ozinha, Anahí acabou por dormir mesmo, mas acordou depois de uma meia hora, quando ouviu o som de passos que se aproximavam. Abriu os olhos rapidamente, esperando ver chegar Nikos com uma carta, mas a figura que caminhava na sua direção, com o sol pelas costas, era alta demais, e tinha um jeito de andar muito parecido com o de um felino, para ser confundida com o atarracado criado.
A confiança e a segurança dos passos de Alfonso não a intrigaram, e com a alegria que invadia seu coração estampada no rosto, Anahí encarou as lentes escuras que cobriam os olhos do marido, examinando-lhe a fisionomia abatida, bem mais pálida e tensa do que estava quando o vira pela última vez.
- Alfonso! – ela sussurrou, sem tentar esconder a felicidade que sentia, pois não havia perigo de ele perceber seus sentimentos.
Um século pareceu se passar antes de ele responder, um século de tensão e incerteza, durante o qual as lentes escuras fixaram-se no rosto dela com firmeza e atenção.
- Anahí – Alfonso murmurou finalmente – agora que voltei, você parece não ter pressa em saber o resultado de minha viagem. Não se importa – perguntou com voz tensa -, não tem o menor interesse pelo que aconteceu?
Essa pergunta teve o poder de fazê-la voltar à dolorosa realidade. Imóvel e sentindo-se fria como uma estátua, a cabeça coberta pelos cabelos claros inclinada para frente, Anahí respondeu com esforço:
- Acho que não há necessidade de perguntar, já que você sempre dá um jeito de conseguir o que quer, Alfonso. Não tenho a menor dúvida de que o nosso divórcio já foi concedido.
- Divórcio? – De repente ele deixou-se cair de joelhos ao lado dela, arrancando os óculos escuros e revelando os olhos verdes, flamejantes. – Do que é que você está falando, Anahí?
- Belinda me contou que você estava deixando a ilha para se divorciar de mim... para que vocês pudessem se casar – Anahí explicou, aterrorizada pelo ar zangado dele.
- Que ela vá dez vezes para o inferno! – ele rugiu, apertando os punhos, numa demonstração de fúria impotente. – Eu a paguei bem para sair de Karios porque estava desconfiado de que ela estivesse planejando alguma coisa de ruim, mas nunca me passou pela cabeça que já fosse tarde demais!
Atordoada, Anahí continuava sentada, imaginando se não estaria dormindo e sonhando, mas, quando Alfonso agarrou seus ombros, a dor que sentiu foi real, e os tremores que sacudiram seu corpo, familiares demais!
- Então, por que você foi embora? – perguntou com voz abafada. – Que razão você tinha para ir embora?
A chama que brilhava nos olhos dele desapareceu lentamente. Ele hesitou, tentando firmar a voz, antes de dizer, roucamente:
- O cirurgião, não se lembra, Anahí? – Então, quando ela não respondeu, nem mostrou sinais de estar compreendendo o que ele queria dizer, Alfonso explicou: - Belinda sabia que eu tinha a intenção de voltar para o hospital, para fazer um novo tratamento nos meus olhos. Uma última tentativa, como os cirurgiões disseram, de restaurar a minha visão... Apesar de já ter decidido que não me submeteria a outras cirurgias, pois já havia me submetido a tantas, todas sem resultado, resolvi enfrentar mais uma, pois tinha a esperança de que você deixasse de sentir nojo de mim, se eu pudesse ver. Podia até ser que você se apaixonasse por mim, se eu não fosse mais cego... Durante quatro dias, após a retirada dos curativos e das bandagens, pensei que a operação não fosse dar certo, apesar de os médicos me assegurarem que, nessas operações de olhos, não se podia esperar resultados imediatos. Então, gradualmente, eu comecei a ter uma visão embaçada do mundo... O primeiro objeto que vi com clareza foi a borboleta de ônix, que conservei sempre perto de mim, e que me deu coragem para enfrentar a cirurgia.
Abismada, Anahí não conseguia desviar o olhar dos os olhos que imaginara que ainda fossem cegos. Então, quando a compreensão total do que ele havia dito tomou conta de si, um rubor lento começou a colorir seu rosto.
- Você está dizendo que pode me ver? – perguntou trêmula, levando as mãos ao rosto, como se quisesse se esconder por trás delas.
- Posso ver perfeitamente. – Ele examinou com atenção a expressão de desespero dela, antes de continuar com suavidade: - Quer que eu lhe diga o que estou vendo? Um rosto que combina às mil maravilhas com uma voz meiga e adorável; dois olhos ternos e azuis, como o céu; um rubor que me traz à lembrança uma noiva terrivelmente tímida, e uma boca... – De repente, Alfonso perdeu o controle de suas emoções e gemeu, puxando-a de encontro ao peito: - Oh, a sua boca, Anahí! Sua doçura tem me perseguido em sonhos, e durante estes três meses o que mais desejei foi senti-la de encontro aos meus lábios...
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Substituta (Adaptada)
Fanfiction"Pecaminosamente rico e bonito, pecaminosamente atraente!" Assim a irmã de Anahí, Belinda, descreveu Alfonso Herrera, o grego de quem estava noiva. Mas havia um problema: Belinda agora havia fisgado um peixe maior e não estava mais interessada em A...