Capítulo XI (Parte III)

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Vermelho como um pimentão, Anahí apertou os dedos do marido, pedindo-lhe, em silêncio, para parar com aquilo, antes de se sentir tentando a contar que ela tinha uma pinta num dos seios, ou que não suportava carícias numa certa parte de suas costas, pois sentia cócegas.

Anahí percebeu que Alfonso sabia o que se passava pela sua cabeça, quando ele riu alto, e sua timidez aumentou no momento em que Helen e os membros de sua equipe, que estavam ali, começaram a rir também. Em pouco tempo a butique inteira ressoava com risos alegres e todos os rostos expressavam bom humor. Todos, menos um: Belinda estava furiosa, e seus olhos pareciam duas pedras azuis, frias e brilhantes.

Anahí tinha certeza de que a maioria dos homens se sentiria feliz se pudesse se livrar da amolação de decidir que roupas ficavam melhor em suas esposas, mas, quando Helen sugeriu a Alfonso que fosse para seu escritório particular, onde poderia fumar um cigarro, tomar um café e ouvir música com todo conforto, ele recusou o oferecimento, insistindo em ir com eles até o salão do primeiro andar, onde as modelos já estavam esperando, para desfilar o que de melhor havia na coleção da Casa de Herrera.

Apesar de ele ter dito, logo no começo, que Helen tinha excelente bom gosto, quando o desfile começou Alfonso assumiu o comando da situação. Ouvindo com atenção as descrições detalhadas que Helen fazia de cada roupa, e sentindo depois a textura do tecido, ele escolheu, guiado por um instinto admirável, os vestidos que melhor realçavam o corpo esbelto e delicado de Anahí. As perguntas dele pareciam não ter fim:

- Azul, você disse? Mas exatamente que tom de azul? Ah, sim, nós vamos ficar com esse. O tecido azul-acinzentado deve realçar os olhos azuis de minha esposa de um modo admirável. – Depois: - A seda branca fica muito bem em uma recém-casada. Concorda comigo, Helen? – E ainda: - Eu gosto do ruge-ruge do tafetá cinza-claro, mas creio que minha mulher vai achar um modelo tomara-que-caia muito ousado, para a sua modéstia.

Muito mais que uma hora havia se passado quando Anahí, não conseguindo mais se conter, protestou:

- Alfonso, por favor, não há necessidade de tanta extravagância... Vou levar anos para acabar com as roupas que você já comprou para mim!

- Mas você não vai usar esses vestidos até eles acabarem – Belinda disse, sentindo inveja da irmã, mas ao mesmo tempo contentíssima com o número de vestidos que Alfonso lhe dera de presente. – As esposas de homens multimilionários colocam de lado um guarda-roupa assim que acaba uma estação e surge uma nova moda. Aí, compram tudo de novo, de acordo com o que se está usando.

- Mas isso é um desperdício! – Anahí exclamou, chocada com o que acabara de ouvir e sentindo-se vagamente reconfortada pela lembrança de que sua posição, como esposa de Alfonso, era tão instável quanto a moda.

Provavelmente, nunca mais teria que passar por uma cena daquelas. Vencida pela determinação do marido de apresentar ao mundo a esposa mais bem vestida que podia haver, e pela vontade de Belinda, que só pensava em prolongar uma situação que estava lhe dando um tremendo lucro, Anahí recostou-se na poltrona, desanimada. Não conseguia imaginar onde poderia usar uma túnica de lamê dourado, com as calças combinando, quando voltasse para a casa do pai. Isso, sem falar no vestido de seda preta, que tinha um decote assustadoramente baixo, nas costas; nos incontáveis terninhos de veludo, seda e linho; nas inúmeras camisas de seda pura; e nos maravilhosos acessórios que acompanhavam cada um daqueles trajes.

Na verdade, em casa só poderia usar os vestidos de algodão, próprios para o dia. Quando Alfonso insistiu em ouvir nos mínimos detalhes a descrição de uma coleção inteira de lingerie, a hora de seu encontro com Nikos já havia passado há muito tempo. Com esperanças de que o paciente criado grego ainda não tivesse ido embora, e convencida de que já tinham visto tudo o que a loja possuía, Anahí resolveu usar o calor do meio ambiente como desculpa para escapar.

- Alfonso, preciso sair para respirar um pouco de ar puro. Está tão abafado aqui!

Mas, para seu desespero, Helen ouviu suas palavras e sentiu-se ofendida.

- Sinto muito – ela pediu desculpas cerimoniosamente – eu não havia percebido que você estava se sentindo mal. Ligamos o ar condicionado nesse ponto, porque geralmente a umidade estraga a maquilagem das garotas que desfilam a coleção. Vou dar ordens para que ele seja reajustado.

- Oh, mas eu não... – Anahí disse, aborrecida, no momento em que Helen desaparecia por trás de uma cortina de veludo negro.

- Ainda bem que estamos a ponto de sair daqui, para irmos à seção de peles, dona mentirosa - comentou Alfonso, zombeteiro, junto à orelha da esposa. – Senão, com o ar condicionado ligado na refrigeração máxima, mais a frieza bem justificada de Helen, você correria o risco de se transformar numa pedrinha de gelo.

- Eu não gosto de peles – ela declarou com sinceridade.

- Mesmo assim, você não deve ser egoísta – ele falou. E traiu seu conhecimento do caráter de Belinda com as palavras que disse em seguida: - Sua irmã nunca a perdoaria, se tentasse privá-la das migalhas que caem da sua mesa.

Mesmo assim, Anahí sentiu que não devia abandonar a luta.

- Eu sei que você acha Belinda divertida e que prefere a companhia dela à minha. Então, por que não... – Ela interrompeu-se abruptamente, quando o viu levantar a cabeça de supetão.

A Substituta (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora