Capítulo I (Parte III)

2K 115 3
                                    


Sentindo uma necessidade urgente de desabafar a raiva que sentia, Anahí explodiu:

- Isso é típico de Christopher! O que eu não consigo entender é por que você se dá ao trabalho de cultivar a amizade dele! Sinto dizer isso de um parente tão próximo, mas na minha opinião esse rapaz é fraco e degenerado, além de estragado pelo mimo dos pais e por uma renda particular muito grande!

-Vocês dois nunca se deram bem, mesmo. - Belinda quase sorriu. - Se você não se zangasse com tanta facilidade quando Christopher a provoca, ele não perguntaria como vai seu trabalho de escoteira, cada vez que se encontram.

- Ele não pergunta, ele caçoa! - Anahí corrigiu, zangada. - Reconheço que passo a maior parte do tempo ajudando o pessoal da paróquia, mas nem por isso mereço meu apelido de "Fada Madrinha", que Christopher colocou em mim com tanta ironia.

Belinda encolheu os ombros com indiferença, a mente já ocupada por seus próprios problemas.

-Você ainda não respondeu à minha pergunta. - lembrou, com voz tensa. - Você vai até Kairos, explicar a Alfonso por que não posso me casar com ele?

Como tinha acontecido quando Belinda vez a pergunta pela primeira vez, Anahí sentiu o sangue gelar nas veias. Ela nunca entrara em pânico em toda a sua vida, e tentou se livrar da estranha sensação, desconversando.

- Como é que eu vou poder explicar uma situação que eu mesma não estou entendendo? - alegou. - se bem que eu não poderia nunca compreender como é que esse grego conseguiu convencê-la, no curto espaço de algumas semanas, de que a coisa que você mais desejava nesse mundo era passar o resto de sua vida com ele. Principalmente, quando, seis meses depois, você declara que a atração que sentia por ele transformou-se em medo! Como é que isso pôde acontecer? - perguntou, com a testa franzida. - Se você não o viu mais depois que deixou a ilha, o que esse tal de Alfonso fez para amedrontá-la tanto?

- No início, nós conversávamos pelo telefone quase todos os dias. Depois, fiquei quase seis semanas sem ter notícias dele. Foi então que percebi o erro que havia cometido com aquele noivado. Mas à medida que o tempo passava, sem Alfonso dar o menor sinal de vida, passei a ter esperanças de que ele tivesse chegado à mesma conclusão que eu: de que havíamos dado importância demais a um simples namorico de férias.

- Entendo... - Anahí falou. E entendia, mesmo. Apesar desse tipo de comportamento frívolo não fazer parte de sua natureza, ela sabia que, para Belinda, esse raciocínio era normal. - O que foi que aconteceu depois? Ele entrou em contato de novo?

- É - Belinda concordou infeliz. - Por carta. E depois que eu disse que não pretendia me casar com ele, de jeito nenhum, Alfonso passou a praticamente me bombardear com cartas.

- Como ele deve amar você! - Anahí disse com tristeza, sentido uma certa pena do grego rejeitado. - No entanto, apesar de o seu noivado ser um compromisso sério, não é inquebrável, e uma moça pode muito bem mudar de opinião... Espera-se que o noivo aceite a sua decisão com dignidade se for mesmo uma pessoa educada, um cavalheiro.

- Acontece que Alfonso não é nenhum cavalheiro. - Belinda estremeceu violentamente. - Ele é mais um diamante bruto, valioso, mas não lapidado. Sofisticado por fora, mas selvagem o bastante por dentro para me obrigar a manter a palavra, usando táticas de homem das cavernas. E como eu estava com medo de que ele aparecesse por aqui, a qualquer momento, mandei-lhe um telegrama prometendo ir para Kairos assim que pudesse. Eu precisava fazer isso, Any! Estava desesperada de medo! - de repente um sorriso tímido surgiu em seus lábios e ela disse, quase num murmúrio: - Sabe, eu me apaixonei...e desta vez é de verdade!

A Substituta (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora