no escritório do marido. Mas, assim que entrou, percebeu que havia alguma coisa diferente ali. Hesitante, percorreu com os olhos o local escuro, cujas janelas estavam sempre fechadas para evitar a entrada do sol, que Alfonso parecia achar insuportável. Toda a indignação que sentia desapareceu, dando lugar à piedade, quando viu o homem debruçado sobre a escrivaninha com a cabeça entre as mãos, numa atitude de desânimo total. Rapidamente, aproximou-se dele.
- O que foi que aconteceu? Está sentindo alguma dor?
A pergunta, feita com voz meiga, assustou Alfonso, que levantou a cabeça de supetão. Anahí estacou abruptamente quando deu com os surpreendentes olhos verdes, que brilhavam como os de um gato na escuridão que os envolvia, tão cheios de vida que era difícil acreditar que não viam nada.
Rapidamente ele procurou os óculos, que usava como uma barreira contra a curiosidade das pessoas, e xingou baixinho quando não os encontrou logo. Anahí já os tinha visto a poucos centímetros das mãos do marido, examinando com pena os cortes recém-cicatrizados em volta dos olhos dele, o rosto contraído pela dor e os cílios supreendentemente longos e espessos. Belinda tinha razão! Ele era pecaminosamente bonito...
Nunca havia passado pela cabeça de Anahí que Alfonso ainda pudesse sentir dores, nem que a arrogância e o desejo que manifestava constantemente de ser independente escondessem uma tremenda depressão.
- Posso fazer alguma coisa? – Com esforço, ela conseguiu falar isso num tom de voz calmo e competente. – Diga-me o que posso fazer, para ajuda-lo...
- Onde está Nikos?
Anahí sentiu o coração apertado quando ele passou a mão pelos cabelos escuros, num gesto de desamparo, que lhe deu o ar de um garotinho de escola.
- Por que é que esse maldito homem nunca está por perto quando preciso dele? E onde estão os meus óculos? Procure os meus óculos!
- Para que você precisa de Nikos? – ela perguntou com firmeza, ignorando o pedido dele. – Estou aqui e posso fazer tudo o que ele faz.
Anahí quase começou a chorar ao ver a expressão agoniada de Alfonso, quando ele cobriu de novo os olhos com as mãos, e murmurou roucamente:
- Em algum lugar, em cima dessa escrivaninha, estão um vidro de colírio e alguns comprimidos. Pegue-os pra mim.
Anahí os encontrou sem dificuldade e, estendendo-lhe os dois comprimidos na palma da mão, disse:
- Há um copo de água ao lado de sua mão esquerda. – E continuou, quando ele acabou de engolir os comprimidos: - Agora incline a cabeça para trás, para eu poder pingar o colírio em seus olhos.
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A Substituta (Adaptada)
Fanfic"Pecaminosamente rico e bonito, pecaminosamente atraente!" Assim a irmã de Anahí, Belinda, descreveu Alfonso Herrera, o grego de quem estava noiva. Mas havia um problema: Belinda agora havia fisgado um peixe maior e não estava mais interessada em A...