Capítulo II (Parte III)

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Apesar da voz de Nikos ter sempre um tom de afeto e orgulho quando ele falava no patrão, Anahí sentiu o medo aumentar à medida em que caminhavam na direção de um elevador construído junto ao penhasco.

Como o dinheiro facilita as coisas! Ela pensou, ao ver o criado apertar o botão que colocava o elevador em movimento.

Teve a impressão de que estava entrando em outro mundo quando saiu do elevador! Um mundo de gramados bem aparados, conservados verdes e viçosos com a ajuda de um sistema de irrigação artificial, cujo irrigadores lançavam água para o ar, ao mesmo tempo em que giravam lentamente; um mundo de mimosas em flor, de gerânios tão altos que chegavam à cintura de uma pessoa, de margaridas, lírios, tulipas e touceiras de campânulas azuis, que cresciam ao longo dos baixos muros de pedra.

Caminhos de terra ressecada pelo sol levavam até a vila de paredes pintadas de branco, cujo telhado de telhas vermelhas avançava em direção ao solo, de modo a formar um terraço bem sombreado, um verdadeiro encanto.

- Gostou? - Nikos perguntou, sorrindo de orelha a orelha - Dentro, nós temos aquecimento central, água corrente e muitos banheiros lindos! - Anahí sorriu também, encontrando coragem pela primeira vez para fazer a pergunta que não saía de sua cabeça desde que encontrara Nikos à sua espera, no aeroporto.

Ele tinha recebido instruções para procurar a Srta. Puente lá, e escoltá-la durante o resto da viagem. Era evidente que ele esperava ver surgir Belinda, mas seu rosto moreno continuou impassível quando a viu.

- Por que seu patrão não foi, ele mesmo, ao aeroporto? Afinal, a pessoa que estava sendo esperada era a noiva dele.

O rosto de Nikos ensombreceu. Ele hesitou, depois encolheu os ombros, dizendo:

- Há dias que o "Poncho" não se sente com disposição para viajar. – As palavras pareciam ter sido arrancadas à força de sua boca.

- Está me dizendo que ele não quis se dar ao trabalho de ir até lá?- perguntou, indignada.

O criado corou, ressentido, e por alguns segundos deu a impressão de estar tão zangado que seria capaz de responder mal a uma hóspede do seu patrão. Mas conseguiu dominar-se o suficiente para dizer:

- Estou dizendo que um homem precisa se agarrar ao seu ao seu orgulho. Infelizmente -abaixou a voz a ponto de transformá-la num murmúrio - quanto mais alto o bambu, mais baixo ele pode ser forçado a se vergar.

Caminhando atrás de Nikos na direção da porta de entrada da vila, Anahí ouviu os sons de uma "bouzoukia" ao longe. Seus passos tornaram-se hesitantes, ao mesmo tempo que dentro de si alguma coisa respondeu à música triste, mas terrivelmente selvagem e apaixonada, que estava sendo tirada das cordas de um violino grego.

O som, tão novo e diferente aos seus ouvidos, a fez sentir-se como uma planta transplantada para um solo estranho, para uma terra cujo chão, batido pelo sol inclemente, podia ressecar raízes frágeis e delicadas. Estava, agora, entre pessoas que tinham herdado todo o orgulho e paixão de ancestrais legendários, como os deuses do Olimpo.

A Substituta (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora