Capítulo IV (Parte IV)

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Para desespero de Anahí, ele tirou de uma gaveta uma pilha de envelopes de cores claras, endereçados com letras inconfundivelmente femininas.

- Mas eu não posso ler a sua correspondência pessoal! – Ela exclamou. – Eu teria a sensação de estar me intrometendo em sua intimidade. Precisa pedir a outra pessoa para ajudá-lo! Não tem um amigo íntimo que possa fazer isso?

- Se minha noiva estivesse aqui, eu pediria a ela. Como não está ,tenho que me contentar com a sua substituta. Quer fazer o favor de começar a ler?

Anahí estremeceu, sentindo a ameaça na voz dele. Sem protestar novamente, pegou a carta que ele havia tirado, com impaciência, de um dos envelopes.

-"Alfonso, meu pobre querido, fiquei horrorizada quando soube do seu acidente...Por favor, deixe-me ir até Karios...Quero dedicar o resto da minha vida a fazê-lo feliz...A vida para nós pode ser um longo idílio, ainda...A profunda intimidade...- Anahí gaguejou, o rosto queimando de embaraço – que já partilhamos serve para lhe mostrar que não há ninguém melhor do que eu para ser a sua carinhosa enfermeira, para guiá-lo em sua escuridão, para escolher suas roupas e ajudá-lo a se vestir..."

Anahí parou, embaraçadíssima, mas depois de um rápido olhar para as feições másculas, que expressavam profundo desgosto, concentrou-se em ler as declarações de amor infantis que se repetiam em cada uma das cartas. Nenhuma delas tinha um conselho construtivo, ou um mínimo de afinidade, por menor que fosse, com aquele grego tão independente.

Todas essas mulheres só pensam em seus próprios interesses, Anahí disse para si mesma, cheia de piedade por aquele homem que só tinha falsos amigos. Alfonso Herrera devia ser cego mesmo antes do acidente, para não perceber quanto elas eram egoístas e interesseiras!

Aos poucos, sua voz foi se tornando cada vez mais monótona, o que traia seus sentimentos. Já estava quase na última, quando leu uma que a impressionou terrivelmente mal, por suas palavras venenosas.

-"Meus parabéns pelo rompimento do seu noivado. Não há dúvida que de você teve muita sorte em escapar. Antes, não ficaria bem lhe dizer isso, mas agora posso lhe contar que sua ex- noiva é bastante conhecida pela vontade que tem de melhorar de vida socialmente. Tanto, que nunca fez segredo de sua decisão de só se casar com o homem mais rico que pudesse encontrar, de preferência um que fosse nobre, também..." – Com uma exclamação de desgosto, Anahí largou a carta que parecia queimar seus dedos. – Chega! Eu me recuso a ler mais mentiras sobre minha irmã!

Com as mãos apertadas com força sobre o colo, ela esperou a condenação que, tinha certeza, ia sair dos lábios de Alfonso. Mas ficou surpresa, e até um pouco chocada, quando as feições másculas e bem-feitas assumiram uma expressão deprimida e ele admitiu, com uma voz completamente inexpressiva:

- No início, fiquei muito zangado com Belinda, mas agora tenho que reconhecer que me lembro dela com gratidão, pois é a única mulher honesta que já conheci.

Percebendo quanto a desilusão dele tinha sido profunda, Anahí tentou consolá-lo:

- Belinda é capaz de tirar qualquer um do sério, mas ninguém consegue ficar zangado com ela por muito tempo. A verdade é que, no fundo, minha irmã é adorável!

Alfonso voltou os olhos sem visão para ela.

- Seu pai é um homem feliz, pois foi duplamente abençoado: tem uma filha que é adorável, e outra que é intensamente leal às pessoas que ama!

Depois disso, ele a mandou almoçar com brusquidão que mostrava muito bem quanto se arrependia daquele momento de fraqueza. Comendo sozinha a deliciosa refeição composta de mariscos, que Nikos arrancara das rochas naquela mesma manhã, temperados com limão e acompanhados por fatias de pão feito por Cris, Anahí não conseguia deixar de pensar naquele homem tão rico de coisas materiais e tão pobre de amigos.

A Substituta (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora